Pecuarista: e não é que o ciclo pecuário virou mesmo?

Segundo a analista, os preços, que alcançaram um nível recorde em outubro, refletem recuperação após um início de ano marcado por quedas; pecuária brasileira passa por um momento de virada de ciclo

Com a previsão de produzir 11 milhões de toneladas de carne bovina em 2024, segundo o boletim Gain Report, do USDA, o Brasil reafirma posição entre os gigantes da pecuária mundial. Este cenário reflete não apenas o potencial produtivo nacional, mas também reforça o peso do agronegócio na Economia, hoje responsável por um PIB de R$ 2,5 trilhões.

Olhando para o futuro, o país deverá contar com um rebanho de 253 milhões de cabeças até 2030, com um volume crescente de bovinos terminados em confinamento. Demanda, essa, impulsionada por países como China, Egito e outros do Oriente Médio, o que abre novas oportunidades de exportação.

O rebanho nacional é o maior do mundo, com cerca de 220 milhões de bovinos, segundo dados do IBGE. Dentro da pecuária, o chamado Ciclo Pecuário é caracterizado por fases distintas, que envolvem variações sazonais no rebanho bovino, como por exemplo o número de abate de fêmeas, os preços de compra e venda do bezerro e também do boi gordo.

Ao longo do último ano, onde os preços da arroba chegaram ao fundo do poço, abaixo dos R$ 200, muitos pecuaristas duvidaram da ‘teoria’ do ciclo pecuário, e mais uma vez ele se provou.

O envio recorde de fêmeas para o abate era um dos prenúncios de que a virada de ciclo aconteceria, mais cedo ou mais tarde. Muitos pecuaristas acreditavam em melhores preços em 2025, deixando o segundo semestre desse ano em ‘banho Maria’. Entretanto os preços da arroba já bateram os R$ 300.

bezerro bruto de bom - com vacada nelore - fotao
Foto: Fazenda Santa Cecilia

Entender como funciona o ciclo, sua sazonalidade e quais são as características de cada etapa, ajudam o pecuarista nas tomadas de decisão e no planejamento de estratégias a longo prazo, possibilitando que determinadas propriedades saibam em quais anos é melhor investir na reposição, na retenção de matrizes ou, até mesmo, se compensa intensificar a engorda para um dado período do ano.

Durante o “Seminário StoneX: Desafios e Oportunidades para os Mercados de Commodities” apresentado nesta quinta-feira (10), a analista da StoneX Larissa Barboza avaliou que a pecuária brasileira passa por um momento de virada de ciclo, com oferta mais restrita e alta dos preços.

Ela enumerou fatores que confirmam essa percepção: a queda no volume de abates, o que inclui a redução da participação das fêmeas, as escalas da indústria abaixo de níveis históricos e a alta dos preços dos animais de reposição.

Segundo ela, os preços, que alcançaram um nível recorde em outubro, refletem recuperação após um início de ano marcado por quedas.

Barboza ressaltou que, neste segundo semestre, “uma forte escalada nos preços do mercado” é visível, impulsionada por indícios de que o ciclo pode estar mudando. “Analisando os preços deste ano, em outubro observamos que um nível recorde foi alcançado após quedas no primeiro trimestre e uma maior estabilização no segundo trimestre”, disse.

Um dos principais sinais da mudança no ciclo pecuário foi o menor nível de abates no último mês. “A maior retenção de fêmeas, com menos abates, resulta em uma menor oferta temporária, até que o mercado de reposição se equilibre”, disse Barboza.

Ela lembrou que, no início de 2024 o Brasil registrou o maior número de abates de fêmeas da história, mas destacou que o momento atual é de queda. “Observamos também uma redução na participação das fêmeas no total de abates”, acrescentou.

Touros Nelore Terra Brava Agropecuaria
Foto: Divulgação

Outro aspecto importante mencionado pela analista foi a situação das escalas de abate, que estão “abaixo da média em praticamente todos os Estados mais importantes para a produção”.

Barboza destacou que em Estados como Mato Grosso do Sul e São Paulo “os frigoríficos têm menos de uma semana de espera”, o que evidencia um cenário de menor disponibilidade de matéria-prima.

A analista apontou que a demanda por carne brasileira está caminhando para um recorde histórico.
“Até setembro, o Brasil já exportou mais do que no acumulado de janeiro a novembro de 2023”, afirmou Barboza.

Dependendo da dinâmica em outubro, há grandes chances de que o Brasil bata seu próprio recorde de exportação de carne, refletindo-se em níveis de receita que superam os do ano passado.

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