Doença letal detectada em javalis reacende debate sobre controle da espécie. No Paraná um estudo revela que o bicho pode transmitir a febre maculosa.
Embora as capivaras sejam as principais hospedeiras do carrapato vetor da febre maculosa brasileira, doença infecciosa que em casos graves pode levar à morte, os javalis agora também estão na mira dos pesquisadores. Por serem uma espécie exótica invasora e por terem massa corporal maior que a das capivaras, o javali e sua variação, o javaporco, têm maior potencial de disseminar a febre entre os seres humanos.
Uma pesquisa realizada pela doutoranda Louise Bach Kmetiuk, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), revelou que todos os vinte javalis amostrados no Parque Estadual de Vila Velha, na região dos Campos Gerais do Paraná, foram sorologicamente positivos para ao menos um antígeno de bactérias do gênero Rickettsia spp., responsáveis pela febre maculosa brasileira.
“Os resultados são impressionantes e colocam em risco controladores e outras pessoas que adentram as matas onde javalis estão em grande número. Além disso, podem carrear carrapatos infectados de áreas endêmicas – hoje a doença é restrita ao habitat das capivaras (leito de rios, lagos e outras áreas inundadas) – para áreas de campos e cerrados”, explica o médico veterinário Alexander Biondo, coordenador da parceria entre UFPR, Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Parque Estadual de Vila Velha.
O estudo sugere, ainda, que houve perda de habitat de espécies nativas devido à presença de javalis no Parque, inclusive com informes de catetos buscando alimento em plantações de cereais presentes na zona de amortecimento da reserva. “A presença maciça dos estágios de ninfas e adultos do carrapato Amblyomma brasiliense indicou a sobreposição de javalis com o nicho ecológico de catetos, hospedeiros naturais dessa espécie de carrapatos”, diz Biondo.
São Paulo aperta o cerco
Considerados uma “praga” para as lavouras do país, os javalis e javaporcos terão o seu abate facilitado no estado de São Paulo. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (29) pelo governador João Doria (PSDB). De acordo com o anúncio, o abate seguirá normas federais de controle, com desburocratização das normas e de forma integrada com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). A gestão Doria passou a declarar o javali um animal de “peculiar interesse”, o que faz com que mude substancialmente o combate, conforme o governador.
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Agora, para que o animal seja caçado, bastará ao interessado se cadastrar no site do Ibama, que terá sistema utilizado também pelo governo do estado. Uma vez registrado o interesse, o produtor rural estará oficialmente pronto para controlar a população de javalis. Outros estados, como Santa Catarina, também adotam um programa de controle mais rígido do javali. No caso de SC, por ser um estado com uma suinocultura forte e voltada à exportação, o animal representa uma ameaça sanitária e para os negócios.
Os javalis podem pesar mais de 170 kg e têm potencial de destruir uma lavoura inteira. A Faesp (Federação da Agricultura e do Estado de São Paulo) já identificou javaporcos e javalis em ao menos 500 dos 645 municípios paulistas. Segundo Alexander Biondo, os resultados do estudo realizado no Paraná são importantes para fornecer subsídios para o planejamento de ações públicas na prevenção de doenças como a febre maculosa e outras zoonoses, como toxoplasmose, leptospirose e raiva, tanto em áreas de agricultura como também nas áreas naturais de unidades de conservação.
“O que havia no governo anterior era uma confusão dentro do sistema. Ele fazia com que o controle não acontecesse, era muito difícil para os proprietários rurais, para os caçadores de fato se credenciarem para fazer o combate”, disse o secretário da Agricultura de São Paulo, Gustavo Diniz Junqueira. No ano passado, o ex-governador Márcio França (PSB) sancionou, em junho, uma lei que proibia o abate de animais em São Paulo, medida que desagradou produtores que temiam o avanço de pragas em lavouras paulistas.
Sem predadores
Por não ser natural do Brasil, o javali não tem predadores e é encontrado em locais como áreas de proteção e nascentes. Apesar das queixas dos agricultores, o projeto foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa. Mas, depois de se reunir com representantes da Faesp e da SRB (Sociedade Rural Brasileira), França recuou e, em agosto, o governo publicou resolução que autorizava a caça de javalis “em todas as suas formas, linhagens, raças e diferentes graus de cruzamento com o porco”, desde que tivesse a supervisão do estado.
Com isso, a caça seguiu proibida, mas o produtor afetado podia fazer o controle populacional com autorização a ser dada em até 30 dias. Ou seja, se os javalis aparecessem na lavoura, seria preciso esperar até um mês para o controle, o que gerou novas queixas de produtores rurais. Junqueira afirmou que agora o combate passa a ser controlado pelo sistema do Ibama, a partir de uma instrução normativa assinada pelo ministro Ricardo Salles.
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“É uma simplificação do processo. Adere-se ao sistema nacional, se cadastra, para que possa abater o animal e nós tenhamos o controle da forma que está sendo feita, sem nenhuma violência, uma coisa mais tranquila, de maneira que possa ser feito o controle sanitário e de nossas propriedades”, disse o secretário Marcos Penido, da Infraestrutura e Meio Ambiente.
As atividades de controle populacional dos javalis pela caça são definidas pela Instrução Normativa 03/2013, do Ibama. A maioria dos estados brasileiros não tem legislação específica, seguindo a normativa nacional.
Fonte: Gazeta do Povo