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A notícia de que o Brasil finalmente irá exportar carne bovina para o Japão é um marco para o setor
Quem acompanha a pecuária sabe que não se trata apenas de abrir um novo mercado: estamos falando de um dos países mais exigentes do mundo quando se trata de qualidade, segurança alimentar e rastreabilidade. Dominado pelos Estados Unidos e Austrália, que conseguem atender a esses padrões, conquistar o mercado japonês é um reconhecimento significativo para a evolução da produção brasileira.
Falo isso com conhecimento de causa. Trabalhei na Austrália, em confinamentos cuja produção eram 100% voltadas ao Japão. Foi ali que tive contato de perto com os critérios rigorosos que o país exige para aceitar a carne que importa. A nutrição dos animais seguia protocolos específicos, garantindo que a carne tivesse exatamente o marmoreio esperado pelo consumidor japonês. Além, é claro, os criadores de onde eram originados os animais precisavam oferecer animais padronizados e selecionados a dedo pelo time de originação.
O Japão possui um dos sistemas mais sofisticados do mundo para o monitoramento da produção pecuária, com um Número de Identificação Individual para cada animal, garantindo transparência ao longo da cadeia produtiva, desde o nascimento até a venda ao consumidor final. A exigência assegura a segurança alimentar e fortalece a confiança do consumidor japonês na procedência do produto.
Ainda não sabemos quais protocolos serão adotados para a carne brasileira a ser exportada, mas olhando para nossa pecuária, não há dúvidas de que evoluímos muito nos últimos anos. Por muito tempo, nossa produção já foi mais voltada para volume do que para qualidade. Isso mudou. O país avançou em genética, nutrição, manejo e rastreabilidade, o que nos permitiu chegar ao nível necessário para atender mercados exigentes.
O Japão é um mercado estratégico, sendo o sétimo maior importador global de carne bovina, com cerca de 700 mil toneladas ao ano – o que equivale a 57% de seu consumo interno, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Já o Itamaraty aponta uma participação ainda maior, estimando que 70% da carne consumida no país seja importada, movimentando entre US$ 3 e US$ 4 bilhões por ano. A oportunidade tem um potencial gigante, mas também traz à tona a necessidade de garantir um fornecimento consistente e competitivo.
A mecanização tem ajudado muito a garantir mais eficiência e padronização na produção, assim como aumentar a taxa de desfrute do rebanho. Hoje, contamos com equipamentos que permitem um controle mais preciso da alimentação do rebanho, o que reflete diretamente na qualidade e sabor da carne. Sistemas de mistura e distribuição de ração, por exemplo, reduzem o desperdício e garantem que os animais recebam uma dieta balanceada, sem variações. Adotar práticas de manejo de excelência na produção é essencial quando se busca atender a padrões rigorosos como os do Japão.
Mas se queremos realmente consolidar essa nova fase da pecuária brasileira, é preciso ir além. A rastreabilidade precisa ser mais ampla e eficiente, para que todo o processo, desde a fazenda até o frigorífico, seja transparente e confiável. Precisamos garantir que a carne que sair daqui chegará ao Japão sem risco de interrupções por questões sanitárias.
E, acima de tudo, devemos entender que esse mercado não quer apenas um produto de qualidade — ele quer consistência. Isso significa que não basta conseguir exportar um primeiro lote para o Japão. Há o desafio de garantir que a carne brasileira mantenha o padrão exigido a longo prazo, sem falhas.
Para o pecuarista brasileiro, essa abertura de mercado pode ser um grande incentivo para investir ainda mais em qualidade. O consumidor japonês paga mais por um produto premium e, se soubermos aproveitar essa oportunidade, podemos fortalecer ainda mais a pecuária nacional. Os preços de exportação para o Japão são cerca de 29% mais altos do que a média da carne bovina brasileira, o que pode trazer ganhos expressivos para os produtores. Mas isso exige comprometimento com boas práticas, tecnologia e, principalmente, uma visão estratégica de longo prazo.
A entrada no Japão é uma vitória para o setor, mas não um ponto final. Pelo contrário, é o começo de uma nova etapa que exigirá ainda mais profissionalismo e rigor. Agora, cabe a nós mostrar que o Brasil está realmente preparado para o desafio.
Fonte: Jaqueline Casale Pizzolato é zootecnista, diretora comercial e de marketing da Casale, empresa de equipamentos para pecuária. Com experiência internacional no setor, já trabalhou na JBS Austrália, Minerva Foods e BRF.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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