Pecuária leiteira no norte de Minas Gerais se reinventa

Produtores utilizam o período das águas para implementar estratégias que potencializam a produtividade e diminuem os custos

O clima úmido que tem caracterizado o norte de Minas Gerais nos últimos meses tem sido um aliado inesperado para a pecuária leiteira da região, historicamente marcada pela seca. Com a chegada das chuvas, os produtores estão aproveitando para fortalecer a alimentação de seus rebanhos e planejar um período de seca mais tranquilo, utilizando de forma inteligente os recursos naturais.

Em Icaraí, Valdinei Soares Nobre exemplifica a estratégia eficiente de adaptação. Ele aproveitou as chuvas desde dezembro para cultivar sorgo, garantindo a alimentação de suas vacas durante o período crítico de estiagem. “Este ano, não quis repetir os erros do passado. Aproveitei o tempo chuvoso para garantir que não faltasse comida para o rebanho quando a seca chegar“, comenta Valdinei.

Além do cultivo de sorgo, o produtor apostou na produção de silagem e no manejo adequado das pastagens. “A silagem está sendo oferecida às vacas enquanto a pastagem cresce, o que acaba garantindo que eu tenha pasto suficiente quando a estiagem começar“, revela Valdinei. O apoio da Assistência Técnica e Gerencial (ATEG) do Senar-MG foi fundamental para o sucesso do manejo, com a realização de uma análise de solo e a orientação sobre o uso de adubação. O resultado foi um aumento significativo na produção de leite. “Comecei com 10 litros por vaca e hoje, com 16 vacas, estamos produzindo até 139 litros diários, tudo com pasto verde, sem precisar de ração concentrada“, comemora Valdinei, que vê um futuro promissor para o seu negócio.

Em Porteirinha, o cenário também é de inovação. Alfeu Veríssimo Neto adotou o uso da irrigação para cultivar milho e, com o aumento das chuvas, ampliou a área de sorgo, que agora também é usado para a recria do gado. “Com as chuvas, conseguimos diminuir os custos com irrigação, que é bastante caro. O milho é destinado às vacas em lactação, enquanto o sorgo é usado para a recria“, explica Neto.

Há dois anos, ele passou a investir no sorgo sequeiro, o que resultou em bons frutos. “Este ano, plantamos 15 hectares e, com isso, conseguimos reduzir custos e aumentar a produção de silagem, que é fundamental para o gado criado 100% em confinamento“, conta Alfeu. O bem-estar dos animais é prioridade na fazenda, que recentemente implementou o sistema compost barn, onde as vacas descansam em um ambiente coberto e confortável, com piso feito de serragem e esterco em processo de compostagem. Essa mudança ajudou a reduzir o estresse térmico e melhorou a saúde dos animais, contribuindo para uma produção de leite diária de 2 mil litros, com uma média de 30 litros por vaca.

A fazenda de Geraldo Aparecido Miguel Soares, localizada em Janaúba, também é um exemplo de sucesso. O produtor, que já colhe os frutos do trabalho realizado com o apoio da ATEG do Senar-MG, destaca a revolução promovida por seu filho, Gustavo, que faleceu em 2023. Antes da intervenção, a propriedade produzia apenas 40 litros diários de leite, mas em menos de um ano, com as mudanças implementadas, o volume subiu para 800 litros. “Hoje, nossa produção gira em torno de 1.000 litros diários. Gustavo implantou um sistema de pastejo com piquetes rotacionados e expandiu o cultivo de sorgo para silagem“, explica Geraldo.

A preparação para a seca também foi fundamental na propriedade, com a ampliação da área de cultivo e a diversificação das técnicas de manejo. “A irrigação sozinha não seria suficiente para alimentar o rebanho durante a seca, mas com o planejamento que fizemos, conseguimos reduzir os custos e melhorar nossa produtividade sem depender do preço do leite“, afirma.

Além disso, a fazenda se transformou em um polo de aprendizado. Em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros, ela recebe alunos dos cursos de medicina veterinária e zootecnia, contribuindo para a formação de novos profissionais. “Gustavo estaria muito orgulhoso do que construímos. Ele nos deixou um legado de inovação e trabalho árduo“, finaliza Geraldo, emocionado.

Essa história de resiliência e inovação no setor leiteiro de Minas Gerais ilustra como os produtores estão se adaptando às condições climáticas, apostando em práticas sustentáveis e buscando otimizar a produção, mesmo com as adversidades do clima.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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