Pesquisa busca criar milho que utilize menos fertilizantes; por meio de edição genômica, híbridos vão incorporar característica que permitirão aos cultivares aumentar a associação com bactérias fixadoras de nitrogênio
A implementação de estratégias mais sustentáveis de manejo do solo, como o plantio direto com a rotação de culturas e o uso de novos insumos biológicos à base de resíduos orgânicos ou de microrganismos, entre outras soluções, podem ajudar a aumentar a eficiência no aproveitamento e, consequentemente, diminuir o uso de fertilizantes minerais críticos para agricultura brasileira. É o que indicam resultados de estudos apoiados pela FAPESP e conduzidos por pesquisadores ligados a diferentes universidades e instituições de pesquisa no país.
A adoção dessas práticas pode gerar uma economia para os agricultores brasileiros da ordem de mais de US$ 20 bilhões nas próximas décadas só com a redução do uso de fertilizantes fosfatados, estima Paulo Sérgio Pavinato, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).
Em 2021, os insumos chegaram a representar até 30% do total gasto pelo agronegócio no Brasil, segundo dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), inclusive a cultura do milho é uma das que mais necessitam de insumos, chegando a onerar o produtor em 30% do total do custo de produção.
A InEdita Bio, empresa de biotecnologia especializada em edição de genômica, e a Shull Seeds, companhia brasileira de sementes de milho e sorgo, anunciaram uma parceria de P&D para criar híbridos de milho mais eficientes na absorção de nutrientes e, assim, ofertar materiais mais produtivos e sustentáveis.
A colaboração utilizará a tecnologia Trait by DesignTM, da InEdita, e a previsão é que os primeiros híbridos com a tecnologia cheguem ao mercado em 3 a 4 anos.
O trait que as empresas irão desenvolver promete revolucionar a cultura do milho no Brasil. A meta é criar um híbrido cujo manejo necessite de menos fertilizantes nitrogenados, atuando de forma similar aos inoculantes bacterianos do gênero Rhizobium, populares na cultura da soja a partir dos anos 2000.
Lavouras de híbridos de milho com esse trait necessitarão menos fertilizantes nitrogenados, o que diminuirá os custos para o agricultor. Outros benefícios dessa tecnologia são o aumento da produtividade e menor impacto ambiental dentro da cadeia produtiva dos nitrogenados e em seu uso no campo.
Fundada em 2021, a InEdita Bio inovou no setor de deep techs de biotecnologia ao criar plataformas proprietárias que combinam bioinformática, edição genômica, IA, machine learning e outras tecnologias, para desenvolver diferentes traits de interesse em qualquer cultura agrícola.
Através de solução tecnológica integrada, a InEdita pode criar plantas mais adaptadas a restrições climáticas, mais eficientes na absorção de nutrientes e no uso de água, além de mais resistentes a pragas e doenças.
“A colaboração em P&D com a Shull vai impulsionar o desenvolvimento de traits biotecnológicos nos híbridos de milho da empresa, colocando-a na vanguarda das inovações baseadas em edição genética no Brasil. Nossas soluções têm o potencial de transformar a forma como produzimos alimentos, e essa parceria confirma essa capacidade”, afirma Paulo Arruda, PhD, CEO da biotech.
A Shull Seeds é uma empresa 100% brasileira fundada em 2016 com o compromisso de levar aos agricultores soluções tecnológicas que resultam em híbridos mais produtivos, menos dependentes de clima, mais sadios e estáveis tanto em milho quanto sorgo, por meio de pesquisa e inovação. Para isso, reuniu em seu Centro de Pesquisa um banco de germoplasma com genéticas de clima temperado e tropicais do Brasil e de diversos países que tem servido de base para seu programa de melhoramento.
“A principal necessidade do agricultor hoje é produzir mais com menos custo, e esse é o objetivo final da parceria com a InEdita. Trabalhar na redução de custos que os fertilizantes nitrogenados impõem é estratégico não apenas pelo viés financeiro, mas também pelos desafios geopolíticos globais”, analisa o engenheiro agrônomo Paulo Pinheiro, CEO da Shull. “Nossa visão sempre buscou posicionar as empresas brasileiras também como criadoras de tecnologia que irão contemplar as necessidades dos agricultores brasileiros, e poderão ser licenciadas para outras empresas, fomentando um ciclo virtuoso de geração de riqueza,” completa Pinheiro.
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