PNF: um caminho necessário para a agricultura no Brasil

A ureia aumentou 300% no ano passado; o fosfato 100%, de US$ 400 para US$ 800 a tonelada; e o potássio 170%, passando de US$ 290 a US$ 780 a tonelada

O conflito entre Rússia e Ucrânia já provoca em todo o planeta uma crise humanitária, ambiental, econômica, política e militar e, crises como esta, acabam por oportunizar novos ângulos para a análise da realidade. Por meio desta revelou-se a extrema e perigosa dependência de outros países que o Brasil tem no suprimento de insumos agrícolas, especialmente de fertilizante.


O Brasil – potência agrícola planetária, com crescentes índices de produção e produtividade – obtém no exterior mais de 80% dos fertilizantes que necessita. Os principais nutrientes aplicados no país são potássio 38%, cálcio 33%, nitrogênio 29%. A cultura da soja demanda mais de 40% dos fertilizantes aplicados. O Brasil importa nove milhões de toneladas de insumos por ano e é o quarto consumidor mundial de fertilizantes, atrás de China, Índia e EUA.


Assim, o país torna-se dependente das importações, porém tem todas as matérias-primas para produzir, como gás natural, rochas fosfáticas e potássicas e micronutrientes. As reservas de potássio estão localizadas em Sergipe e no Amazonas. O País, porém, nunca foi competitivo na produção de fertilizantes, mas também nunca priorizou a produção desse importante insumo para a agricultura nacional.


Por consequência principalmente de acontecimentos recentes, os insumos estão cada vez mais escassos no mundo e a escalada dos preços tornou-se avassaladora. A ureia aumentou 300% no ano passado; o fosfato aumentou 100%, de US$ 400 para US$ 800 a tonelada; e o potássio encareceu 170%, passando de US$ 290 a US$ 780 a tonelada. A ureia, por exemplo, é feita de gás de petróleo e a Rússia suspendeu a produção para abastecer a Europa com gás. Por outro lado, o cloreto de potássio de Belarus não está sendo exportado em razão da guerra, pois a Lituânia trancou o acesso ao seu porto dos produtos daquele país.


Para a safra de verão, em preparação, os produtores já têm o fertilizante necessário, mas em setembro, no plantio da safrinha, serão necessárias grandes quantidades. É previsível que os produtores rurais usem menos fertilizantes na próxima safra, condição que se refletirá em menor produtividade. Então, temos quase cinco meses para equacionar essa questão. As fábricas não pararam nos países produtores, portanto, o maior desafio será efetivamente de logística em razão da guerra – navegação marítima restrita, portos fechados, sanções em curso etc. Além da falta de navios, as rotas internacionais tornaram-se perigosas para a navegação e o banimento da Rússia do sistema bancário internacional cria insegurança sobre o pagamento das transações internacionais.


O impacto desses movimentos continentais chega a Santa Catarina que necessita, anualmente, cerca de 500 mil toneladas de fertilizantes para preparar o plantio de 1,4 milhão de hectares de lavouras. As culturas que mais necessitam de fertilizantes são soja, arroz, trigo e milho, além de frutas e hortigranjeiros.


Contudo, ainda que o panorama seja preocupante, é muito positivo o anúncio do Ministério da Agricultura sobre a criação do Plano Nacional de Fertilizantes. O primeiro desafio é provar que o Brasil pode ser mais competitivo. Precisamos buscar a autossuficiência nessa área porque os fornecedores mundiais são poucos. O Plano Nacional de Fertilizantes precisa encontrar um caminho para as necessidades da agricultura brasileira. E, com muito trabalho e planejamento, são boas as chances de uma solução prática e aplicável ser encontrada.

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