Muitos agropecuaristas querem iniciar a implantação da Integração Lavoura Pecuária (ILP) e quando se deparam com tantas opções disponíveis de arranjos da tecnologia, se perguntam, qual será a melhor?
por William Marchió
Esta decisão de escolha do arranjo inicial não é simples.
É muito bom quando podemos contar com a ajuda de um profissional com conhecimento em integração para o alívio de nossas principais angústias.
Mas vamos tentar levantar aqui algumas questões relevantes que deverão ser consideradas nessas escolhas.
Primeira questão, eu sou pecuarista ou agricultor?
Se você se fez esta pergunta, infelizmente não foi um bom começo.
Agora se você se considera um produtor rural, aí já temos uma grande chance desta integração dar certo.
Digo isto pois escuto muito esta dicotomia, que infelizmente, no Brasil não é só privilégio do agro, o tal de “nós e eles”, nós pecuaristas, eles agricultores, nós palmeirenses e eles corintianos, como se tudo fosse um jogo de futebol, e na fazenda a equipe de agricultura odeia a da pecuária e vice versa, o trator não respeita as cercas, o gado sempre invade a lavoura, as porteiras nunca param fechadas, enfim uma eterna briga de torcidas.
O produtor rural, ou ainda melhor o empresário rural, deve buscar estratégias que mantenham sua empresa rural rentável, perene e sustentável em seu sentido mais amplo, econômica, ambiental e socialmente.
Passando esta fase de identidade de “gênero”, o produtor rural tem que refletir qual a alternativa de arranjo será mais adequada tecnicamente e, que lhe trará resultado econômico e que, ao mesmo tempo, seja relativamente fácil de se implementar em um primeiro momento.
É muito importante termos resultados logo no início, isso motiva a equipe e fica mais fácil avançar para as ações mais desafiadoras.
Como para alguns produtores cujo parque de máquinas é restrito e a agricultura está se iniciando apenas para a reforma de pastos, o comum é a terceirização destas atividades agrícolas em um primeiro momento.
Também, é comum o pecuarista utilizar do milho consorciado com braquiária ou panicum em sua primeira investida agrícola, apesar de não ser a melhor alternativa técnica para um solo pobre e degradado, é normalmente a cultura que lhe é mais familiar e que em muitos casos passa a ser a silagem que servirá aos animais naquela seca, ou virar dinheiro com sua comercialização. Ficando a “reforma” da pastagem sendo bancada por esta cultura de grãos. Também é mais fácil conseguir um vizinho que possui uma “plantadeirinha” de milho e que venha fazer o serviço.
Já a soja, não é familiar à maioria dos pecuaristas, mesmo sendo uma leguminosa ideal para se realizar a rotação com a gramínea degradada, em muitas regiões não será possível conseguir um parceiro para terceirizar ou até arrendar as áreas, também não há alternativa para utilização pelo gado da produção de soja, o grão tem que ir para um armazém a daí ser comercializado, diferente do milho que pode ir até para o paiol.
Claro, estamos pensando neste primeiro momento em produtores de pequeno e médio porte, que são a maioria do nosso país, e que querem se utilizar da integração como ferramenta de melhoria de renda e intensificação sustentável de suas atividades agropecuárias.
Em nosso país, temos uma enorme amplitude cultural tecnológica, edafoclimática e hoje existem arranjos de ILP capazes de serem aplicados em todos estes cenários, inclusive soluções muito interessantes que a Embrapa desenvolve até para o Semiárido Brasileiro.
Neste texto, vamos abordar alguns dos arranjos principais e o porquê de sua adoção.
1. (Soja) – (Milho safrinha + Braquiária ruziziensis) – (Pastagem + Boi) – (palhada + dessecação) – (Milho + Braquiária brizantha) – Pastagem por 2 a 3 anos e retorno da soja.
Este talvez podemos chamar de modelo “Clássico para o Cerrado”.
Partindo-se de uma pastagem degradada se realizam as análises de solo, a correção com calcário, gesso e fósforo com antecedência e o plantio de soja, que no centro oeste se dá em meados de outubro/novembro, em seguida com a colheita em fevereiro/março, realiza-se o plantio de milho safrinha consorciado com braquiária ruziziensis (espécie de fácil germinação e fácil controle), após a colheita da silagem ou do milho grão temos a pastagem para entrar a “safra de boi”, na sequência em meados de setembro/outubro se retiram os animais e com o rebrote temos a palhada em ponto para a dessecação e novo plantio que normalmente se faz de milho para a rotação de cultura, este milho consorciado com braquiária brizantha, pois em alguns casos esta pastagem vai se perenizar por 2 a 3 anos, quando retornamos novamente com a cultura de soja nesta área.
Com os excelentes resultados das commodities dos últimos dez anos, a maioria dos produtores tem apenas utilizado a pastagem como rotação de cultura e deixando o pasto se perenizar com o objetivo de produzir mais grãos nas áreas agricultáveis, e mantendo seus animais em pastagens permanentes em áreas não agricultáveis ou utilizando pastagens apenas na entressafra.
2. (Milho + Braquiária brizantha) – (Pastagem + Boi) – Pastagem por 4 a 5 anos e retorno do milho reformando pasto.
Este é um arranjo mais adotado por pecuaristas de pequeno e médio porte, principalmente os que já tinham alguma experiência com silagem.
Com este arranjo, a lavoura de milho vai rodando a fazenda e reformando as pastagens a um custo muito baixo ou quase nulo, pelo fato de que o milho ou silagem obtido com a cultura, passa a ser componente da dieta dos animais e baratear ainda mais o custo desta arroba produzida.
3. Soja e sobre semeadura de ruziziensis
Este modelo é comumente utilizado em regiões onde o clima não permite o plantio da safrinha ou onde o custo benefício da safrinha é inferior a se ter uma pastagem logo após à colheita de soja e com isso um maior período de pastoreio na época de seca.
Regiões como o sul de Goiás, sul do Tocantins e no MT, temos muitos produtores se utilizando deste arranjo.
No início este arranjo apresentava grandes dificuldades de implantação devido à má qualidade das sementes disponíveis e à necessidade do uso de avião. Agora, com a utilização de semeadoras adaptadas em pulverizadores e com a possibilidade da utilização de sementes puras, esta técnica passou a ser dominada com excelentes resultados.
4. Variantes destes arranjos.
A Integração Lavoura Pecuária e Floresta é uma tecnologia em plena evolução, como se trata de um sistema de produção com diferentes possibilidades de arranjos, a otimização é uma constante e sempre há espaço para o aprimoramento da tecnologia.
Dentro destes sistemas que enumeramos, todos possuem variações em sua utilização cotidiana. Atualmente contamos com diferentes espécies e variedades forrageiras que se adaptam adequadamente às diferentes regiões do país, temos diferentes espécies de Panicum, de braquiárias que compõem de forma interessante com o milho e com a soja em sobre semeadura. Isso vem permitindo o grande avanço na utilização da ILP e permitindo significativa melhoria das pastagens consorciadas.
Também a utilização de leguminosas nestes consórcios como o feijão guandu, o feijão caupi tem sido utilizada com propósitos amplos de melhoria do teor de proteína da pastagem e também aporte de nitrogênio nos solos.
Enfim, estamos assistindo ocorrer no meio rural algo que também tem ocorrido no meio urbano, a ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta) está passando a ser como uma “plataforma multiusuários” onde a colaboração entre produtores, pesquisadores e técnicos tem aprimorado a tecnologia de forma a atender às necessidades imediatas destes “usuários”, isso tem levado a tecnologia à uma velocidade maior de adoção e a uma adaptabilidade maior aos produtores de diferentes regiões do país e até do exterior.
As informações são da Scot Consultoria