Segundo alerta da corretora a Moody’s do Brasil, a FS Bioenergia, que tem sem Lucas do Rio Verde (MT), está com dívidas em alta, mas nem tudo é preocupação; A análise também menciona pontos positivos.
A FS Bioenergia, empresa pioneira na produção de etanol de milho no Brasil, localizada em Lucas do Rio Verde (MT), tem gerado preocupações no mercado financeiro devido ao seu crescente endividamento. Em um momento de margens reduzidas para o agronegócio, a saúde financeira da empresa, que já foi um exemplo de sucesso no setor, está sendo revisada por agências de classificação de risco e corretoras, levantando dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar os desafios econômicos atuais.
Quando avaliamos o contexto, nos últimos meses, o cenário econômico da FS Bioenergia tem sido alvo de análises minuciosas por parte de grandes agências de classificação de risco, como Moody’s, S&P e Fitch, além da corretora XP Investimentos.
O ponto central de preocupação é o alto nível de endividamento da companhia, impulsionado por uma série de fatores adversos, incluindo:
- Queda nos preços do milho e do etanol;
- Aumento do capital de giro, em função do pagamento de fornecedores de milho, e investimentos em novas plantas;
- Distribuições elevadas de dividendos.
Esses fatores culminaram em um rebaixamento de perspectiva por parte da Moody’s, de estável para negativa, em setembro de 2024. A agência destacou que as métricas de crédito da FS se deterioraram, uma vez que a empresa continua a expandir sua capacidade de produção, enquanto enfrenta dificuldades financeiras. A S&P já havia feito um movimento semelhante no início do ano. Por outro lado, a Fitch manteve o rating da companhia em “BB-” com perspectiva estável, destacando alguns pontos positivos na gestão da dívida.
Alavancagem Financeira da FS Bioenergia: Um Alerta ao Mercado
O relatório da XP Investimentos, publicado em setembro de 2024, detalhou preocupações específicas relacionadas ao endividamento da FS. Entre os pontos mais críticos, está a alavancagem financeira da empresa, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, que atingiu impressionantes 7,4 vezes no último trimestre. Esse valor é mais que o dobro do que os covenants (restrições contratuais) dos financiamentos da FS permitem, que preveem uma alavancagem de no máximo 3 vezes. Isso pode restringir a captação de novos recursos e a distribuição de dividendos no futuro.
Outro ponto de atenção no relatório é a estrutura de capital da FS, considerada frágil. Com um patrimônio líquido negativo em relação ao valor dos ativos, a empresa pode enfrentar dificuldades adicionais em refinanciamentos e na negociação de condições mais favoráveis com seus credores.
Dívida e Liquidez
O balanço financeiro divulgado pela FS Bioenergia em agosto de 2024 revelou números preocupantes. A dívida líquida da companhia cresceu 27,4% em relação ao primeiro trimestre, atingindo R$ 6,4 bilhões, enquanto a dívida bruta totalizou R$ 10,2 bilhões. O fluxo de caixa operacional foi negativo em R$ 289,2 milhões, resultado de pagamentos de milho postergados de períodos anteriores.
Além disso, o relatório da XP menciona um “risco sacado” de R$ 1,3 bilhão, que se refere a uma linha de crédito utilizada pelos fornecedores da FS para antecipação de recebíveis. A maior parte desse valor está classificada como dívida de curto prazo, o que pressiona ainda mais a necessidade de capital de giro da companhia no curto prazo.
Pontos Positivos e Projeções Futuras
Apesar das adversidades, o cenário não é completamente negativo para a FS Bioenergia. A empresa possui um cronograma de dívidas alongado e está localizada em uma região estratégica, no estado do Mato Grosso, maior produtor de milho do Brasil. Isso permite que a FS tenha acesso à matéria-prima a preços competitivos, especialmente com a expectativa de uma queda contínua no preço do milho.
A nova planta em Primavera do Leste, que entrou em operação recentemente, deve contribuir para um aumento de volume processado, o que pode ajudar na recuperação das margens operacionais da empresa. A expectativa é que, com o aumento da produção e a queda nos custos do milho, a FS comece a desalavancar sua estrutura financeira até o final de 2024.
As agências de risco também apontam que a empresa mantém uma liquidez satisfatória, com acesso a recursos tanto no mercado de capitais quanto em bancos. Isso dá à FS certa flexibilidade financeira para gerenciar seus vencimentos de dívida nos próximos meses.
Concentração de Clientes: Um Risco Adicional
O relatório da XP também alerta para a alta concentração de clientes da FS. A maior parte de sua produção de etanol é destinada a um pequeno grupo de distribuidores de combustível, com destaque para a Raízen, que responde por 53,8% das vendas, seguida por Vibra e Paranapanema, que juntas representam quase 22% da receita operacional bruta. Essa concentração deixa a empresa vulnerável a eventuais mudanças de demanda ou negociação de preços por parte desses grandes players.
A FS Bioenergia, pioneira na produção de etanol de milho no Brasil, atravessa um momento delicado em sua trajetória. O alto nível de endividamento e a queda nas margens pressionam a empresa, que busca se equilibrar em um cenário de preços voláteis e de grande alavancagem. No entanto, há sinais de que, com a operação da nova planta e uma possível recuperação nas margens operacionais, a companhia possa começar a reduzir sua alavancagem nos próximos trimestres.
O mercado seguirá de perto os próximos passos da FS, especialmente no que tange à sua capacidade de manter flexibilidade financeira e reduzir sua dependência de grandes distribuidores. A recuperação da empresa dependerá de uma gestão cuidadosa de seus recursos e da capacidade de equilibrar o endividamento com o aumento da produção.
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