Pragas no armazenamento de grãos: Aprenda a identificar e combatê-las

A presença de pragas no armazenamento de grãos tem um impacto severo na qualidade dos produtos, podendo, em muitos casos, inviabilizar lotes inteiros. Um exemplo clássico é o do trigo: moinhos rejeitam lotes que apresentam sinais de infestação, já que a presença de insetos compromete diretamente a qualidade da farinha.

O armazenamento correto de grãos é um dos pilares essenciais para garantir a preservação da qualidade e evitar perdas substanciais na produção agrícola. No entanto, esse processo enfrenta diversos desafios, sendo os fatores bióticos, como insetos pragas, um dos maiores vilões durante o período pós-colheita. Esses organismos são responsáveis por causar sérios danos à integridade dos grãos, comprometendo não apenas a quantidade, mas também a qualidade do produto final.

De acordo com dados da FAO/ONU e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as perdas anuais de grãos devido a pragas chegam a aproximadamente 10% do total produzido. Esse número é alarmante, pois além das perdas quantitativas, o ataque de pragas pode inviabilizar lotes inteiros, gerando grandes prejuízos para os produtores.

Impacto das pragas no armazenamento de grãos

A presença de pragas no armazenamento de grãos tem um impacto severo na qualidade dos produtos, podendo, em muitos casos, inviabilizar lotes inteiros. Um exemplo clássico é o do trigo: moinhos rejeitam lotes que apresentam sinais de infestação, já que a presença de insetos compromete diretamente a qualidade da farinha. Esse tipo de contaminação afeta a consistência e o sabor dos produtos derivados, como pães e massas, tornando o lote completamente inadequado para o uso industrial e causando desperdícios que prejudicam toda a cadeia produtiva.

Do ponto de vista econômico, as pragas representam um golpe direto na rentabilidade dos produtores. As perdas não se limitam apenas à quantidade de grãos, que pode ser reduzida em até 10% por ano, segundo a FAO/ONU e o MAPA. O prejuízo qualitativo, quando os grãos não atendem aos padrões exigidos pelo mercado, eleva os danos financeiros. Ao enfrentar uma infestação, o produtor não apenas vê o volume de sua colheita comprometido, mas também o valor de venda, que é drasticamente reduzido ou, em alguns casos, completamente eliminado.

Pragas no armazenamento de grãos: Identifique as principais e aprenda a combatê-las
Foto: Divulgação

Classificação das pragas: primárias e secundárias

As pragas que afetam o armazenamento de grãos podem ser classificadas em duas categorias principais: primárias e secundárias, de acordo com seus hábitos alimentares e modo de ataque.

Pragas primárias

As pragas primárias são aquelas que atacam grãos inteiros e saudáveis, tanto internamente quanto externamente. Esses insetos conseguem perfurar a casca dos grãos para se alimentar e completar seu ciclo de vida, causando grandes prejuízos logo no início do armazenamento. Entre as pragas mais comuns e devastadoras, destacam-se os besouros Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae e Sitophilus zeamais. Esses insetos são capazes de se alimentar do conteúdo interno dos grãos, deteriorando-os rapidamente e criando condições favoráveis para a infestação de outras pragas e microrganismos.

Pragas secundárias

Diferentemente das primárias, as pragas secundárias atacam grãos que já estão danificados, seja por quebra mecânica ou por infestação de pragas primárias. Embora não consigam penetrar grãos intactos, a presença dessas pragas multiplica os danos, pois elas se reproduzem rapidamente e comprometem o restante da produção armazenada. Exemplos típicos incluem o Cryptolestes ferrugineus, o Oryzaephilus surinamensis e o Tribolium castaneum. Essas espécies de besouros, de corpo achatado e tamanho reduzido, conseguem se infiltrar em pequenas trincas nos grãos e se proliferam em ambientes de alta umidade, tornando o controle dessas pragas um desafio constante.

Principais pragas que afetam os grãos armazenados

O armazenamento inadequado de grãos está sujeito ao ataque de diversas pragas, sendo os coleópteros (besouros) e os lepidópteros (traças) os principais responsáveis pelas perdas de qualidade e quantidade. Essas pragas se diferenciam em suas formas de ataque, ciclo de vida e impacto nos grãos.

Coleópteros (besouros)

  • Família Curculionidae: Essa família de insetos inclui dois dos gorgulhos mais comuns no armazenamento de grãos: Sitophilus zeamais (gorgulho do milho) e Sitophilus oryzae (gorgulho do arroz). Esses besouros apresentam um prolongamento cefálico, conhecido como rostro, utilizado para perfurar os grãos e depositar seus ovos no interior. Cada fêmea pode colocar cerca de 150 ovos ao longo de seu ciclo de vida, que dura aproximadamente um ano. Os gorgulhos se alimentam do conteúdo interno dos grãos, causando a perda de peso e qualidade nutricional, além de permitir a entrada de outros microrganismos.
  • Família Bostrichidae: Um dos representantes mais nocivos dessa família é a Rhyzopertha dominica. Inicialmente uma praga de madeira, esse besouro se adaptou a atacar grãos armazenados, especialmente em regiões de clima quente. Com pernas curtas e movimento lento, a R. dominica é capaz de afetar grãos tanto antes quanto após a colheita. Sua alta taxa de reprodução é um desafio, com fêmeas depositando até 400 ovos em cada ciclo. A praga pode completar até sete gerações por ano, destruindo os grãos de maneira significativa.
  • Família Cucujidae: O Cryptolestes ferrugineus é um exemplo de praga secundária que, embora não ataque grãos inteiros, causa grandes danos ao se alimentar de grãos já danificados por pragas primárias. Com corpo achatado e pequeno, ele é capaz de penetrar nas menores fissuras dos grãos. Sua presença está frequentemente associada a infestações anteriores, exacerbando a degradação do lote.
  • Família Silvanidae: O Oryzaephilus surinamensis, conhecido como besouro-serrador, tem entre 2 e 4 mm de comprimento e corpo alongado e achatado. Ele prolifera em ambientes de alta umidade (32,5°C a 35°C) e umidade relativa de 90%, características comuns em silos mal ventilados. Essa praga secundária deposita seus ovos entre os grãos, facilitando a degradação de lotes contaminados por pragas primárias.
  • Família Tenebrionidae: O Tribolium castaneum, também conhecido como besouro-vermelho, é altamente adaptado a ambientes de baixa umidade, o que o torna uma praga persistente em locais secos. Com um ciclo reprodutivo que pode ser concluído em cerca de 21 dias, essa praga tem coloração castanho-avermelhada e mede entre 3 e 4 mm de comprimento. Sua capacidade de sobreviver em condições adversas a torna uma das pragas mais difíceis de controlar.

Lepidópteros (traças)

  • Família Pyralidae: Entre os lepidópteros, a Plodia interpunctella, também conhecida como traça-dos-cereais, é uma das pragas mais comuns em grãos destinados à moagem. Os adultos têm cerca de 18 mm de envergadura, e as fêmeas podem depositar entre 100 e 500 ovos, que são colocados em grupos ou isoladamente sobre os grãos. A P. interpunctella prefere infestar a superfície dos silos ou sacos de grãos armazenados, onde suas larvas se alimentam da parte externa dos grãos, comprometendo sua qualidade e provocando perdas econômicas substanciais.

Estratégias de combate e prevenção das pragas

Pragas no armazenamento de grãos: Identifique as principais e aprenda a combatê-las
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O combate às pragas no armazenamento de grãos requer uma abordagem multifacetada, que envolve desde práticas preventivas até o uso de tecnologias avançadas. Conhecer as principais pragas e suas características permite que os produtores adotem medidas mais eficazes, evitando perdas significativas.

Métodos de prevenção

  • Boas práticas de manejo e higienização: A primeira linha de defesa contra as pragas é a higienização rigorosa dos silos e armazéns antes e depois de cada ciclo de armazenamento. A remoção de resíduos de grãos, poeira e outros materiais orgânicos que possam servir de abrigo ou alimento para pragas é fundamental. O manejo correto dos grãos desde a colheita até o armazenamento também contribui para reduzir a incidência de infestações.
  • Controle de temperatura e umidade: A maioria das pragas se desenvolve rapidamente em ambientes quentes e úmidos. Por isso, controlar a temperatura e a umidade dos silos é essencial. Manter a temperatura abaixo de 20°C e a umidade relativa do ar inferior a 70% são condições que dificultam a proliferação de insetos e fungos. Isso pode ser feito por meio da ventilação controlada e da secagem adequada dos grãos antes do armazenamento.

Métodos de combate

  • Fumigação e uso de produtos químicos: Quando a prevenção não é suficiente, a fumigação é uma das técnicas mais utilizadas para o controle de pragas. Substâncias como o fosfeto de alumínio são aplicadas nos silos para eliminar insetos em todos os estágios de vida. Embora eficaz, a fumigação deve ser realizada por profissionais capacitados, devido aos riscos à saúde humana e ao meio ambiente. O uso de inseticidas também é uma opção, mas deve ser controlado para evitar a contaminação dos grãos.
  • Armadilhas e controle biológico: Armadilhas físicas e feromônicas são ferramentas úteis no monitoramento e captura de pragas, especialmente nos estágios iniciais da infestação. Outra estratégia promissora é o controle biológico, que envolve a utilização de inimigos naturais das pragas, como parasitoides e predadores, para manter as populações de insetos sob controle. Esse método é ecologicamente sustentável e pode reduzir a dependência de produtos químicos.

Novas tecnologias

  • Soluções tecnológicas: Com o avanço da tecnologia, surgiram diversas ferramentas que auxiliam no monitoramento e controle de pragas em tempo real. Sensores que medem temperatura, umidade e até a presença de gases emitidos por pragas estão sendo implementados em silos e armazéns, permitindo a detecção precoce de infestações. Essas soluções oferecem um acompanhamento contínuo, possibilitando que os produtores ajam de maneira rápida e precisa, minimizando perdas.

Em suma, compreender o comportamento das pragas e suas características é essencial para aplicar medidas de controle eficazes. Desde a prevenção com boas práticas de manejo e controle de temperatura até o combate com fumigação e novas tecnologias, todas as estratégias devem ser integradas para garantir o sucesso no armazenamento de grãos. A vigilância constante é crucial, já que uma infestação não tratada a tempo pode comprometer toda a produção. Somente com uma abordagem contínua e rigorosa é possível preservar a integridade e a qualidade dos grãos armazenados, assegurando a rentabilidade do produtor e a sustentabilidade da cadeia agrícola.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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