Pesquisa promove equoterapia voltada a crianças com autismo

O centro de habilitação é o único de SP a participar da iniciativa, que objetiva o desenvolvimento comunicativo e linguístico de jovens neurodivergentes

O Centro de Equoterapia de Jaguariúna (CEJ) foi um dos espaços escolhidos para sediar uma pesquisa da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE Brasil) sobre os efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Projeto Comunicar tem foco no aspecto fonoaudiólogo e prevê o desenvolvimento comunicativo e linguístico de crianças com idades entre 2 e 7 anos, a partir da interação com equinos.

Na equoterapia, as crianças são instruídas a realizar atividades e interagir com o animal durante a cavalgada (Foto: Divulgação/CEJ)
Na equoterapia, as crianças são instruídas a realizar atividades e interagir com o animal durante a cavalgada (Foto: Divulgação/CEJ)

O projeto é uma parceria da ANDE com a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (SNDPD-MDH) e a Universidade de Brasília (UnB). Além de Jaguariúna (SP), onde está localizado o CEJ – considerado o maior centro de habilitação da América Latina -, o estudo também está sendo realizado em outras cinco cidades: Gurupi (TO), Maceió (AL), Natal (RN), Macaíba (RN) e Brasília (DF).

Segundo Veridiana Mellilo, gestora do CEJ, o espaço foi fundado há 20 anos e, hoje, atende mais de 230 famílias, com vagas disponibilizadas por acordos com planos de saúde, empresas de responsabilidade social e via Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de parcerias com as prefeituras. E, por sua infraestrutura, foi o único centro de São Paulo a ser escolhido para a pesquisa.

“Durante três meses, seis crianças entre 2 e 7 anos dentro do Transtorno do Espectro Autista, que nunca praticaram equoterapia estão em atendimento guiado por profissionais do CEJ e da ANDE em atividades com cavalos para embasamento científico do estudo. Todas as pessoas atendidas passaram por avaliação psicológica/psiquiátrica e a prioridade foi dada a famílias em situação de vulnerabilidade social”, explica Mellilo.

Na equoterapia, os pacientes são acompanhados por uma equipe multidisciplinar, constituída por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, pedagoga, psicopedagoga, psicóloga e equitador. Tatiane Trevisan, coordenadora do CEJ, relata que são realizadas sessões semanais de 30 minutos, nas quais os equinos atuam como um dos condutores da dinâmica.

“A interação com o cavalo durante o atendimento é muito importante para os estímulos recebidos por cada praticante, por meio dele, podemos trabalhar a propriocepção, reorganização postural e espacial, estímulos neurosensitivos e motores, equilíbrio, coordenação motora fina e grossa, tônus muscular, relaxamento global, texturas, autoestima, confiança, comunicação, socialização e aprendizado”, pontua a especialista.

Todo o contato da criança com os equinos é intermediado pelos profissionais do CEJ. Segundo Trevisan, na hora da sessão, os pacientes são equipados com um capacete de proteção e, em seguida, é realizada a aproximação com o cavalo. Feito esse processo, a montaria começa e são desenvolvidas as atividades terapêuticas propostas para o dia. O movimento tridimensional proporcionado pelo deslocamento do cavalo e sua andadura trazem diversos estímulos físicos e psicossociais aos indivíduos.

Segundo Mariane Donato, coordenadora do Centro de Referência do Autismo de Jaguariúna (CAJ), um desdobramento do CEJ, no tratamento, “o TEA necessita estar seguro e aberto às novas conexões. A linguagem é estabelecida pela andadura, por suas questões sensoriais, temperatura, altura, movimento e tato, proporcionando um sistema integrado que não trabalha somente a fala, mas todo o conjunto necessário para que a linguagem aconteça de uma forma efetiva”.

A fonoaudióloga do projeto, Daniele Baptisini, acrescenta que a pesquisa da ANDE prevê oito módulos, com três a quatro atendimentos em cada etapa. No momento, o projeto está executando o módulo 3 e, segundo a especialista, já é possível “observar avanços nas habilidades linguísticas das crianças, como a ampliação do vocabulário e a maior intenção comunicativa”.

Fernanda Garavelli Alamino é mãe de Yuri, uma das crianças participantes do Projeto Comunicar. Em 2021, o seu filho foi diagnosticado autismo nível 1 e, após avaliação no CAJ, foi convidado a participar do estudo. Fernanda conta que Yuri nunca havia tido contato com cavalos, mas que, com o início da equoterapia, ficou muito próximo desses animais, em especial, de Churros, o equino com quem pratica os exercícios no CEJ.

Em cima do cavalo Churros e acompanhado pela equipe do CEJ, Yuri realiza os exercícios planejados para o dia de tratamento (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Em cima do cavalo Churros e acompanhado pela equipe do CEJ, Yuri realiza os exercícios planejados para o dia de tratamento (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
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