Próxima safra brasileira de milho sob riscos, um dos principais fatores para a preocupação foi o alto custo dos insumos; desencontro de números da safra de milho também preocupam
Aumento de custos de insumos e estreita janela para plantio prejudicarão a próxima safra brasileira de milho. A preocupação foi manifestada nesta semana, em Brasília, durante reunião convocada pelo Ministério da Agricultura com as Câmaras Setorais da Soja e do Milho e coordenada pelo secretário nacional de política agrícola, Nery Geller. “Poderemos ter um apagão de milho no País este ano”, advertiu o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) e da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), Enori Barbieri.
O objetivo era fazer um levantamento em todos os estados sobre os resultados das perdas ocasionadas pela estiagem (do sudeste para cima) e pelo excesso de chuva (no sul do Brasil). Barbieri relatou a situação de Santa Catarina. No território barriga-verde as perdas de produção foram avaliadas na ordem de 15% em relação à safra do ano passado para as culturas da soja e do milho. “Nós diríamos que as perdas de Santa Catarina estão no nível das perdas nacionais, onde todos os produtores e entidades do Brasil relataram que as perdas da soja estariam na ordem de 15% a 20% em relação à grande safra do ano passado.”
A questão do milho é muito mais preocupante do que a soja porque, além das perdas ocasionadas, há um problema de janela de plantio. O milho da safrinha é plantado após a colheita da soja. Em decorrência do atraso do plantio da soja no Mato Grosso (maior produtor brasileiro e maior produtor brasileiro de milho de safrinha), o plantio da época do milho ficou bastante restrito. Em consequência desse encurtamento da janela há dúvida sobre o tamanho da safra brasileira de milho. “Para nós catarinenses são muito importantes esses números, porque o estado de Santa Catarina depende da importação de quase 6 milhões de toneladas de milho, das 8 milhões que ele consome para o sistema agroindustrial de proteína animal”.
A Faesc e demais entidades do agronegócio apuraram que produtores do centro-oeste brasileiro teriam manifestado a intenção de reduzir a área de plantio no Mato Grosso, principalmente, em função desse pequeno espaço de tempo que está sobrando entre o plantio da soja (que está sendo colhida) e o plantio do milho (que deveria estar sendo preparado).
Barbieri assinala que essa possibilidade “preocupa muito Santa Catarina”. O Brasil estima uma safra de milho – já deduzidas as perdas ocasionadas pela demora de plantio, estiagem e excesso de chuva – em torno de 115 milhões de toneladas. A safra do ano passado foi de 130 milhões de toneladas. Ocorre que 90% da safra de milho brasileira estão para ser plantada. O Brasil consome 80 milhões de toneladas de milho por ano (das quais 8 milhões Santa Catarina) para fazer girar a agroindústria.
Custos dos insumos
Os custos dos insumos também foram assunto da pauta. Ao contrário do que pensavam os produtores, a safra brasileira que está sendo plantada enfrenta custos em alta de insumos. Relatório técnico apresentado pelo Ministério confirma custos maiores do que a safra anterior. “Estamos enfrentando um desequilíbrio porque estamos tendo um custo maior do que a safra anterior, tendo preços futuros sendo projetados praticamente 40% abaixo do ano passado.”
O dirigente expõe que esses números são assustadores porque retiram toda a viabilidade das duas culturas. “Simplesmente aqueles que tiveram uma colheita boa, que seria soja em torno de 50, 60 sacos por hectare, teriam condições de quitar o custeio, não os custos de investimento. Aqueles que colherem abaixo disso certamente terão prejuízo. Na questão do milho é um pouco mais grave porque os custos do milho apresentado para o plantio da safra requerem uma colheita acima de 100 sacos por hectare de média e com preços superiores a R$ 70,00 a saca. O preço gira hoje em torno de R $ 50,00 a saca.”
O caso da soja é muito mais grave. Nunca a soja esteve tão baixa como este ano. Hoje no Mato Grosso estima-se a soja sendo vendida abaixo de R$ 100,00 a saca. Na safra passada, no início da colheita, os preços iam até R$ 200,00 a saca.
Para o enfrentamento desse cenário foram solicitadas várias ações do Governo Federal no âmbito de políticas agrícolas que possam reverter a tendência de não plantar de grande parcela dos produtores rurais brasileiros. As entidades do agronegócio insistiram para que o Ministério da Agricultura intervenha junto aos produtores do Mato Grosso, estimulando e apoiando o plantio da cultura do milho. Barbieri diz que é necessário que os produtores acreditem que haja condições de se plantar essa cultura. Serão necessárias novas políticas públicas, principalmente de auxílio ao pagamento do seguro da safra, tranquilizando os produtores a plantar com a garantia que não haverá perdas econômicas. Faesc e Abramilho estão preocupadas como o produtor rural brasileiro suportará as perdas econômicas – previstas antecipadamente – com queda de produção, situação que exigirá urgentemente medidas governamentais de alento do governo.
Distorção dos dados da safra
Enori Barbieri observou que, na questão da soja, está ocorrendo um desencontro de números no Governo. A Conab publicou esta semana uma previsão de safra de soja de 155 milhões de toneladas, mas no levantamento dos Estados aparecem 135 milhões e os institutos projetam 143 milhões.
A quebra (menor) anunciada pela Conab provocou um movimento de baixa nos preços porque o mercado trabalhava sob expectativa de uma perda mais acentuada do que prevê a Companhia Nacional de Abastecimento. Neste cenário, um parceiro do Mercosul vai socorrer o Brasil: a Argentina, que ano passado teve uma seca muito forte, colheu 30 milhões de toneladas de soja e 30 milhões de toneladas de milho. Neste ano, a Argentina já anunciou 59 milhões de toneladas de milho e 52 milhões de toneladas de soja e deve suprir as perdas que o Brasil está tendo.
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