Parceria entre Instituto de Zootecnia de São Paulo e criador de Angus auxilia na identificação de genes relacionados à resistência à babesiose bovina
O Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realiza parceria com criador de bovinos da raça Angus para auxiliar na identificação de genes relacionados à resistência à babesiose bovina. O projeto realizado em parceria com a Agropecuária 3E, situada em José Bonifácio, no interior paulista, conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
O estudo visa caracterizar por meio de análise transcriptômica por RNAseq a suscetibilidade de bovinos Angus puro (100% taurino), Ultrablack (82% Angus e 18% Brangus) e Nelore (100% zebu) frente às infecções naturais por Babesia bovis. Os animais da raça Angus e Ultrablack que participam da pesquisa foram cedidos por Renato Ramires Júnior, pecuarista de Angus PO e presidente da Associação Paulista da Raça Angus.
No Brasil, muitos produtores optam pelo uso de animais taurinos puros (Bos taurus taurus) e seus cruzamentos com zebuínos (Bos t. indicus) por apresentarem maior capacidade produtiva. “Mas, um dos principais entraves, ao utilizar bovinos com alto grau de sangue taurino, está na suscetibilidade às parasitoses, devido ao clima tropical e subtropical”, explica o geneticista Rodrigo Giglioti, da Unidade de Referência Laboratorial em Biotecnologia Animal, pertencente ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Genética e Biotecnologia do IZ.
A Agropecuária 3E trabalha com o mercado de genética da raça Angus. “Comercializamos touros para cruzamento, sêmen e embriões para melhoramento genético de rebanhos, hoje tenho a oportunidade de abrir a porteira para que a pecuária possa se beneficiar com os resultados importantes desta pesquisa”, ressalta Ramires.
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O produtor diz que a parceria com o Laboratório do IZ veio no momento certo. O rápido diagnóstico sobre quais dos parasitos atacaram o animal — Babesia ou Anaplasma — “vai auxiliar, em muito, o criador a identificar o tipo de agente logo no início dos sintomas e evitar o uso incorreto de medicamentos que levam a resistência e ineficácia dos produtos utilizados e, consequentemente, prejuízos na produção”.
A tristeza parasitária bovina transmitida pelo carrapato é considerada um enorme vilão para taurinos, e ocorre com menor frequência em zebuínos. “Temos sérias dificuldades para identificar rapidamente qual o agente da doença que acomete o bovino, logo nos primeiros sintomas, com esses estudos poderemos ter diagnósticos extremamente rápidos e ver a frequência da babesiose e da anaplasmose”, reforça Ramires.
Os impactos gerados pelas babesioses e anaplasmose bovina não são apenas a mortalidade, mas, também, abortos, perda de peso, queda das produções de carne e leite, e medidas de controle, causando grande impacto no comércio internacional de bovinos.
O carrapato e a Tristeza Parasitária Bovina
Dentre as parasitoses que acometem os rebanhos bovinos brasileiros, as principais são as infestações pelo carrapato bovino Rhipicephalus microplus, transmissor biológico dos agentes que causam a Tristeza Parasitária Bovina (TPB). “Esta doença inclui dois protozoários Babesia bovis e B. bigemina e a Rickettsia Anaplasma marginale”, explica Rodrigo.
Nos bovinos, ambas as espécies de Babesia são transmitidas exclusivamente pelo carrapato do bovino. Assim, a babesiose é considerada uma doença endêmica em regiões onde a ocorrência do carrapato bovino é constante.
No Brasil, os agentes da TPB são considerados uma das principais enfermidades que acometem os rebanhos bovinos e são responsáveis por causarem importantes perdas econômicas na indústria pecuária de regiões tropicais e subtropicais do mundo. No País, a predominância de clima tropical e subtropical favorece a ocorrência do carrapato vetor, que diretamente, interferem nas taxas de inoculações dos agentes da TPB nos bovinos.
Segundo Rodrigo, dentre as duas espécies da babesiose bovina, B. bovis é considerada a principal, devido sua maior patogenicidade. Sua infecção tem um início rápido e as infecções primárias geralmente “são fatais em bovinos suscetíveis, representada por disfunções ou falhas cerebrais, renais e pulmonares”.
O uso dos cruzamentos de raças taurinas com zebuínas é uma estratégia que visa melhorar a produção, e ao mesmo tempo aumentar a resistência às parasitoses. “Essa alternativa está atraindo muito o interesse de produtores brasileiros com o objetivo de aumentar a eficiência de seus rebanhos”, destaca Rodrigo.
Contudo, os prejuízos gerados com as infestações pelo carrapato vetor e os agentes da TPB são um dos fatores que limitam o aumento da produtividade por meio da introdução de animais taurinos e seus cruzamentos nos sistemas de criação.
“Diante disso, reforça-se ainda mais a necessidade de conduzir estudos voltados à identificação de bovinos mais resistentes às babesioses”, afirma Rodrigo.
A seleção para a resistência à babesiose em bovinos de raças taurinas ou cruzamentos pode ser uma alternativa para facilitar o controle da doença, e, consequentemente, estimularia o encorajamento de criadores a aumentarem a produção dos seus rebanhos ao utilizarem animais mais produtivos.