Este artigo tem como objetivo trazer os números relevantes do agro neste apagar e acender de luzes de ano e colocar minhas perspectivas para 2018, em que números eu apostaria com base em projeções e leituras do mercado.
Com isto o leitor entra no meu raciocínio e tem mais uma opinião para fazer seus planos e apostas para o ano que começa. Na terceira projeção da Conab para a safra 2017/18 estima-se uma produção de 226,5 milhões de toneladas de grãos, 4,7% menor que a atual safra recorde. A área crescerá quase 1%, atingindo 61,5 milhões de hectares. A Conab joga com condições climáticas piores que as excelentes observadas em 2016/17. Resta torcer para que estas se repitam e o Brasil bata novo recorde produtivo em 2018.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio (considerando as cadeias todas) deve aumentar cerca de 0,5% a 1% em 2018. Recortando apenas a agropecuária, o PIB deve aumentar 5% em 2018, contra os 11% deste ano. O Valor Bruto da Produção (VBP) deve aumentar 7,1% chegando a R$ 559,6 bilhões, sendo 6% de aumento no setor agrícola e 9% na pecuária. Ou seja, se o clima não atrapalhar, o agro gera quase 560 bilhões de reais em renda a ser gasta nos nossos municípios.
A safra de soja está estimada em 109,2 milhões de toneladas, numa área cerca de 3,1% maior, de 34,94 milhões de hectares. Os preços devem ficar entre US$ 9 a 10/bushel, que a este câmbio permite razoável resultado a nossos produtores. O milho deve perder 3% da área, com 17 milhões de hectares e expectativa de produção de 92,2 milhões de toneladas. A expectativa de preços também é de manutenção das médias deste ano, e nos EUA algo entre US$ 3,20 a 3,50/bushel. Milho tem maior incerteza devido ao plantio da safrinha, que ainda está distante, mas os preços correntes dos grãos ajudam a produção mais competitiva das carnes.
Nas carnes o consumo interno se recupera, as exportações seguem firmes, apesar das preocupações com a Rússia, a oferta brasileira aumenta e as rações continuam com preços competitivos aos produtores devido à ampla oferta de grãos. Bovinos devem bater o recorde de produção podendo chegar a 9,9 milhões de toneladas e exportações podem passam de 1,8 milhão de toneladas, com arroba ao redor de R$ 140.
No frango também devemos ter recorde de produção (mais de 13 milhões de toneladas) e de exportações (mais de 4 milhões de toneladas) com preços ao redor de R$ 2,5 a 3/kg (vivo). Já nos suínos a preocupação é um pouco maior devido à Russia representar mais de 40% das compras, mas a produção vem também forte, com mais de 3,8 milhões de toneladas e exportações passando de 900 mil toneladas, também batendo recordes. Preços ao produtor por volta de R$ 3,5 a 4/kg (vivo).
No acumulado de janeiro a outubro o agro trouxe US$ 89,1 bilhões, quase 13% acima de 2016. O superávit deixado pelo agro, quando se tiram as importações, já está em US$ 76,1 bilhões (14,3% acima de 2016).
No leite espera-se grande produção mundial, preços um pouco menores, consumo no mercado interno se recupera, produção ou fica como está ou em pequeno crescimento (24 milhões de toneladas), com preços ao redor dos R$ 1,05 a 1,25/litro ao produtor. Já a laranja deve ter ótima combinação de volumes (384 milhões de caixas) e preços entre 17 a 22 reais/cx permitindo aos produtores reduzirem níveis de endividamento e o suco deve ficar ao redor de US$ 2300 a 2600/tonelada na Europa.
Revendo números ainda deste ano, as exportações de novembro foram de US$ 7,1 bilhões, praticamente 23% acima de novembro de 2016, deixando um superávit de US$ 5,9 bilhões. No acumulado de janeiro a outubro o agro trouxe US$ 89,1 bilhões, quase 13% acima de 2016. O superávit deixado pelo agro, quando se tiram as importações, já está em US$ 76,1 bilhões (14,3% acima de 2016). A soja trouxe US$ 1,3 bilhão no mês, as carnes trouxeram US$ 1,3 bilhão e açúcar/etanol, algo próximo a US$ 870 milhões.
Quando comparamos os preços atuais das commodities mais exportadas pelo Brasil com exatamente um ano atrás, o tombo é grande. No açúcar, é de quase 26,4%, no suco 24,3% e no café, 21,5%, porém, no mês que passou, açúcar e suco subiram um pouco e o café caiu mais quase 1%, devido à grande safra esperada no Brasil. A soja está praticamente com o mesmo preço (subiu 0,87% e o milho praticamente não oscilou, porém tem viés de alta devido ao petróleo mais caro e a soja ficar como está, pois choveu e a safra brasileira vem grande e forte).
O índice mensal de preços de commodities alimentares da FAO chegou a 175,8 pontos, 0,5% abaixo de outubro e 2,3% menor que novembro de 2016. Caíram os preços das carnes (0,1%) e dos lácteos (4,9%), derrubando o índice. E subiram os cereais (0,3%), óleos vegetais (1,3%) e açúcar (4,5%). Já há alguns meses estamos perdendo preços internacionais.
Seguem firmes os investimentos da COFCO, trading chinesa, que colocou como meta dobrar o volume de compras em cinco anos diretas de agricultores, chegando a 60 milhões de toneladas.
Entre outras notícias relevantes do mês, o Banco do Brasil anunciou lançamento de um produto interessante ao agronegócio, muito presente em outros países. Um seguro para o faturamento (proteção de renda), que vem em boa hora. Resta torcer para que seu custo compense.
Seguem firmes os investimentos da COFCO, trading chinesa, que colocou como meta dobrar o volume de compras em cinco anos diretas de agricultores, chegando a 60 milhões de toneladas. Aqui temos grandes oportunidades às cooperativas brasileiras. A empresa já conta com 145 mil empregados, fatura US$ 70 bilhões e teve nos últimos anos arrojada política de aquisições, comprando empresas como a Nidera e a Noble Agri, agora já integradas, com muitas dificuldades no processo. O agro brasileiro deve prestar muita atenção à COFCO e buscar oportunidades de investimentos e acesso a mercados com as grandes tradings em 2018.
Enfim, as notícias de novembro foram neutras ao agro, com pouca oscilação cambial, alguma oscilação para cima do petróleo. A principal notícia negativa do mês tem relação com a possibilidade de revogação da Lei Kandir e suas nefastas consequências em tributar exportações. Passo agora às opiniões do que esperar de 2018 no agro.
O consumo mundial de grãos deve crescer de 1% a 1,5%, representando de 25 a 30 milhões de toneladas a mais e a China pode importar 100 milhões de toneladas de soja. Seguem sendo gerados espaços no mercado internacional que o Brasil tem que ocupar. As exportações brasileiras devem novamente nos trazer perto de US$ 100 bilhões, ajudando a interiorizar o desenvolvimento e manter o valor da nossa moeda.
O algodão também deve ajudar, pois a área cresceu 20% para 1,127 mi ha com produção de 1,825 mi ton de pluma (12% a mais) mas produtividade 7% menor, de 1,619 ton/ha. A demanda interna volta a crescer e os preços devem ficar ao redor de US$ 0,70/libra peso, ajudando a revigorar o Mato Grosso e a Bahia, que produzem 90% da nossa safra.
No café a safra mundial deve ser boa, os estoques estão altos e o Brasil produzindo muito (57 milhões de sacas), mantendo preços ao redor de US$ 130/sc e o consumo crescendo novamente com a recuperação econômica. Margens mais apertadas.
No acumulado de janeiro a outubro o agro trouxe US$ 89,1 bilhões, quase 13% acima de 2016. O superávit deixado pelo agro, quando se tiram as importações, já está em US$ 76,1 bilhões (14,3% acima de 2016)
Nos insumos, os fertilizantes devem ser bastante consumidos para esta área toda, mas os preços tendem a permanecer como estão. No caso dos defensivos, teremos aumentos de preços devido aos novos padrões produtivos na China, mais rigorosos, que estão elevando os custos de produção e fechando fábricas.
Também temos as boas expectativa vindas do RenovaBio na cana (para esta cultura veja um artigo específico sobre 2018) e do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), antecipando para março de 2018 a obrigatoriedade de 10% de mistura de biodiesel no diesel. Como a soja representa 80% do biodiesel, estes dois pontos porcentuais dão um processamento de mais 1,5 milhão de toneladas de soja.
A agência ambiental americana EPA manteve para 2018 os volumes obrigatórios de biocombustíveis nos EUA. Os convencionais, onde o milho é o principal, ficam em 15 bilhões de galões e os avançados, onde está a cana, ficariam em 4,24 bilhões de galões. O setor reivindica o aumento da mistura de 10% para 15% de etanol de milho na gasolina, o que para o agronegócio brasileiro seria excelente notícia em 2018. Também com os preços do petróleo em patamares mais elevados, cresce o incentivo ao biocombustível, bem como as pressões ambientais levando a metas de mistura, como a anunciada pela China para 2020 (10% de etanol na gasolina), criando um mercado de mais de 40 milhões de toneladas de milho. Torcer para em 2018 novos anúncios de uso de biocombustíveis acontecerem, abrindo espaço para a produção brasileira.
Sobre os preços futuros, o artigo da FAO e UNCTAD chamado Relatório sobre Commodities e Desenvolvimento 2017 diz que os preços das commodities alimentares subirão apenas 1,4% até 2030, o que de certa forma já havia comentado ao longo desse ano.
Na economia também o mundo deve crescer mais, abrindo mais mercados à produção de alimentos do Brasil, e o nosso PIB deve crescer 2,5% a 3%, trazendo maior consumo interno. A inflação deve continuar em 4%, e a taxa Selic ficaria em 7%, com um dólar médio do ano em R$ 3,30. Há de se ressaltar as grandes reformas que passaram em 2017, como o teto dos gastos, a nova legislação trabalhista, a nova lei das terceirizações, e em 2018 creio que conseguimos aprovar uma reforma tributária e parte da previdência. Espero também que em 2018 nosso país possa ser invadido por investimentos internacionais numa grande rodada de concessão de infraestrutura pública para operação pelo setor privado.
É um ano em que o cenário político ocupará parte importante dos debates e pode trazer alterações nos números colocados acima. No momento existe uma polarização entre esquerda e direita, mas na minha leitura o atual candidato da esquerda ficará inelegível e até com liberdade restrita em 2018, e o da direita não passa de 25%. Portanto minha aposta hoje é que um candidato de consenso representando o centro deve ganhar, o que será melhor para a governabilidade a partir de 2019, afinal intensa agenda de geração de valor precisa ser implementada.
Termino compartilhando com os leitores a alegria de, em dezembro, concluir dois trabalhos de quatro anos. O primeiro foi um dos projetos de extensão mais bonitos e gostosos que fiz e que terminou em dezembro de 2018 , o Caminhos da Cana, após quatro anos, 80 eventos, 30 cidades e oito Estados percorridos. Eventos de muito aprendizado, novos amigos, reflexões, pesquisas, publicações nacionais e internacionais, teses, dissertações e… muitas transformações na cana. O segundo foi meu trabalho na Orplana, Organização dos Produtores de Cana do Centro-Sul, que congrega 32 associações. Em meados de 2013 o então presidente da Orplana pediu que fizesse um plano estratégico para a organização. Após terminar meu ano como docente na Universidade de Purdue, comecei em janeiro de 2014 este trabalho e a Orplana, com o esforço de todos, se transformou, tendo em andamento hoje um robusto processo de gestão estratégica. Tive o privilégio de ser conselheiro externo da Orplana nos anos de 2014 a 2017, ajudando nas reuniões mensais a implementar este plano e pensar em novas coisas. Em dezembro foi a última reunião, depois de quatro anos. Missão cumprida.
Meu 2017 foi repleto de trabalho e bons resultados, espero que assim tenha sido o ano dos que investiram seu tempo neste texto. E que o agro venha firme com seus belos números novamente carregando o Brasil.
Fonte: Jornal da USP