As altas nos preços da arroba já começam a chegar ao consumidor que está vendo seu bife no prato diminuir e, o pior, final do ano pode faltar carne!
O preço da carne vermelha disparou em todo o país e o principal motivo vem de fora. As altas demandas chinesas pela carne brasileira estão a todo vapor e os frigoríficos estão vendo os seus estoques esvaziando e o cenário já é preocupante para o mercado interno. A grande preocupação por causa das festas de fim de ano, onde o consumo é maior. Mas afinal de contas, pode faltar carne para o churrasco do fim de ano?
O preço alto encolheu o bife no prato do brasileiro. “Estou até perguntando o que aconteceu, por que aumentar desse tanto assim de uma vez”, disse a aposentada Júlia Barreto.
Em são Paulo, o preço do quilo da carne atingiu a máxima histórica de R$ 15,79 nesta segunda-feira (25). Segundo especialistas, o aumento das exportações para China, Rússia e Emirados Árabes foi o principal motivo da alta para o consumidor. O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo.
“Os grandes players como Argentina, Paraguai, Uruguai têm limites geográficos, problemas políticos. A Austrália é um grande player também, tem problemas naturais de seca, chuva e também já exporta 80% da sua produção. A União Europeia: alto custo de produção. O Brasil está para a produção de carne bovina assim como o Oriente Médio está para a produção de petróleo”, disse Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea).
O Brasil está para a produção de carne bovina assim como o Oriente Médio está para a produção de petróleo
Os frigoríficos estão enfrentando dificuldades em completar as escalas de abate, fato justificado pelas altas nos preços da arroba e menor disponibilidade de animais prontos para o abate. Atrelado a esse movimento, o consumidor final no mercado interno, já começou a sentir as altas nos preços da carne e também a falta do produto em alguns pontos.
Além disso, o período de estiagem, mais longo em 2019, deixou o pasto seco, que não engordou o gado e colocou ainda mais pressão no mercado. Some-se a isso o aumento das exportações de carne bovina, impulsionadas pelas compras chinesas, cuja demanda cresceu por causa do surto de peste suína africana, e pela ampliação de mercados. Dias atrás, o Brasil habilitou mais 13 frigoríficos para exportar para a China, além de oito para a Arábia Saudita.
“O movimento especulativo que os produtores, na expectativa de que o preço aumente, acabam segurando um pouco mais esse gado, demorando um pouco mais para enviar esse animal para o abate”, explicou Rodrigo Coelho, gerente de exportação de frigorífico.
Final de ano e o consumidor espera mesmo que o preço da carne suba por causa das festas de confraternização. Mas estava acostumado com um aumento de até 10%. Só que subiu bem mais que isso e foi além do que cabe no bolso de muito brasileiro.
O preço do quilo da carne subiu em média 20% em novembro na comparação com setembro deste ano.
“A gente vai ter que trabalhar bastante, suar a camisa aí para conseguir trazer um preço mais acessível ao consumidor. Mas, sem dúvida, o preço que era no passado, esse não volta nunca mais não”, afirmou Rafael Pecioli, que é dono de açougue.
Os consumidores brasileiros podem enfrentar desabastecimento de carne bovina neste fim de ano. Além da disparada dos preços, há a possibilidade de escassez do produto em supermercados e açougues.
O aviso foi dado, dias atrás, por um dos maiores frigoríficos do país aos seus clientes: “Pensem uma maneira de estocarem as mercadorias [cortes] mais concorridas, pois este final de ano será atípico. Todo os frigoríficos do Brasil estão com dificuldades em terem seus estoques reabastecidos.”
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“A gente vai equilibrando, né. Compra menos, compra uma carne mais barata”, diz o bancário Marcelo Gomes.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse nesta segunda (25) que os preços ficaram estáveis por muito tempo e que os produtores vivem um momento de euforia, mas que o mercado vai se equilibrar. E que, mesmo sendo um grande exportador, o Brasil poderá importar carne.
Já há supermercadistas se prevenindo em relação a um possível desabastecimento de carne bovina em algumas regiões do país. Há alguns dias, o dono de uma rede de supermercados pediu a um frigorífico que enviasse tudo que pudesse de cortes de bovinos, sem se preocupar com a cotação.
Há informes de que neste fim de semana alguns frigoríficos do centro do país teriam cancelado, momentaneamente, as vendas de carne bovina no mercado interno.