Em enquete disponibilizada em seu site, a CRV Lagoa pediu para as pessoas opinarem “Qual a variável mais importante para o aumento da eficiência do seu rebanho?”
Enquete produzida recentemente pela central de inseminação traziam o surpreende resultado de que quase 40% dos votantes escolheram a opção “todas as opções”, faz sentido, porque não sentido escolher só uma variável, é necessário haver uma junção de todas elas. Aproveitando a oportunidade vamos dissertar abaixo sobre a importância de cada ponto sugerido pela central:
- Média de produção diária de leite;
- Conversão Alimentar;
- Longevidade.
A Pecuária leiteira no Brasil sempre foi tratado no modo romântico, e vem passando por grandes dificuldades, até gostamos de compartilhar um ditado aclamado por muitos produtores que “se produtor de leite fizesse as contas ele sairia da atividade”, mas muita coisa tem mudado, já falamos aqui sobre os pilares da gestão de pecuária de leite, uma ótima leitura para quem tá precisando gerir melhor a sua propriedade.
Média de produção diária de leite
O Brasil é um dos principais players globais na produção de grãos, carnes, entre outros produtos. Mas ainda engatinha quando o assunto é a pecuária leiteira. Enquanto os vizinhos Argentina e Uruguai registram uma produtividade média de 12 litros por vaca por dia e alguns países europeus ultrapassam 18 litros por vaca por dia, o Brasil apresenta a vexatória produtividade média de 4,4 litros de leite por animal, segundo dados do IBGE.
Segundo o produtor Egon Krüger, a fórmula de sucesso na pecuária leiteira é a soma de três fatores: alimentação, manejo e genética. “Não adianta ter a melhor vaca do mundo se não tiver comida. A genética vai responder na produção através da alimentação”, afirma o pecuarista.
Dessa forma, é importante salientar que a produção de leite é um sistema composto por engrenagens que devem estar sempre ajustadas, afim de conseguir não só uma boa produção diária de leite como também gerar sustentabilidade do sistema. Por que bater tanto nessa tecla? Simples. Imagina uma alta produção diária com um custo acima da margem permitida, teríamos então um declínio dessa propriedade em poucos meses, o que é muito comum no Brasil.
Quando falamos em produção diária, temos que levar em conta os fatores que englobam o bem estar animal, a qualidade genética dos animais, qualidade nutricional das dietas fornecidas, qualidade do leite produzido e a gerência da propriedade como um todo.
Fatores de aumento de produção leiteira
Os animais são resposta daquilo que lhes é fornecido. Sendo assim, vamos elencar algumas situações que vão fazer com que a média de produção de leite esteja abaixo do esperado:
Bem estar animal
Animal com estresse é um animal com alto índice de cortisol no organismo, esses hormônios fazem com que a produção de leite desse animal fique prejudica pois afetam o consumo de alimento e imunidade. A perda de produção de leite devido ao aumento de temperatura depende de fatores como a umidade relativa do ar, velocidade do vento, nutrição e outros fatores relacionados ao manejo. No entanto, são frequentemente observadas perdas produtivas de 10% ou mais (HEAD, 1995).
Higiene
Animais que se encontram em ambientes sujos, como por exemplo camas precárias ou pastos com muita lama, estão mais sujeitos a doenças oportunistas, como endo e ectoparasitas. Essas doenças influenciam na produção de leite, perda de peso, baixa conversão alimentar. Em um levantamento nacional, o Ministério da Agricultura estimou em 1 bilhão de dólares anuais os prejuízos causados pelo carrapato bovino no país, sendo 40% desse total relativo a diminuição da produção leiteira.
Mão de obra desqualificada
A influência do operador é muito grande, já que todos os manejos são realizados por operários. Desde a qualidade da mistura da ração até o simples manejo de condução do animal até a ordenha vão influenciar a produção de leite do animal.
Manejo inadequado desses animais
O manejo dos animas deve ser realizado da melhor forma possível e por parecer repetição do tema acima, estamos nesse tópico falando em relação a divisão de lotes, manejo reprodutivo com idade ao parto e persistência de lactação. Todos esses fatores vão definir a qualidade do úbere e da produção na lactação atual e futura desse animal.
Sanidade precária
A sanidade é algo que todo animal deve ter o seu cartão em dia. Perdas de produção por casqueamento incorreto ou ausente, infecções uterinas pós parto, mastite clínica e subclínica, dentre outros fatores, chegam a representar perdas de mais de 25% na produção diária do animal. De acordo com Roberta Züge, médica veterinária e conselheira no Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), o produtor de leite deve buscar garantir um ambiente sem riscos de contaminação e não deixar a área de produção com lama ou esterco, por exemplo. “Com a mastite, a composição do leite fica diferente, o animal produz menos e o produtor recebe menos. Mas, se o produtor fizer corretamente o manejo, ele evita perdas com a doença”, diz Roberta.
Dieta desbalanceada
A dieta representa em média 50% do custo de produção em uma produção de leite. Dessa forma, a sua influência para a produção de leite do animal não poderia ser menor, chegando a representar quase 100% do fator determinante na produção de leite do animal. Em sistemas com dieta total balanceada de forma correta e bem homogeneizada, permite que o animal possa ingerir os nutrientes necessários para expressar a sua potencialidade genética.
Além disso, não é novidade que um animal bem nutrido é sinônimo de animal livre de doenças. Segundo Krüger, um diferencial de sua fazenda é a utilização de uma misturadora, que garante oferecer aos animais uma ração mais homogênea, o que eleva a eficiência do consumo. O produtor conta que, após a aquisição do equipamento, em 2009, a produtividade aumentou cerca de 3 litros diários por vaca. “O que melhorou foi a mistura de todos os ingredientes para a vaca não ficar selecionando o que come”, diz o pecuarista. Segundo ele, o investimento para a aquisição da misturadora, de R$ 78 mil, valeu a pena. “A misturadora se pagou sozinha com o aumento da produtividade”, conta Krüger.
Gerência do sistema
Quando falamos que a gestão da propriedade é fator que influência na produção diária de leite, muitos acreditam que é mito, porém quando olhamos todos os tópicos listados acima, estes só poderão ser feitos com excelência se tivermos uma estrutura de assistência técnica e planejamento eficientes na propriedade.
Esses são problemas que podem ser reconhecidos se comparando o controle leiteiro do dia com o do dia anterior. As vacas em produção, são animais de extrema fragilidade e que respondem na sua produção o manejo que lhes é imposto.
Antes de finalizar, muitos devem estar se perguntando onde está o tópico sobre genética. Sim, a influência da genética na produção diária de leite é o principal fator, mas só terá papel importante quando for permitido ao animal expressar todo seu potencial. Quando falamos em melhoramento genético, as principais características genéticas que os pecuaristas buscam estão relacionadas ao volume de leite produzido, características que garantam um parto menos traumático e também a altura dos úberes.
Pesquisadores do Cepea explicam que as diferenças positivas das propriedades leiteiras com genética provada decorrem da combinação de maior produção por vaca, maior período de lactação, menor intervalo entre partos e também maior preço obtido pelo leite, entre outras vantagens comparativas.
Em resumo, a média de produção diária pode crescer de forma significativa na maior parte das propriedades brasileiras, se elas começarem a buscar a especialização do seu negócio através de técnicas simples.
Conversão Alimentar
Os produtores tem uma preocupação relacionada à lucratividade e concomitante aumento da eficiência da mão de obra nos sistemas produtivos (BOICHARD e BROCHARD, 2012). Informações relacionadas ao consumo de alimento pelos animais vêm sendo incluídas recentemente em programas de seleção de bovinos de leite com o objetivo de aumentar a eficiência alimentar.
Eficiência alimentar não é um conceito novo, e embora a pesquisa nesta área esteja aumentando, há uma infinidade de definições de eficiência alimentar, entre os quais a definição mais adequada para sistemas de produção de leite ainda é incerto (BERRY, 2009).
É conhecido hoje que existe uma diferença na eficiência de utilização dos nutrientes entre os animais que recebem uma dieta igual. As características de raça, sexo e idade acabam mudando a exigência por nutrientes e sua capacidade de converter isso em produtos comercializáveis.
Vamos listar alguns fatores que afetam a exigência nutricional e consequentemente o desempenho dos animais:
- Mudanças na exigência nutricional do animal, seja por qualquer fator.
- Digestibilidade da dieta fornecida
- Estresse por qualquer fator, desde ambiente até calor
- O período de lactação do animal, “dias em lactação”
- Sanidade, animais doentes tendem a ter uma menor ingestão de alimentos e capacidade de absorver os nutrientes.
A viabilidade dos sistemas de produção depende do manejo nutricional, já que a alimentação do rebanho é um dos itens mais representativos no custo de produção, chegando representar 50% do custo total. Um fenótipo de interesse relacionado com a eficiência da produção de leite é o consumo alimentar residual (CAR), que é uma medida da eficiência metabólica do animal. O CAR é definido como a diferença entre a ingestão real de matéria seca do animal e a ingestão de matéria seca esperada (ARTHUR e HERD, 2008).
O cálculo do CAR requer a estimativa da ingestão de matéria seca esperada, que pode ser predita a partir de dados de produção, utilizando as normas e padrões de alimentação (por exemplo, NRC, 2001), ou por regressão, utilizando dados de alimentação real do ensaio (ARTHUR et al., 2001). Animais eficientes têm valores mais baixos de CAR em relação àqueles menos eficientes. Portanto, no contexto de vacas leiteiras, aquelas com baixo CAR têm a capacidade de usar menos energia da dieta para a manutenção do corpo, visando alcançar nível equivalente de produção de leite. Evidentemente, é importante assegurar que estes animais metabolicamente mais eficientes não apresentem características indesejáveis de fertilidade, saúde e outras relacionadas à produção como tem sido descrito para vacas de alta produção.
A eficiência alimentar, em termos resumidos, é uma medida de como seus animais conseguem converter alimento ingerido em produto comercial: leite, carne e bezerros. Em termos mais amplos, esse índice nos aponta fatores da dieta, manejo e ambiente que afetam a digestibilidade dos alimentos e os requerimentos de manutenção do animal.
Quando avaliamos a eficiência da conversão de nutrientes fornecidos em produto final (leite), essa pode representar um ótimo elemento para verificar o retorno que você está tendo com o investimento realizado, ajudando na tomada de decisão e planejamento nutricional.
Em suma, a eficiência alimentar pode ser definida simplesmente como quantidade de leite produzida (em Kg) por Kg de matéria seca (MS) consumida. Entretanto, não é comum vermos o monitoramento da eficiência alimentar em sistemas de produção de leite.
Exemplo Rápido:
• Eficiência alimentar – Produção de leite dividido pela ingestão da dieta na matéria seca em 24 horas. Exemplo: Se um grupo de vacas produz 20 kg de leite e consumindo 15 kg de matéria seca = 20/15 = 1,33. A eficiência alimentar deste lote é 1,33. Significa que a cada 1 kg de alimentos na matéria seca que as vacas consomem se produz 1,33 kg de leite.
Existem três motivos principais para se olhar para a eficiência alimentar, segundo Mike Hutjens da universidade americana de Illinois: Ferramenta de olhar econômico, maneira de avaliar fatores de manejo e monitoria da função ruminal. Conclui-se que o aumento da eficiência alimentar pode resultar em reduções no consumo de alimentos, mantendo a produção de leite e o ganho de peso. Existe variação genética para CAR, sendo esta uma característica de média herdabilidade.
Longevidade
Antes de discutir o assunto, precisamos entender o significado de longevidade dentro do sistema de produção de leite. Para isso, a vida produtiva do animal ou longevidade é o tempo que a vaca passou leite e bezerros até o momento do seu descarte.
Sabemos que a lucratividade do sistema depende na sua maior parcela da produção de leite com qualidade e sustentabilidade, ou seja, é importante o número de meses que esse animal passou produzindo dentro do rebanho, já que esse fator afeta de forma direta a rentabilidade do sistema de produção.
Animais com vidas produtivas mais longas reduzem os custos de reposição e aumentam a proporção de lactações com maiores produtividades. Melhorar a longevidade do animal dentro do sistema de produção gera:
- Menor necessidade de reposição;
- Mais vacas maduras em produção, apresentando maior produção por vaca, pois a vaca produz mais a partir da segunda lactação;
- Menores gastos com saúde e com problemas reprodutivos.
De forma resumida, estamos dizendo que um animal que consegue permanecer durante um tempo maior expressando um potencial produtivo alto irá deixar um lucro líquido alto para a propriedade. Por que? Simples. Um animal desses estará diluindo as despesas que foram gastos durante as suas fases não produtivas: cria e recria.
Entretanto, quem está na lida do dia a dia, sabe que não é tão simples conseguir essa meta dentro dos rebanhos. Para tal, é preciso que o animal encontre as condições necessárias para poder expressar seu potencial genético para produção de leite. Esses fatores foram já foram supracitados. Dessa forma, o índice de animais que não conseguem o aporte necessário para alcançar essa longevidade é muito grande e o descarte no Brasil, por erro dos produtores, é alto. A perda no melhoramento genético por causa disso é próximo de 40%.
Entende-se por motivos para descarte dos animais, os seguintes fatores:
- Mastite;
- Problemas reprodutivos;
- Problemas de casco;
- Baixa produção, que na maior parte do tempo acaba sendo causada pelos fatores citados acima.
OBS.: Esses problemas citados acima, na maior parte estão relacionados a dietas desbalanceadas e manejo inadequado.
Dentro das fases que o animal produtivo passa, está o pré e pós parto (transição), esse período é extremamente crítico para o animal e de extremo cuidado para o produtor. Nesse estágio, o animal está passando por mudanças abruptas em seu sistema digestivo, reprodutivo e hormonal. Todos esses fatores irão determinar a produtividade e sanidade do animal durante a sua lactação, que por consequência determinara a sua longevidade dentro do sistema de produção.
Alguns pesquisadores estimam que uma em cada quatro vacas será descartada do rebanho ou morrerá até 50 dias depois do parto por problemas ligados ao período de transição.
Descartar é barato, e é uma potente ferramenta de manutenção elevada da produtividade e sanidade do rebanho. Para o Brasil, não! Na melhor das hipóteses, o descarte pagará 35% da reposição e, na pior, 20% da reposição.
Para finalizar, citamos alguns fatores que o animal apresenta para permanecer no rebanho:
- Produção de leite suficientemente lucrativa para evitar descarte voluntário por baixa produção;
- Boa reprodução para evitar descarte por falha reprodutiva;
- Resistência à mastite para não se tornar caso crônico;
- Estrutura de úbere, para este não se tornar penduloso favorecendo injúrias e dificultando a ordenha;
- Bom comportamento;
- Estrutura de perna, que não se deteriore com a idade ou devido a confinamento em concreto;
- Resistência a doenças, principalmente no período de transição.
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Bibliografias:
ARTHUR, P.F.; HERD, R.M Residual feed intake in beef cattle. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.269-279, 2008. (supl. especial).
A. Sewalem, F. Miglior, G. J. Kistemaker, P. Sullivan, B. J. Van Doormaal. Relationship Between Reproduction Traits and Functional Longevity in Canadian Dairy Cattle. Journal of Dairy Science, v.91, p.1660-1668, 2006.
Sewalem, et al.. Journal of Dairy Science v.89, p. 3609-3614. , 2006
Renato Palma Nogueira. Nutrição com ênfase na saúde e longevidade das vacas leiteiras. NFT Alliance, 2011
Usando a conformação para identificar funcionalidade em vacas de leite Fonte: Gordon Atkins, D.V.M., 2010
BERRY, D.P. 2009. Improving feed efficiency in cattle with residual feed intake. P.67–99 in Recent Advances in Animal Nutrition 2008. P. C. Garnsworthy and J. Wiseman, eds. Nottingham Univ. Press, Nottingham, UK.
BOICHARD, D. E BROCHARD, M. New phenotypes for new breeding goals in dairy cattle. The Animal Consortium, v.6, p. 544-550, 2012. doi:10.1017/S1751731112000018.