Plantação do café: escolha da área, espaçamento certo, melhor cultivar, calagem, adubação, preparo do solo e custos de plantação.
Cafezal é o nome da plantação do café, que como toda cultura precisa de um bom planejamento e uma boa execução para seu sucesso.
O primeiro passo para execução é o plantio, que tem que ser realizado com cuidado.
Erros neste momento podem prejudicar toda sua produção, necessitando, às vezes, de renovação total da lavoura de café.
Para evitar problemas na plantação, confira neste artigo algumas recomendações para alcançar boas produtividades no cafezal. Boa leitura!
Plantação de café: importância de um plantio bem feito
Para uma plantação de café de sucesso, as exigências climáticas precisam ser atendidas. O cafezal se desenvolve melhor em temperaturas entre 18 °C e 23 °C, e temperaturas acima dos 30 °C podem causar danos na cultura. Além dessas, há outras exigências.
A escolha da área, espaçamento (população de plantas), cultivar, altitude e topografia também são pontos fundamentais para evitar a morte das plantas. Isso tudo também garante uma boa implantação da lavoura.
Erros nesta etapa só serão corrigidos na renovação do cafezal. Considerando uma vida útil de 20 anos para a lavoura, é muito tempo e dinheiro investidos de maneira errada. Esses erros levam à redução da produtividade e consequentemente do seu rendimento.
O planejamento, tanto da implantação quanto da renovação do cafezal, é fundamental para garantir sucesso na safra. Para te ajudar, disponibilizamos uma planilha gratuita para essa etapa tão importante. Clique na imagem abaixo para baixá-la.
Para iniciar a plantação do café, alguns passos devem ser seguidos. Veja-os a seguir.
1. Escolha da área para plantio de café
O cultivo de café se inicia pelo planejamento. O primeiro passo é a escolha de uma área para plantio do café. Para isso, você deve considerar, em primeiro momento, o clima da região e a topografia (ou topoclima) da área.
Em áreas onde já se cultivavam plantas de café, teoricamente, as áreas de renovação já seguiram esses critérios quando foram instaladas.
No entanto, caso seja preciso (em casos de implantação de um novo cafezal), avalie muito bem essas condições. Elas são definidas pelo clima, altitude, solo e topoclima.
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Clima
Para o cafezal ter bom aproveitamento, pelo zoneamento agroclimático do café arábica, a faixa de temperatura ideal é de 18°C a 23°C. Para o café conilon/robusta, a temperatura pode ser superior, entre 22°C e 26°C. A precipitação anual deve ser entre 1.200 mm e 1.800 mm.
A plantação de café tem exigências climáticas para que a cultura tenha o melhor desenvolvimento. Quanto mais adequado for o clima da região, melhor aproveitamento energético das plantas, que refletem na produção.
Isso não significa que não seja possível cultivar café em áreas que não se enquadrem nesses parâmetros. Afinal, no Brasil há cultivos de café até na Bahia, que está bem fora desses limites climáticos.
Isso significa dizer que áreas marginais ou inaptas terão maior chance de insucesso, pois o cafeeiro “sofre” mais. Em alguns casos, será necessário irrigação, noutros, sombreamento, preparo profundo de solo, dentre outras medidas.
Em outras palavras: no plantio realizado em áreas fora do zoneamento recomendado para o café, serão maiores os gastos com tratos culturais, e a produtividade e a qualidade podem ser afetadas.
Os dados climatológicos para sua cidade/região podem ser encontrados no site do Inmet ou Agritempo.
Altitude
A altitude influencia diretamente na temperatura. A cada 100m de altitude a mais, menos 1°C na temperatura média.
Se a temperatura é mais amena, maior será a umidade e mais lenta será a maturação do café. Ainda, maior será a incidência de pragas e doenças favorecidas por essas condições.
Além disso, o acúmulo de ar frio e ocorrência de geadas no café pode ser maior. Mas isso também depende de fatores do topoclima.
Topografia e fatores do topoclima
O topoclima diz respeito aos fatores climáticos condicionados pelo relevo. Geralmente, é relacionado à configuração do terreno e exposição ao sol.
Embora quase 40% da produção de café brasileira possa vir de áreas montanhosas, é preferível que se escolha áreas mais planas para o plantio do café. Além de facilitar a mecanização, o controle de erosão e a proteção do solo são facilitados.
A cafeicultura em áreas de alta declividade demanda mais mão de obra e aumenta os riscos de erosão. No entanto, hoje existem técnicas de microterraceamento que viabilizam a cafeicultura nas montanhas e podem aumentar a lucratividade nesses sistemas.
Nas áreas mais baixas, há acúmulo de ar frio, o que favorece a ocorrência de geadas. No caso de encostas, a face sul também sofre desse problema, principalmente no sul e sudeste do Brasil.
O ideal é evitar áreas de baixada, plantar na face norte e, após ocorrência de uma geada, observar a linha da geada. Plante sempre nas áreas acima dela para evitar riscos. A arborização pode ajudar em alguns casos.
Segundo o Iapar, a adição de 30 a 70 árvores de café por hectare de Grevilha (Grevillea robusta) é capaz de reduzir os efeitos negativos da geada. Isso ainda contribui com a produtividade do cafeeiro.
Para o café canephora o ideal são altitudes de até 800m. Para o café arábica, são recomendadas maiores altitudes.
Exposição à luz solar
O relevo também regula a exposição à luz solar. Isso interfere em dois aspectos práticos: a exposição ao sol poente e o acúmulo de ar frio. O caminhamento do sol se dá de leste para oeste.
Sendo assim, ao fim da tarde – período mais quente e seco do dia – o sol incide vindo do oeste. É importante que se evite que esse sol incida diretamente sobre um dos lados do café. Isso causa escaldadura nas folhas e frutos.
As linhas de plantio do café devem estar no sentido leste-oeste, paralelas à incidência do sol. Isso evita que o sol poente se concentre sobre um lado da planta.
Solo
Solos profundos, bem drenados e aerados são os ideais para a plantação do café. Entretanto, se o solo não apresentar estas características ainda pode ocorrer o plantio.
Porém, há maior necessidade de manejo, como por exemplo realizar a descompactação a 120 cm.
2. Variedades de café
Coffea arabica L. e Coffea canephora Pierre, este último também conhecido como robusta ou conilon, são as duas variedades de cafés mais produzidas no Brasil e no mundo.
Para definir qual variedade plantar, é necessário saber das condições onde cada uma se desenvolve e produz melhor. A temperatura do café arábica e do canephora são diferentes, assim como a altitude.
No Brasil, o café arábica é o mais produzido, principalmente nos estados de Minas Gerais e São Paulo. O canephora é mais presente no Espírito Santo e Bahia. O café arara também tem sido cada vez mais plantado no país.
Escolhido a variedade, dentro de cada uma existem diferentes tipos de cultivares, como você pode ver na figura abaixo.
As especificidades de cada cultivar são muitas. Busque informações para utilizar os cultivares mais adaptados na sua área.
Escolha das mudas para plantio de café
Definida a cultivar, é necessário adquirir mudas sadias e vigorosas, sem misturas com mudas de outras cultivares.
Na cafeicultura brasileira, a plantação do café ocorre por mudas feitas por viveiristas. Eles ficam responsáveis por realizar todos os processos de formação das mudas.
Prefira viveiristas registrados, que sejam idôneos, com boas práticas na produção de mudas de café. O uso de solo para produção de mudas é um grande responsável pela disseminação de doenças e pragas.
Com o substrato autoclavado, isso é reduzido drasticamente. No estado de São Paulo, o uso de solo na produção e comercialização de mudas de café já é proibido. Dê preferência às mudas produzidas em substrato sem solo.
3. Amostragem de solo
Seja na instalação da lavoura ou durante a produção, conhecer a fertilidade do perfil do solo te ajuda a corrigir problemas. Isso te ajuda até a explorar esse solo em maior profundidade.
As recomendações de correção e adubação para o café estão todas pautadas na camada entre 0 cm e 20 cm do solo. Em alguns casos, pode ficar entre 20 cm e 40 cm.
Por ser uma planta perene, as raízes do cafeeiro podem se aprofundar mais de 1 metro. Desse modo, com o desenvolvimento da cultura, pode-se fazer de 60-80 cm ou até mesmo de 80-100 cm.
Faça análise de solo pelo menos até a camada de 40 cm a 60 cm. Como veremos a seguir, isso pode ser muito importante para a produção e resiliência de sua lavoura de café.
Essas amostras mais profundas não precisam ser feitas todo ano. Elas podem ser feitas a cada 2 ou 3 anos para fins de monitoramento da fertilidade. Uma amostragem de solo bem feita vai direcionar as correções e adubações de plantio do café.
4. Preparo profundo de solo
Como as raízes das plantas de café conseguem explorar em profundidade o solo, o ideal é prepará-lo corretamente para que o desenvolvimento radicular seja facilitado.
A ideia é aplicar calcário, gesso e nutrientes como fósforo em profundidade. Isso vai facilitar o crescimento radicular do cafeeiro. Por isso a amostragem de solo em profundidade maior que 40 cm é tão importante.
Com o preparo do solo, as mudas recém-plantadas conseguem se desenvolver melhor e, ao longo do tempo, explorar o solo em profundidade. Em longo prazo, você terá uma lavoura em produção que sentirá menos os efeitos de uma seca ou veranico.
5. População de plantas e mecanização da lavoura de café
Outro passo importante antes da plantação do café é a definição da população de plantas, com base no espaçamento utilizado. Pode-se ter um espaçamento de plantas de café de 50 cm – 100 cm e de entrelinhas variando de 1,5 m – 4,0 m.
Desse modo, a população de plantas de café pode variar de 3 a 20 mil pés de café por hectare. O sistema de plantio influencia diretamente no método de colheita.
Em sistemas mais adensados, com menores espaçamentos e maior população de plantas, a colheita é praticamente toda manual. Em sistemas mais espaçados, já é possível a colheita mecanizada do café.
Definida a área de plantio do café, variedade/cultivar plantar, o espaçamento e população de plantas, podemos então começar o preparo do solo. Para isso, é necessário uma correta amostragem.
6. Correção e adubação para plantar café
Com a análise de solo em mãos, você poderá avaliar a necessidade de calagem e gessagem, bem como as adubações.
Calagem e gessagem
O novo Boletim 100 recomenda elevar a saturação por bases (V%) para pelo menos 70% na camada 0 cm – 20 cm. Para isso, é necessário usar calcário dolomítico, para fornecer mais magnésio.
A dose deve ser aumentada se o V% estiver abaixo de 25% nas camadas mais inferiores. A calagem deve ser feita em área total. Além dela, deve-se aplicar mais 500g de calcário por metro de sulco.
O gesso agrícola deve ser aplicado de acordo com a análise de solo das camadas abaixo dos 20 cm, baseando se na saturação por alumínio e no V%. Alguns produtores vêm tendo bons resultados com uso de altas doses de gesso (> 10 ton.ha-1).
Seu efeito condicionador no subsolo possibilita que as raízes se desenvolvam mais em profundidade. Isso favorece o crescimento do cafeeiro.
Adubação na cafeicultura
Com as correções feitas, é necessário cuidar dos nutrientes disponíveis no solo. O ideal é que se mantenha os níveis de nutrientes na faixa adequada, como indicado na tabela abaixo. Acima desses teores, não há resposta do cafeeiro.
No plantio ou renovação do cafezal, é possível colocar fósforo em profundidade. Afinal, esse nutriente é praticamente imóvel nos nossos solos.
Assim, independentemente da análise química de solo, recomenda-se aplicar 60g de P2O5, em formas solúveis, por metro de sulco de plantio.
No sulco, também é indicado o uso de adubação orgânica. Escolha a opção de maior disponibilidade e melhor custo-benefício em sua região/propriedade. Abaixo, veja as recomendações para cada adubo orgânico.
Nesse caso, a dose se refere à aplicação de cada adubo separadamente.
Após estabelecido o plantio do café, o produtor deve fornecer nutrientes para a formação da lavoura.
7. Controle de plantas daninhas e doenças no cafeeiro em formação
Plantas daninhas
A muda de café é sensível à competição por plantas daninhas. Seu sistema radicular ainda é pequeno, a taxa de crescimento é relativamente lenta se comparada a das daninhas e há pouco sombreamento na rua.
Deixar a entrelinha sem plantas de cobertura, como por exemplo braquiária, não é concebível. Isso acontece porque aumentam-se os riscos de erosão e diminui-se a infiltração de água, por exemplo.
O que se faz, geralmente, é limpar uma faixa próxima ao café e manter o centro da rua controlado.
Na prática, isso se faz com uso de enxadas ou aplicações de herbicidas, geralmente Verdict, Select, Clorimuron e Goal, além do glifosato.
Verdict mais Select (500ml/ha) e Clorimuron (200ml/ha) são uma boa opção para esse fim quando o mato está pequeno. O Goal (3L/ha) é uma boa opção como pré-emergente.
Com plantas um pouco maiores, pode-se utilizar o glifosato, com aplicação protegida.
A aplicação deve ser feito com cuidado para evitar a fitotoxidade por herbicidas no cafezal.
O consórcio com braquiária também é uma alternativa, pois a forrageira abafa o mato. Para evitar que ela compita com o café, mantenha uma faixa de 50 cm a 70 cm da linha, controlando com glifosato.
A braquiária é perene e fica todo o ano cobrindo o solo. Periodicamente, é roçada e seus resíduos depositados próximos à saia do cafeeiro.
Os problemas físicos do solo podem ser corrigidos pelas raízes da forrageira também, pois elas favorecem a agregação, a infiltração de água e oxigênio. Além disso, favorecem a vida microbiana do solo.
Doenças
Outro ponto de atenção é a presença de pragas e doenças do café, tanto na área quanto nas mudas adquiridas.
Ao comprar as mudas, algumas doenças e pragas já podem vir junto. Do mesmo modo, sua lavoura pode conter nematoides que poderão levar à morte das suas mudas.
Como principais doenças que podem estar presentes nas mudas e vir a causar danos, há:
- Cercosporiose / Mancha de Olho Pardo ou Olho de Perdiz causado pelo fungo Cercospora coffeicola;
- Mancha aureolada ou bacteriana, causada por Pseudomonas syringae pv. garcae;
- Rhizoctoniose, causado por Rhizoctonia solani;
- Escaldadura das folhas ou queima abiótica;
Estas doenças podem ocorrer tanto em viveiros como em campo, em cafezais novos ou adultos. O controle das doenças citadas acima, com exceção da última, deve ser feito com produtos recomendados para seu controle.
Os nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita; Meloidogyne spp.) são uma das principais nas lavouras cafeicultoras.
Se sua área já tem a presença de nematoides, faça um bom manejo. Nas entrelinhas do café, você pode realizar o plantio de plantas que reduzem a população dos nematoides, como algumas espécies de crotalaria.
O uso de mudas enxertadas também é outra opção em áreas que já têm a presença dos nematoides.
Quanto custa para plantar café?
O custo de implantação e formação do cafezal, considerando até o segundo ano, gira entre 20 e 30 mil reais. Este custo varia conforme o preço dos produtos e local de produção, podendo se tornar mais barato ou mais caro.
Diversos itens devem ser considerados nos custos da plantação de café. Alguns exemplos são:
- valor do óleo diesel utilizado nas operações de preparo do solo;
- custo do calcário e gesso
- fertilizantes e produtos;
- mudas;
- mão de obra, etc.
Outro fator que tem que considerar é que uma planta de café demora dois anos para começar a produzir. O custo gasto para implantação e formação neste período deve ser diluído no custo de produção ao longo dos anos.
Recomendações de colheita
Após os grãos se encontrarem no ponto ideal de colheita de café, é o momento de retirá-los do campo. O ponto ideal é o estádio de cereja, quando os grãos encontram-se avermelhados.
A colheita pode ocorrer de três modos: mecanizado, semi mecanizado e manual.
A escolha do modo de colheita irá depender de alguns fatores. Declividade do terreno, espaçamento entre linhas e mão de obra são pontos que precisam ser avaliados antes da decisão sobre o método de colheita.
Independente do método escolhido, planeje bem a colheita para que ela aconteça no momento correto, quando o grão tiver os teores de umidade ideais (entre 55% e 70%). A colheita adiantada ou tardia pode influenciar negativamente no sabor dos grãos colhidos.
Conclusão
Para cada localidade, as recomendações de plantação do café podem mudar. As boas práticas que envolvem a instalação da lavoura devem ser respeitadas em qualquer circunstância.
Seja na renovação de uma lavoura de café ou na plantação em uma nova área, fique de olho nas características do local e nas boas práticas de manejo.
Não se esqueça dos gastos durante a plantação do café e sua formação, e de controlá-los com cuidado.