Animais mutilados foram encontrados a céu aberto e estavam jogados próximos a um rio e a um frigorífico
Conhecida pela forte produção pecuária, a cidade de Itapetinga, no interior da Bahia, virou cenário de uma situação triste. Após receberem denúncias de moradores da região, agentes da Polícia encontraram um local com grande número de jumentos mortos e já em fase de decomposição. Os animais estavam dentro e às margens do Rio Catolé Grande. Os donos dos animais mortos ainda não foram encontrados e devem responder por crime ambiental.
Segundo a ONG SOS Animais, os bichos tinham sinais de maus-tratos e mutilações. A entidade ainda aponta que a causa das mortes foi a desnutrição por falta de água e comida.
O número de cadáveres não foi revelado. O ‘cemitério de jumentos’ estava em um terreno próximo ao frigorífico Sudoeste, que obteve autorização para abater jumentos este ano. A carne o couro dos animais são exportados para a China, onde os produtos são encaminhados para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos. Éder Rezende, sócio proprietário do Frigorífico, disse à Globo Rural que a empresa é responsável apenas pelo abate de animais de compradores chineses que atuam na região, e que não teve nenhuma relação com as mortes.
“Eles [chineses] fazem o confinamento, que provavelmente não deu certo por falta de estrutura”, afirma. “Nós somos um frigorífico tradicional, nunca iríamos fazer algo para prejudicar os animais, a imagem da região e das famílias que trabalham com a gente.”
Rezende declarou ainda que a empresa abateu 2.100 jumentos em agosto, enchendo um contêiner que levou a carne processada e miúda para o mercado asiático. O couro fica em Itapetinga, e deve ser exportado em breve. Ele ainda explica que o local possui capacidade de abate para 500 animais por semana, pois o espaço de congelamento ainda é limitado. Até outubro, o frigorífico pretende ampliar a área para poder abater até 5 mil animais por mês, entre jumentos e cavalos.
_O sócio do frigorífico estima que cerca de 100 jumentos morreram. Ele também declara que a empresa enviou máquinas para ajudar na limpeza da região, e que os bichos que estavam vivos na propriedade – não na área dos mortos – já foram abatidos.
Estima-se que 2 mil jumentos, oriundos de outros estados do Nordeste, chegaram à Itapetinga para o abate já em situação frágil. A falta de abrigo contra o sol e chuvas, e a precariedade na alimentação pioram a condição de saúde dos bichos, defendem as entidades de proteção animal.
“Os animais estão morrendo de fome e sede, e a maioria são fêmeas em gestação estão abortando seus filhotes por estarem desnutridas e não conseguem levar a gestação adiante”, disse a SOS Animais de Itapetinga em um post nas redes sociais.
Na sexta-feira (31/8), a Polícia Civil e a Vigilância Sanitária fizeram uma perícia no local, em conjunto com a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADABA). Em nota, a prefeitura de Itapetinga declarou que “a Secretaria Municipal de Meio Ambiente inspecionou a área e fez intervenções importantes para a saúde pública e para o bem-estar dos animais”.
A prefeitura também liberou máquinas para realizar a limpeza do Rio Catolé, com a intenção de evitar possíveis infecções causadas pelos cadáveres em decomposição. O rio tem aproximadamente 80 km de extensão, passando por vários municípios baianos, e é comumente usado pelos habitantes para lazer, e outros usos.
Ainda segundo o comunicado, as carcaças foram retiradas do local e enterradas em valas com cal. “Para proteger os animais vivos, a administração municipal levou comida e água em carros pipa. A prefeitura de Itapetinga repudia toda e qualquer ação de maus tratos a animais ou que possa pôr em risco a saúde da população e segue atenta às questões do município, pronta para tomar as providências cabíveis ao poder público, visando o bem estar do povo.”
A nota oficial também divulgou que foi emitido um auto de infração e multa para a empresa que realiza o frete e transporte dos jumentos antes do abate.
O Ministério Público da Bahia está acompanhando o caso. Na terça-feira (4/9), o promotor Gean Carlos Leão enviou ofícios para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, ADAB e à Delegacia de Polícia local.
“O promotor requisitou à Secretaria que inspecione a propriedade rural Fazenda Barra da Nega para verificar eventual licenciamento da área destinada ao confinamento e o suposto dano ambiental acarretado pela morte dos animais e destinação inadequada das carcaças. Foi requisitado à Adab que inspecione a fazenda e o frigorífico Sudoeste para averiguar as condições sanitárias dos animais, identificando eventuais irregularidades. À Delegacia, o promotor solicita que seja encaminhada cópia do Boletim de Ocorrência em que foram registrados os maus-tratos a que estariam submetidos os jumentos na Fazenda Barra da Nega”, diz a nota do MP-BA.
A ONG SOS Animais de Itapetinga esteve na região do caso na segunda-feira (3/9), e publicou um vídeo que mostra um jumento ainda vivo e agonizando perto das carcaças. “Queremos que os órgãos responsáveis pela fiscalização cobre e puna os responsáveis por isso, milhares de vida já foram ceifadas da maneira mais cruel possível. Chineses estão exportando carne de jumentos para fora do país e como a demanda foi muito maior, esses jumentos ficam em uma área arrendada por eles enquanto esperam ser abatidos”, afirmou a entidade, alegando que os donos do frigorífico são chineses.
Solange Oliveira, voluntária na ONG, conta que viu fêmeas agonizando e sofrendo abortos na área do confinamento. “A única coisa que precisavam era de água e comida para sobreviver, e ninguém fez nada”, lamenta. “Uma situação horrível.”
De acordo com Oliveira, nesta quarta-feira (5/9), outros voluntários da entidade visitaram o local e perceberam que o número de jumentos vivos diminuiu, pois foram encaminhados para o abate.
“Eles abatarem animais doentes e fêmeas grávidas. Eles vão resolver assim, matando todos os animais”, comenta.
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Fonte: Globo Rural