Segundo estimativas da Conab a produção brasileira de soja deve cair 5,2% na safra 2023/24; quebra iminente da safra brasileira de grãos deve frear aumento do PIB brasileiro
Você já deve ter lido por aí os seguintes títulos – “Agro ‘empurra’ PIB brasileiro“, “PIB do agro dispara e ‘puxa’ índice econômico de todo o Brasil“, “Agro segue impulsionando PIB do Brasil em 2023“. O resultado foi possível devido à valorização do real e o aumento das exportações de commodities do agronegócio, como carne e soja. A pujança do agronegócio brasileiro ganhou destaque nos últimos anos pelo impacto positivo sobre o Produto Interno Bruto, o PIB, do Brasil. Esse cenário positivo que se instalou nos últimos anos, e desempenho extraordinário da agropecuária, pode dar uma freada segundo estimativas da Conab.
O Produto Interno Bruto (PIB) é uma medida fundamental para avaliar o desempenho econômico de um país. Ele representa o valor total de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de suas fronteiras durante um determinado período, geralmente um ano, e envolve a soma do consumo, investimento, gastos do governo e saldo comercial.
O Brasil terá uma safra de soja 5,2% mais baixa neste ano, segundo estimativas. Como o grão é a principal commodity do agronegócio brasileiro, a quebra da safra deve ter impacto significativo na economia do país, afetando a renda dos trabalhadores, as receitas dos produtores e o PIB (Produto Interno Bruto).
Problema não é só no Brasil, o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) reduziu sua previsão para a produção global de grãos em 2023/24, de 2,304 bilhões de toneladas no mês passado para 2,301 bilhões de toneladas, com pressão da oferta de milho, que enfrenta aumento de doenças e estresse hídrico em partes do Hemisfério Sul.
Segundo boletim divulgado pela Conab os agricultores brasileiros devem colher 146,5 milhões de toneladas de soja na safra de 2023/24. Os dados sofreram mais um ajuste para baixo na sua projeção da produção nacional, indicando queda de 5,2% em relação à safra passada, que foi de 154,6 milhões de toneladas do grão.
Já a Aprosoja Brasil, divulgou em janeiro deste ano que, segundo sua estimativa, a safra 23/24 de soja atingirá cerca de 135 milhões de toneladas, 8% menor que da Conab.
“Os relatos dos agricultores espelham a realidade vivenciada no campo, a qual difere significativamente das estimativas atuais de empresas privadas e órgãos oficiais. O feedback dos produtores indica que, mesmo em plantações visualmente saudáveis, os grãos não estão se desenvolvendo de maneira adequada, devido a anomalias presentes, resultando na redução do peso dos grãos, e as colheitadeiras estão registrando uma produtividade muito inferior à estimativa inicial” – disse a entidade em comunicado.
O cenário traz preocupações para a economia no curto prazo. A soja é a principal commodity brasileira do agro, responsável por quase metade das 294,1 milhões de toneladas da safra de grãos, aponta a Conab. O Brasil também é o principal exportador mundial do grão. Com a queda observada na produção, o órgão espera o envio de 92,2 milhões de toneladas para fora ao final da safra.
Os prejuízos no campo são causados por condições climáticas adversas. A influência do fenômeno El Niño no segundo semestre teve como consequência a falta de chuva no centro-oeste e as tempestades no sul que atingiram as regiões onde estão os maiores estados produtores da commodity.
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Os produtores rurais também perceberão o impacto na renda. Por um lado, a área destinada para a plantação de soja cresceu para 45,2 milhões de hectares (+2,6%) na atual safra. Por outro lado, o tempo maior para o plantio das sementes, causado pelas mudanças climáticas, prejudicou a produtividade porque o ciclo produtivo da oleaginosa sofreu atrasos.
A quebra de safra será sentida no PIB deste ano. O sócio-diretor da consultoria Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, diz que é difícil quantificar o quão dependente a economia brasileira é da produção de soja, mas avalia que uma série de setores depende direta e indiretamente da atividade.
O agronegócio foi responsável por 23,9% da geração de riquezas em 2023. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) calculou que o setor foi responsável por injetar R$ 2,58 trilhões no PIB, queda de 3% em relação ao ano anterior.
A falta de dinheiro em circulação atrapalha a venda de máquinas, caminhonetes, ampliação de negócios e as contratações. A carga salarial do agronegócio é boa, bem acima da média nacional. Um operário dentro da atividade agrícola recebe de três a quatro salários mínimos. É todo um capital que deixa de circular.
“A quebra de safra vai trazer impactos na arrecadação de impostos. As exportações de soja vão ter menor volume e o preço vai cair também. Tudo isso influencia no PIB […] E também deve impactar outras cadeias, como serviços e comércio. De repente, o produtor vai segurar a compra de máquinas e equipamentos, já que as margens estão apertadas” – disse Alfredo Guedes, gerente de agricultura do IBGE.
E como fica a vida do produtor?
A quebra da safra de soja acendeu um alerta no governo federal. No final de março, o CMN (Conselho Monetário Nacional) aprovou a renegociação de dívidas de crédito para produtores de 16 estados afetados pelas condições climáticas. Em resumo, esse socorro abrange plantadores de soja, milho e criadores de gado bovino, que deverão formalizar o pedido até 31 de maio.
Quem produz soja também terá direito a uma linha de crédito em dólar. O Ministério da Agricultura confirmou ao UOL que o anúncio do lançamento será feito “nas próximas semanas” pelo ministro Carlos Fávaro, juntamente com equipes da pasta e do BNDES, instituição que oferecerá recursos aos produtores rurais.
Esse tipo de socorro é necessário neste momento de baixa produtividade. Alfredo Guedes descarta a ideia de o agronegócio receber muitos privilégios do setor público. “O agro é praticamente uma indústria a céu aberto que investe muito, e muitas vezes capital próprio. É importante apoiar porque tem muitos pequenos produtores que dependem dessa ajuda para trabalhar e vira e mexe são afetados.”
Mas o setor deve respirar tranquilamente no próximo ano. O pesquisador da FGV Agro, Felippe Serigati, sintetiza: quem amargou prejuízos financeiros no Centro-Oeste não vai lembrar dessa safra com carinho. Já o produtor gaúcho vai celebrar a retomada dos negócios após anos negativos. Ele acredita que a colheita de soja tem tudo para ser melhor em 2025.
“O potencial da atividade no Brasil continua o mesmo. É normal. Vai ter ano bom, vai ter ano ruim. A gente não pode perder produtores por causa de condições climáticas. Se tiver que renegociar dívida, renegocia. Mas, para não apagar incêndio, é um programa de seguro rural bem fortalecido” – resumiu Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro.
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