Segunda etapa de vacinação contra aftosa começa com baixos estoques e menor produção de vacina; Indústria nega, mas pecuaristas tendem a pagar mais caro pelos imunizantes!
Com os custos de produção em alta e, em meio a problemas de oferta de insumos, os pecuaristas devem pagar mais caro pela vacina contra a febre aftosa na segunda etapa da campanha de imunização deste ano, nesta segunda-feira (1/11). Distribuidoras confirmam que estão são menores, mas representantes da indústria descartam risco de desabastecimento, apesar de uma diminuição do número de fabricantes do produto no mercado brasileiro.
Em nota divulgada recentemente, o diretor de pecuária da distribuidora VetBr, Carlos Venâncio de Camargos, afirma que havia um desabastecimento geral da cadeia. Segundo ele, com a baixa oferta de imunizantes no mercado, houve uma antecipação de demanda, que aumentou 50%.
“Algumas funções de produzir e o volume de imunizantes nos estoques dos distribuidores está baixo. A procura antecipada pelo produto aumentou já no início de outubro ”, disse ele, na nota. Procurada pela reportagem, uma empresa informou que não daria mais detalhes.
A segunda etapa de imunização será realizada em 19 estados. Devem ser vacinados 78 milhões de bovinos e bubalinos com até dois anos de idade. Quem não vacinar, está sujeito a penalidades, como multas e impedimento de emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA).
Os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Acre e Rondônia e parte do Amazonas e de Mato Grosso não precisaram vacinar, por terem encontrado o status de livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). O Brasil pretende ser totalmente livre de febre aftosa sem vacinação até 2026.
Em em que pese o cenário atual, de acordo com a indústria, a menor produção de vacina está ligada a este objetivo. Diminuiu o interesse e o número de fabricantes. O país tinha sete com licença para a fabricação. Atualmente, são três (Ourofino, em Ribeirão Preto-SP; Ceva Saúde, em Juatuba-MG; e MSD, em Montes Claros-MG). Outras duas empresas (Biogénesis e Biovet) apenas distribuem em parceria com fabricantes.
Procuradas, as empresas não comentaram o assunto. Vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emilio Salani reconhece que o mercado de vacinas contra a aftosa está em extinção no Brasil. O Sindan reúne 91 empresas responsáveis por cerca de 90% do mercado brasileiro de medicamentos veterinários.
O executivo diz, no entanto, que o governo mantém com as indústrias para que elas mantenham um banco vacinal no país após o fim da vacinação em todos os Estados. Sobre campanha ano, ele descarta a possibilidade de vacinas faltar contra uma aftosa no mercado.
Segundo ele, 75% das doses já estão no mercado, sendo 34 milhões no estoque de selagem na Central de Vinhedo (SP), que armazena o produto em câmaras frias, sob controle das empresas e supervisão do Mapa, e outros 30 milhões serão liberadas em 16 de novembro.
Questionado sobre o aumento dos preços, Salani disse não saber dizer o percentual, mas pondera que o setor de vacinas sofre o mesmo impacto que os outros produtos industrializados que dependem de energia, importação e contêineres.
Ana Carlos Vidor, chefe da Divisão de Febre Aftosa e Outras Doenças Vesiculares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirma que uma massa vem atuando em conjunto com o Sindan para garantir o abastecimento de acordo com a necessidade de cada estado. Segundo ela, a demanda de vacina é adequada com um ano de tempo para atender ao ciclo de produção das vacinas, que é de cerca de 9 a 10 meses.
“A previsão da produção para 2021, apresentada pelo Sindan, em reunião na última semana, indica que não haverá falta de vacina para a próxima etapa”, reforça.
Retirada segura
A febre aftosa é uma doença infecciosa aguda que afeta bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos. Ela causa febre, seguido do aparecimento de vesículas, como chamadas aftas, principalmente na boca e nos pés de animais de casco fendido.
A doença é causada por um vírus e pode se espalhar pelo vento, rodas de veículos que transportam animais e até por animais selvagens infectados de casco rachado. O surgimento de focos desencadeia ações de emergência sanitária como interdição das áreas afetadas, sacrifício de animais infectados. Pode provocar a suspensão das exportações de carnes e outros produtos agropecuários, causar impactos e sociais.
No Brasil, o último foco ocorreu em 2006 no Paraná e em Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com o Paraguai. Todo o território brasileiro é reconhecido internacionalmente como livre da febre aftosa (com e sem vacinação) desde 2018. Atualmente, existem em torno de 70 países livres de febre aftosa sem vacinação, entre eles Japão, EUA, México e países da União Europeia.
Para Emilio Salani, do Sindan, uma certificação da OIE dada a parte do Brasil sinaliza uma retirada da vacinação de forma segura. Mas ele lembra que mesmo a vacinação não garante risco zero. É necessário avaliar se o país é capaz de controlar suas fronteiras secas em grande extensão no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e na região sul.
“A certificação da OIE indica a retirada da vacinação de forma segura. Agora o que o Brasil precisa é estar preparado para controlar o reingresso da doença e, ao registrar casos, têm que identificar a forma precisa como a doença chegou à propriedade ”, diz ele.
No Rio Grande do Sul, a retirada da vacinação trouxe economia para os produtores. E motivou a criação de um seguro contra a aftosa, que vai pagar os prejuízos aos pecuaristas em caso de surtos.
- FPA cobra ações no Congresso contra barreiras comerciais francesas ao agro brasileiro
- Arco Norte responde por 27% da entrada de adubo no Brasil
- Ladrões roubam 15 armas e R$ 20.000 na maior fazenda de gado da região; Fotos
- CEO global do Carrefour se retrata: “Pedimos desculpas”, afirma em carta enviado ao ministro Fávaro
- Chuvas acima de 100 mm devem atingir duas regiões do país nesta semana
Mas nem todos estão aparecendo com a situação, apesar da economia. Leandro Quadros Fochesatto, que faz recria e engorda de gado em Bagé, diz que preferia continuar vacinando seus animais, já que sua fazenda fica perto da fronteira com o Uruguai. “O custo não é tão elevado e nos dá segurança. Não vamos ganhar nada a mais pela nossa carne no curto e médio prazo ”, afirma
Já a pecuarista Carmen Perez, de Mato Grosso do Sul, diz que o assunto é polêmico, mas acredita que o Brasil tem feito bem seu trabalho de controle e fiscalização e pode evoluir com segurança para ser livre de vacinação.
Com informações do Globo Rural