Pesquisa indica tendências para pecuaristas de confinamento de gado

Apesar da representatividade brasileira no mercado de carne bovina, apenas 7,2 milhões de cabeças estão no sistema de confinamento de gado.

O Brasil possui o maior rebanho de bovinos com fins comerciais do mundo. São mais de 238 milhões de cabeças, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), porém a maioria criada a pasto. Apesar da representatividade brasileira no mercado de carne bovina, apenas 7,2 milhões de cabeças estão no sistema de confinamento de gado, segundo dados do Censo DSM- Firmenich. 

Esse é um segmento da pecuária que vem crescendo já que o produtor consegue diminuir o tempo de engorda dos animais além de gastar menos espaço para colocar uma grande quantidade de bovinos. Dentro desse universo do confinamento, a Cargill realizou a 8º edição do Benchmarking Confinamento Probeef com mais de 2 milhões de animais, 267 produtores, espalhados pelo Brasil, Paraguai e Bolívia, e identificou tendências de melhoria que produtores estão adotando. 

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Como avalia o gerente nacional de bovinos de cortes da empresa, André Brichi, a primeira pesquisa foi feita em 2016 e, desde então, tem funcionado como um indicativo do que os confinadores podem fazer para melhorar os seus sistemas produtivos. Nesta última edição, Brichi conta que as tendências têm apontado não para um ganho de peso dos animais, mas sim para uma melhor eficiência na conversão alimentar.

“Nos últimos quatro anos, nós notamos que esse ganho de peso vem se mantendo, ou seja, não vem tendo melhoria dentro desse grupo de confinadores. […] Mas quando a gente olha um outro indicador, a conversão alimentar, que é o que o animal consome para criar um quilo de peso vivo, a gente vê que esse número vem reduzindo, ou seja, quanto menor esse indicador melhor, então estamos tendo uma melhora na conversão alimentar”, explica. A nível de comparação, em 2019, para cada quilo de peso vivo eram gastos 6,98 quilos de ração em média e, em 2023, esse número foi para 6,71 quilos de ração.

Nesse sentido, a adoção de práticas e tecnologias têm priorizado dois aspectos: manejo de cocho e bem estar animal. Esse último, Brichi cita o uso da irrigação sobre os ambientes onde os animais vivem. Essa prática ajuda na redução da temperatura em dias mais quentes, diminui a poeira e, consequentemente, evita o aumento da incidência de doenças nos animais. 

Ao Agro Estadão, o gerente da Cargill lista outros instrumentos que a pesquisa trouxe e que têm aumentado a eficiência produtiva dos confinamentos. 

Confinamentos com sombras 

Umas das questões observadas dentro da pesquisa foi o uso de ambientes sombreados nos confinamentos. Brichi esclarece que há algum tempo havia uma espécie de tabu sobre uso das sombras, mas os resultados encontrados confirmam que essa prática pode trazer resultados para o produtor. 

“Isso é uma quebra de paradigma grande. Hoje, a gente tem muita convicção que investir em sombra é investir em bem estar, em sustentabilidade, porque você está produzindo mais, pois o animal vai ganhar mais peso e você consegue pagar aquele investimento. […] Nós temos observado ganho de peso na faixa de 80 a 100 gramas a mais por animal dia utilizando a sombra”, afirma o gerente. 

Apesar do benefício, uma das travas é o custo para a instalação. Ele conta que há estruturas mais baratas, feitas com sombrite, por exemplo, mas a manutenção pode encarecer essa ferramenta, já que o sombrite pode rasgar com certa facilidade. O recomendado é uma estrutura mais duradoura, com telhas de zinco e pilastras de concreto, exemplifica. Nesse caso, o investimento inicial pode ficar alto, mas o valor se dilui ao longo do tempo. 

“Eu acredito que hoje esse investimento fique entre R$ 180 a R$ 220 por metro quadrado. Se for pegar o valor de R$ 200 e os três metros quadrados de sombra por cabeça [que é o indicado], tem um investimento de R$ 600 por animal. Agora, essa conta de R$ 600 por cabeça tem que ser depreciada em dez anos e normalmente em cada ano você faz dois giros, totalizando 20 animais em dez anos, o que dá R$ 30 por cabeça nesse tempo”, calcula Brichi.  

Foto: Adobe Stock

Leitura noturna

A leitura de cocho nos confinamentos já é utilizada tradicionalmente pelos confinadores. Basicamente, consiste em observar se há ou não presença de alimento dentro dos cochos em diferentes horários do dia. No entanto, o que muitos produtores ainda não fazem é a leitura noturna dos cochos. 

Em geral, durante à noite, é colocada uma quantidade de ração e no outro dia o técnico analisa se os cochos estão sem alimento ou com excesso de sobras. Assim é feita a regulação diária do que é posto em cada noite. Porém, há um desafio, especialmente quando há sobras, pois dependendo da dieta, os animais não comem esse resto da ração e isso entra na conta do produtor como desperdício. “Às vezes o confinador tem que jogar fora quilos de ração”, comenta o representante da Cargill. 

A pesquisa comparou os produtores que faziam essa mensuração e os que não faziam. O resultado foi uma economia de R$ 25 por cabeça evitando o desperdício. “A gente observou uma melhora de eficiência de três quilos, o que representa na faixa de R$ 25 por animal”, pontua Brichi. 

Ele explica que essa é uma prática relativamente simples. Na prática, um funcionário, normalmente o vigia que já trabalha à noite, é treinado para identificar a situação dos cochos nos piquetes. Essa verificação é feita três vezes: 20h, 23h e 03h, geralmente. Depois, isso é repassado para o técnico que já faz a verificação cedo e os ajustes são feitos para a noite seguinte. 

Automação de trato

O gerente fala que nas primeiras edições da pesquisa, em 2016 e 2017, o uso de software no confinamento era cogitado e atualmente se tornou uma tecnologia básica. De acordo com o levantamento, 90% dos confinadores entrevistados já utilizam algum tipo de ferramenta digital com essa finalidade. 

O que o estudo tem indicado é que uma tendência é dar um segundo passo dentro desse ambiente que é a automação do trato. Cerca de 35% dos confinadores usam esse instrumento. Feita a avaliação entre os que já utilizam e os que ainda não aderiram, também foram encontrados resultados positivos de eficiência e redução dos desperdícios. 

“O carregamento dos caminhões e o descarregamento são feitos por automação, tirando os riscos desse processo ser feito de forma manual. Fizemos a análise entre aqueles com automação e sem, e a diferença foi de quase 6% na eficiência biológica”, complementa Brichi.

Fonte: Agro Estadão

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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