Pescar um peixe com muitos filhotes durante a piracema poderia resultar na destruição de uma geração, evidenciando a importância desse fenômeno do ponto de vista biológico e ecológico.
A partir de 29 de fevereiro de 2024, a pesca é autorizada novamente, marcando o término da piracema, um período em que os cardumes nadam contra as correntes para reprodução. O calendário da atividade visa apoiar o processo reprodutivo e evitar a extinção de espécies no Brasil.
Em 1967, o Código da Pesca foi estabelecido, introduzindo um período de defeso para proteger os peixes nativos em momentos de vulnerabilidade. A piracema, cujo significado é “subida dos peixes” em uma língua indígena, inicia entre outubro e novembro, marcando o momento em que a pesca é suspensa.
Essa medida, crucial para a preservação dos ecossistemas aquáticos, permite que as fêmeas desovem sem perturbações, promovendo o aumento das populações, conforme destacado pelo Instituto de Pesca.
Adriano Prysthon, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pesca e Aquicultura, ilustra o fenômeno como um grupo de mulheres grávidas a caminho da maternidade, onde ninguém pode interferir. Pescar um peixe com muitos filhotes durante a piracema poderia resultar na destruição de uma geração, evidenciando a importância desse fenômeno do ponto de vista biológico e ecológico.
A piracema varia entre os Estados?
Sim, a piracema não é uniforme para todos os Estados. Em Mato Grosso, por exemplo, o período de defeso teve início em 2 de outubro de 2023 e encerrou-se em 1º de fevereiro de 2024. Já em São Paulo, começou em 1º de novembro de 2023 e estenderá até 28 de fevereiro de 2024.
A diferenciação ocorre devido às distintas características das bacias hidrográficas e ambientes marinhos. O Brasil, mesmo sendo um único país, abrange mais de 8 mil quilômetros de costa, com lugares diversos, características únicas, práticas de pesca e uma variedade de espécies.
Durante a piracema, a captura de bagre, dourado, jaú, pintado, lambari, mandi-amarelo, mandi-prata e piracanjuva é proibida. Em contrapartida, é permitido pescar apaiari, black-bass, bagre-africano, carpa, corvina, peixe-rei, sardinha-de-água-doce, piranha-preta, tilápia, tucunaré e zoiudo.
Para os pescadores que dependem exclusivamente da atividade, durante o período da piracema, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) oferece um seguro-defeso equivalente a um salário mínimo (R$ 1.412) por mês, mediante comprovação.
A Lua exerce influência na atividade de pesca, tanto em água doce quanto na marinha, de acordo com as observações do pesquisador Adriano Prysthon. Embora o entendimento sobre esse fenômeno não seja completamente sólido, o pesquisador da Embrapa destaca que algumas espécies são mais capturadas durante a lua cheia, enquanto outras se esquivam da rede durante essa fase, conseguindo enxergá-la no mar.
Prysthon compartilha uma experiência em uma fazenda de cultivo de camarão, onde, nas fases de lua cheia, os camarões adotavam comportamentos curiosos, dando voltas nos viveiros como se estivessem em um transe.
Quanto ao melhor mês para pescar, na pesca industrial em larga escala, é possível identificar alguns períodos específicos, pois certas espécies têm épocas definidas de safra, semelhante à agricultura. Já na pesca artesanal, realizada em embarcações pequenas, as variações ocorrem de acordo com a região e apresentam mudanças anuais.
Um exemplo disso é Santa Catarina, conhecido como um Estado referência na pesca da tainha, onde o período de captura da espécie tem início em maio. Em 2023, houve uma captura significativa de 250 mil peixes na modalidade arrasto de praia em Florianópolis, com outras cidades litorâneas, como Bombinhas, Garopaba e Palhoça, também registrando números expressivos. Balneário Camboriú, por sua vez, contou com uma captura de 20 mil peixes.
Prysthon destaca a diversidade de características que influenciam a pesca, mencionando que a captura do camarão na foz do Rio Amazonas ocorre em um período específico, enquanto na Bahia, as características do camarão e da água são distintas, refletindo as diferenças regionais. Portanto, não há uma definição única para esse aspecto da pesca.
Como diminuir as perdas na pesca?
Para minimizar as perdas na pesca, a Embrapa adota medidas que visam contornar a impossibilidade de controlar o clima, concentrando-se em pesquisas. Desta maneira, a ciência é colocada a serviço da sociedade, proporcionando alertas aos governantes sobre os impactos dos fenômenos climáticos no Brasil.
“Com base nessas informações, espera-se que os governantes possam tomar decisões políticas e modificar, de alguma maneira, as consequências que experimentamos na prática”, afirma o pesquisador.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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