‘Por que o boi gordo caiu 19% e vaca parida 50%’; especialista da PNM Trading analisa ciclo pecuário e queda dos preços da arroba
Fêmeas superam 51% do abate de bovinos no Mato Grosso – Conforme números do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), do total de animais enviados para a indústria 51,29% eram fêmeas, enquanto machos representaram 48,71%. O incremento no abate total de fêmeas foi impulsionado pela maior oferta de fêmeas com até 24 meses, bem como acima de 36 meses. Chegou a 16,22% o aumento se comparado a janeiro de 2023, e 6,11% nos envios, respectivamente.
Esse maior número de fêmeas abatidas dá-se pela inversão do ciclo pecuário no Brasil. Uma pergunta que está sendo feita no mercado pecuário é “por que que o preço do boi gordo caiu em média 19% e de uma vaca parida caiu mais de 50%?”. Para responder essa pergunta nós consultamos o zootecnista Fabiano Tavares, da PNM Trading, especialista e trader da bolsa de valores (B3).
Segundo Tavares existem três fatores que são importantes para entender esta questão. “Primeiro, o ciclo de baixa. Normalmente no ciclo de baixa os preços estabilizam ou caem. O segundo fator, e um dos mais importantes, é que antes – em outros ciclos de baixa – podia-se alugar (arrendar) terras do vizinho para dar uma aliviada nos pastos, entretanto essas terras se transformaram – em sua maioria – em lavouras de soja, e não estando mais disponíveis.”
“O terceiro fator, foi que no último ciclo de alta – houve uma retenção de fêmeas absurda, ou seja, seguraram muitas fêmeas, e essas fêmeas ficaram em pastagens, não indo para terras [que estavam sendo utilizadas para o plantio de soja]. E, desta forma, sobrecarregaram as passagens, as chuvas deste ano vieram, mas as passagens não saíram. E, então, muita gente precisou vender animais no momento de ciclo de baixa e na falta de pasto”.
O especialista acrescenta – “Esse movimento aconteceu ao mesmo tempo para o mercado, e assim, os compradores – que muitas vezes compravam para colocar na terra alugada ou na terra própria – também não tinha um pasto e, assim, aconteceu talvez a maior queda da história da pecuária em relação a preço de fêmea”.
Mas, afinal, qual a importância do ciclo pecuário para o planejamento 2023?
O ciclo pecuário, conforme detalha Fabiano Tavares, “é a força mais importante da pecuária e não adianta pensar que dessa vez vai ser diferente, porque não vai. Nós tivemos um ciclo de alta até final de 2021, já em 2022 começou um ciclo de baixa, o qual vai se estender, provavelmente, até algum momento do ano de 2024”.
O especialista foi questionado sobre a entrada da soja, que está disputando espaço com o pasto das vacas, e ainda, sobre o mercado chinês, que tem comprado mais de carne brasileira. Ele acredita que “não vai faltar carne”.
“O ciclo pecuário é muito forte, recuperou três anos seguidos – agora houve a maior retenção de fêmea da história, não mataram fêmeas, e, como temos alertado, quem faz o preço do boi no gancho é a fêmea. Resumidamente: com maior oferta de fêmeas indo para o gancho, o preço da arroba do boi cai, não havendo oferta, o boi sobe. Estamos definitivamente no ciclo de baixo, muitas pessoas estão mantando fêmeas e este ano vai ter muita fêmea no gancho, e é muito provável que o boi não tenha altas expressivas no ano de 2023”, finaliza.
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