Desenvolvida pela Embrapa, essa técnica aumentam as chances de prenhez do bezerro, além de elevar a qualidade dos animais.
Inseminação artificial e estratégias de suplementação diferenciada em bezerros elevaram a prenhez e produziram animais de alto potencial na região do Pantanal em Mato Grosso do Sul.
Com o uso dessas técnicas, nasceram bezerros que foram desmamados precocemente, aos 110 dias, e registraram 250 kg aos oito meses de idade, diz o pesquisador Ériklis Nogueira da Embrapa Pantanal. Em condições semelhantes, mas sem essas técnicas, um bezerro cruzado costuma ter cerca de 50 quilos a menos.
Os animais foram obtidos por meio de estratégias produtivas e reprodutivas elaboradas por meio do projeto + Cria, coordenado pela unidade pantaneira de pesquisa da Embrapa dentro do arranjo + Precoce, liderado pela Embrapa Gado de Corte. Os estudos investigam alternativas para aprimorar a produção do novilho precoce desde os primeiros estágios.
“Os objetivos principais do + Cria são aumentar o número de bezerros e sua qualidade”, informa Nogueira. Para isso, a equipe considerou estratégias reprodutivas e de manejo nutricional e sanitário como a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IAFT), Transferência de Embriões em Tempo Fixo (TETF), escolha de genética e estratégias de suplementação dos bezerros.
Na IATF, os cios das fêmeas são programados e sincronizados para aumentar a eficiência reprodutiva e, na TETF, o embrião é produzido em laboratório e transferido para as receptoras. “Hoje, estamos conseguindo apresentar alternativas reais de aumento de produção e de qualidade dos animais”, afirma o especialista.
IATF + Cio
Até o momento, cerca de 5.000 vacas foram avaliadas no Pantanal e Planalto de MS; mais de 2.500 foram inseminadas por meio do projeto e os bezerros já nasceram, diz Nogueira.
Com o apoio de técnicas como a IATF + Cio, que usa bastões marcadores para determinar o grau do cio das fêmeas e aumentar as chances de prenhez na inseminação, as taxas de prenhez subiram em torno de 20%, de acordo com o pesquisador, afirmando que a técnica é simples, aplicada no momento da inseminação. “Nós observamos que, na IATF, as vacas que apresentam cio têm mais chances de chegar à prenhez. Para identificá-las, fazemos uma avaliação com a tinta dos bastões”, conta.
Nogueira descreve o processo dizendo que ele começa com a aplicação da tinta logo acima do início do rabo dos animais, na região sacrocaudal, após a retirada do implante (um dispositivo intravaginal de liberação de progesterona usado na IATF).
Cerca de dois dias depois, no momento da inseminação, os animais são avaliados: as vacas de cio fraco mantêm a marcação de tinta bastante visível em função do pequeno volume de montas.
Baixa remoção de tinta é um indicativo de cio médio. Nas vacas de cio forte, a tinta desaparece devido ao maior volume de montas. Essas três situações são classificadas com os scores 1, 2 e 3, respectivamente.
“Geralmente, as vacas com score 1 e 2 recebem uma aplicação do hormônio GnRH – um hormônio liberador de gonadotrofinas, que estimulam o funcionamento dos ovários das vacas.”
Para Nogueira, o IATF + Cio é uma forma prática de aumentar as taxas de prenhez, já que não exige grandes alterações no manejo dos animais. “A fase de cria é o primeiro passo, importantíssimo, para definir as etapas da produção eficiente. É muito mais fácil atingir as metas de produção do novilho precoce com uma boa matéria-prima, um bezerro de qualidade com bom material genético”, diz.
Progesterona em blocos
Outra alternativa para melhorar as taxas de prenhez ou a precocidade das fêmeas, fazendo com que ovulem mais cedo, é o uso de progesterona oral fornecida no suplemento dos animais.
Conta o pesquisador, que “Esses hormônios têm um efeito reprodutivo e devem ser fornecidos por meio de ração ou sal mineral. Associamos a progesterona com uma forma de suplementação em blocos, que tem melhor estabilidade, menores perdas com chuvas e menor necessidade de fornecimento – o que é uma vantagem para propriedades de pecuária extensiva, como as do Pantanal.”
De acordo com Nogueira, o produto consiste em um bloco de sal proteinado composto por milho, farelo de soja, sal mineral e outras substâncias misturadas com a progesterona de forma homogênea.
O estudo avaliou o fornecimento desses blocos a cerca de 1.500 vacas em propriedades localizadas em três cidades de Mato Grosso do Sul. A estimativa é que cada um desses blocos possa ser consumido por até 30 animais.
Os produtos podem ser fornecidos por seis dias aos animais após a inseminação artificial ou depois da transferência de embriões para aumentar as chances de prenhez.
O pesquisador afirma que, nesse caso, foi possível registrar um aumento de até 8% nas taxas de prenhez. Ele diz que também é possível usar os blocos para antecipar o cio de novilhas virgens: fornecendo os produtos por 13 dias, a quantidade de novilhas prenhas no início da estação de monta passou de 57% para até 75%. A porcentagem de cio foi de 23% para até 59% em dez dias.
Opções para beneficiar a reprodução
Além do IATF + Cio e do uso da progesterona em blocos, os pesquisadores envolvidos com o projeto + Cria investigam atualmente outras técnicas para aumentar a eficiência reprodutiva dos rebanhos: a otimização da relação touro-vaca pós IATF, aumentando o número de vacas cobertas pelos touros, a aplicação de vacinas contra doenças reprodutivas (visando a diminuir também a perda de bezerros) e a avaliação de sêmen, buscando identificar parâmetros relacionados à fertilidade – dessa forma, é possível que o produtor tenha uma estimativa do resultado que irá obter se usar determinadas partidas de sêmen.
Há também protocolos nutricionais, que envolvem a desmama precoce e a suplementação dos bezerros com níveis diferenciados, de forma a melhorar seu peso. Ainda de acordo com Nogueira, os animais produzidos por meio do + Cria são destinados a outro projeto dentro do mesmo arranjo, o + Engorda. Na iniciativa, a intenção é melhorar o acabamento, o tempo de terminação dos animais e produzir, assim, o novilho precoce.
+ Precoce
O pesquisador Rodrigo Gomes, da Embrapa Gado de Corte, coordena o arranjo + Precoce, que engloba todos esses projetos.
Executado desde 2014 pelos pesquisadores das duas unidades, a iniciativa tem como instituições parceiras a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO) e a Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce (ASPNP).
A iniciativa busca alinhar-se aos problemas enfrentados pela cadeia do novilho precoce e para isso atua com quatro grandes estudos: a produção de bezerros de qualidade por meio de sistemas melhorados de cria e otimização de biotécnicas reprodutivas; a melhoria da eficiência da recria e engorda e do acabamento de carcaça com o uso de genética superior; a transferência de tecnologia efetiva para todos os segmentos da cadeia produtiva; e o suporte a iniciativas públicas e privadas de valorização ao novilho precoce, como o Programa Precoce MS.
Para Gomes, “tanto as parcerias quanto as frentes de pesquisa colaboram na obtenção de resultados de maior relevância e que realmente impactarão na cadeia produtiva da carne bovina, seja no bioma Pantanal, seja no Cerrado. São ações passíveis de aprimorar a eficiência produtiva, a qualidade da carcaça e a sustentabilidade”.
Ele ressalta ainda que o arranjo estimula a adesão e a adequação, por parte dos produtores, a programas de bonificação pela produção do novilho precoce. Alguns exemplos são os protocolos de produção sustentável e orgânica disponíveis às propriedades pantaneiras e o Programa “Precoce MS”, com incentivos fiscais aos pecuaristas que atendam a determinadas exigências, como métodos produtivos.
No próximo ano, a equipe pretende disponibilizar uma plataforma web que reunirá as informações de vários sistemas de produção do novilho precoce, permitindo ao usuário simular qual será o retorno econômico desses sistemas em sua própria realidade. Gomes explica que a preocupação em facilitar a adoção de tais sistemas – melhorados pelos produtores – inclui análises de aspectos relacionados à área financeira “para que produtores e técnicos tenham segurança e clareza quanto ao impacto econômico. A Plataforma terá alguns sistemas melhorados já para consulta e atualizações anuais a partir de novos sistemas de produção.”
Precoce MS
O programa estadual “Precoce MS” é um caso positivo de incentivo ao alinhamento entre produção e tecnologias para a obtenção de melhores resultados em eficiência, qualidade e sustentabilidade. Após sua recente reformulação, feita com a participação de pesquisadores do arranjo + Precoce, por exemplo, há bonificação para animais produzidos a partir de sistemas com integração lavoura-pecuária (ILP), confinamento e semiconfinamento. “São tecnologias que levam à diminuição na emissão de gases de efeito estufa (GEE), alinhando-se à sustentabilidade. Além disso, pela melhoria nas condições nutricionais, há melhoras no acabamento de carcaça e isso ajuda a produção de uma carne com melhor qualidade e, consequentemente, maiores bonificações”, explica o zooctenista.
Saiba como o programa funciona:
Fonte: Embrapa