Pesquisa contribui para o desenvolvimento de novas forrageiras

As pastagens cultivadas no Brasil são a principal fonte de alimentação do rebanho bovino nos estados, com 214,7 milhões de cabeças.

Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste, publicado neste ano na revista internacional Grass and Forage Science (publicação da Sociedade Britânica de Pastagem), investigou os aspectos agronômicos, nutritivos, citogenéticos, moleculares e reprodutivos de 25 acessos* de espécies de gramíneas do gênero Paspalum. O trabalho “Agronomic, nutritive value, reproductive, cytogenetic, and molecular aspects of Paspalum accessions: Contribution to the development of new forage cultivars” vai subsidiar programas de melhoramento para o desenvolvimento de novas gramíneas forrageiras.

As pastagens cultivadas no Brasil são a principal fonte de alimentação do rebanho bovino, com 214,7 milhões de cabeças. Com cerca de 116 milhões de hectares, a pastagem brasileira é composta, na maior parte, por gramíneas de origem africana como as dos gêneros Megathyrsus (Panicum) e Urochloa (Brachiaria). Há poucas cultivares comercialmente disponíveis. Assim, grandes extensões de área são cultivadas com o mesmo genótipo.

De acordo com o pesquisador Frederico de Pina Matta, autor principal do artigo, este aspecto torna a pecuária nacional vulnerável e suscetível a crises em caso do surgimento de praga, doença ou mudança climática desfavorável. “Esta situação de risco tende a se agravar com as mudanças climáticas globais, o que exigirá o desenvolvimento de uma diversidade maior de cultivares adaptadas aos fatores bióticos e abióticos decorrentes dessas novas situações”, explica. As espécies nativas brasileiras são alternativas para mitigar esses riscos, devido às características de tolerância à adversidade.

Existem, no país, 211 espécies de Paspalum nos mais diversos ambientes. Algumas apresentam significativo valor forrageiro e alta adaptabilidade a condições, como acidez do solo, desfolhamento, eventos de fogo, temperaturas frias e inundações. Na Embrapa Pecuária Sudeste há um banco de germoplasma (BAG) de Paspalum com 538 acessos de 60 espécies. “A diversidade genética conservada nesse banco é fundamental para o desenvolvimento de novas cultivares, com vistas à obtenção de produto tecnológico de apelo ambiental e à valoração de germoplasma nativo do Brasil”, diz o pesquisador.

Experimento

A pesquisa avaliou 25 acessos de Paspalum distribuídos em 12 espécies pertencentes ao BAG. Os acessos foram selecionados com base em aspectos visuais como porte, perfilhamento e resiliência aos cortes de manutenção. As cultivares comerciais M. maximum cv.Tanzânia e a U. brizantha cv. Marandu foram usadas como referências. Para determinação da produtividade e valor nutritivo foi instalado um experimento de campo na fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste.

Resultados

Com relação à produtividade média de matéria seca, vários acessos apresentaram produtividade semelhante à cultivar Marandu, material forrageiro de maior uso no Brasil. Da mesma forma, foram identificados acessos tão produtivos quanto a Tanzânia, referência mais produtiva utilizada nesse estudo.

As avaliações foram realizadas mensalmente, durante dois anos e, independente da época de corte, os valores apresentados por todos os acessos avaliados, para a característica teor de proteína, ficaram acima do limite mínimo de 7%, sendo que alguns apresentaram valores médios superiores à cultivar Tanzânia, melhor referência.

Embora tenham sido encontrados materiais semelhantes e até mesmo superiores às cultivares referências para algumas características, não foi observado nenhum acesso superior em todas as variáveis, sendo necessário melhorar a qualidade nutricional, principalmente para o quesito digestibilidade da matéria seca, em que os materiais testados demonstraram ser inferiores às referências. “Os resultados obtidos no estudo trazem grandes perspectivas para o futuro do programa de melhoramento genético de Paspalum na Embrapa Pecuária Sudeste. Existe variabilidade genética para as principais características agronômicas da forragem, como rendimento e valor nutritivo”, conta.

O experimento foi realizado em parceria com a Unipasto. Também são autores do artigo os pesquisadores Alessandra Fávaro, Bianca Vigna, Marisa Pozzobon, Sergio de Medeiros, Waldomiro Barioni Júnior e Marcelo Mattos Cavallari.

O trabalho está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especificamente a meta 2.5, que é “garantir a conservação da diversidade genética de espécies nativas e domesticadas de plantas, animais e microrganismos importantes para a alimentação e agricultura, adotando estratégias de conservação ex situ, in situ e on farm, incluindo bancos de germoplasma, casas ou bancos comunitários de sementes e núcleos de criação e outras formas de conservação adequadamente geridos em nível local, regional e internacional”.

*Acessos são amostras de plantas coletadas em um determinado local e representam uma população específica, com características próprias. Os acessos são registrados com todas as informações de origem, inclusive o nome de quem os coletou.
Fonte: Assessoria Embrapa Pecuária Sudeste

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