Depois da falta de profissionalismo na gestão da atividade pecuária a pastagem degradada é o maior desafio enfrentado nos sistemas de produção em pasto
Dando continuidade ao artigo que intitula este texto o objetivo deste é descrever as metodologias para diagnosticar os diferentes estádios do processo de degradação da pastagem, quais são os métodos para a sua recuperação ou renovação e as respostas técnicas e econômicas da recuperação das pastagens degradadas.
Como diagnosticar o estádio de degradação da pastagem
Segundo Dias-Filho (2003) a caracterização de indicadores da degradação de pastagens é tarefa difícil, pois não existe metodologia uniforme para este fim. Por esta razão, a pastagem que fosse considerada degradada em determinado local, poderia ser considerada ainda produtiva em outro local. Isso ocorre porque a quantificação da degradação da pastagem é relativa à produtividade que se consideraria ideal para aquela pastagem e região em particular.
As metodologias atualmente preconizadas e usadas podem ser divididas em metodologias qualitativas e quantitativas. A seguir a exemplificação de algumas:
Metodologia qualitativa – o processo de degradação é classificado em três estádios. No primeiro estádio de degradação a espécie mais consumida pelos animais, sob o estresse do pastejo pesado, ou sob outro fator qualquer, perde vigor, e reduz o seu crescimento. No segundo estádio, a forrageira mais consumida começa a desaparecer e outras forrageiras menos apreciadas pelos animais iniciam o domínio da área. No terceiro estádio, ocorre a invasão da pastagem por espécies de plantas invasoras. Este estádio ocorre junto ao segundo ou inicia logo após. Nestes três estádios ocorrem prejuízos na composição e na disponibilidade de forragem produzida na pastagem (CARVALHO, 1993).
Metodologias quantitativas: na Tabela 1 encontram-se alguns parâmetros que podem ser usados como critérios para o diagnóstico do estádio de degradação de pastagem de forrageiras do gênero Brachiaria sp., o qual representa atualmente 85,0% da área de pastagens cultivadas do Brasil (MACEDO, 2005).
Segundo Dias-Filho (2003) o papel das plantas invasoras como “indicadoras” da degradação de pastagens no trópico úmido amazônico é tão evidente, que alguns estudos têm tentado caracterizar os vários estádios de produtividade das pastagens nessa região com o percentual relativo da biomassa dessas plantas presentes na pastagem (Tabela 2).
Métodos de recuperação e renovação da pastagem degradada
A Tabela 3 resume uma classificação dos métodos de recuperação e renovação de pastagens degradadas.
A recuperação de uma pastagem degradada consiste no restabelecimento da produção de forragem de acordo com o interesse econômico, mantendo-se a mesma espécie ou cultivar de planta forrageira.
A renovação de uma pastagem degradada consiste no restabelecimento da produção de forragem de acordo com o interesse econômico, substituindo-se a espécie ou cultivar de planta forrageira.
A recuperação e a renovação indireta, ou seja, envolvendo cultivos agrícolas, em suas varias modalidades, tais como integração lavoura:pastagem, integração lavoura:pecuária (conhecidas pela sigla ILP), a integração lavoura:pecuária:floresta (ILPF), a integração pecuária, floresta (IPF) apresentam várias vantagens, das quais podem ser destacadas: melhoria da biologia do solo; redução na incidência de pragas e doenças e plantas invasoras; aumento da ciclagem de nutrientes no solo e a eficiência de uso e extração pelas plantas; aumenta a estabilidade dos agregados do solo; diminui a densidade e a compactação do solo; aumenta a taxa de infiltração das águas das chuvas; facilita a conservação do solo devido a disponibilidade de máquinas; facilita a troca da espécie forrageira devido ao uso intensivo de máquinas e herbicidas seletivos na agricultura; diversifica a produção da propriedade; otimização de máquinas e implementos ao longo do ano; redução dos custos para renovação/recuperação da pastagem (MACEDO; ZIMMER, 1993; KICHEL et al., 2000).
Segundo Martha Júnior; Vilela; Santos (2011) ainda devem ser consideradas as vantagens ambientais positivas da tecnologia, tais como a possibilidade de redução do avanço da fronteira agrícola (efeito poupa-terra), de mitigação de carbono (aumento do teor de matéria orgânica do solo) e redução de emissão de metano pelos animais com maior desempenho pastejando em pastagens de melhor qualidade.
Por outro lado o método de recuperação ou de renovação direta, sem uso de cultivos agrícolas, é de grande importância para os produtores nas seguintes situações: clima e solos desfavoráveis para a produção agrícola; falta de infraestrutura de apoio à produção agrícola; falta de máquinas e equipamentos; desconhecimento das tecnologias; indisposição natural para a atividade agrícola; indisponibilidade financeira; necessidade de recuperação das pastagens a curto prazo e/ou com menor risco (VIEIRA; KICHEL, 1995).
Algumas respostas técnicas e econômicas da recuperação/renovação da pastagem degradada
Vou apresentar aqui algumas destas respostas em uma pastagem degradada recuperada pelo método direto.
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Com o ajuste da taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem: a maioria das pastagens brasileiras é lotada com taxa de lotação acima da capacidade de suporte, ou seja, estão superpastejadas, precisando de ajustes.
Basicamente são duas as metodologias para o ajuste da taxa de lotação (UA/ha) à capacidade de suporte da pastagem (UA/ha): a metodologia indireta, sendo a principal a medida da altura, levando em consideração que as plantas forrageiras e os animais em pastejo respondem com aumentos de produção às condições de alturas específicas para cada espécie forrageira em pastoreio de lotação continua (altura média de pastejo) e em pastoreios de lotação alternada e rotacionada (alturas pré e pós-pastejo). Já a metodologia direta, consiste em cortar e pesar amostras de forragem para o calculo da massa de forragem, da forragem disponível, para então calcular a capacidade de suporte com base em dada oferta de forragem.
Como na maioria das pastagens a condição de pressão de pastejo é o super-pastejo, isso implica na necessidade de redução na taxa de lotação das pastagens para elevar a altura do pasto e aumentar a massa de forragem, e isso significa a venda de animais, ou aluguel de pastagens, parcerias pecuária, ou suplementação do rebanho, recomendações que a maioria dos pecuaristas não gosta.
Entretanto, na quase totalidade das situações, a redução da taxa de lotação em vez de reduzir a produtividade por animal e por área, aumenta significativamente com as seguintes vantagens: (a) redução dos custos variáveis com a compra de animais, o que traz um impacto significativo em ciclos de custo alto de reposição e baixa relação de troca; redução dos custos variáveis com medicamentos e suplementação (normalmente estes custos são reduzidos pela metade); (b) diminuição da infestação da pastagem por plantas invasoras e do efeito do ataque de pragas e doenças devido ao aumento da área foliar da planta forrageira; (c) maior proteção do solo pelo aumento da cobertura de palha que amortece o impacto das águas das chuvas e o pisoteio do gado e de máquinas; (d) menor dependência do uso de corretivos e adubos pela maior ciclagem de nutrientes provenientes dos tecidos vivos e mortos da planta forrageira; (d) aumento do desempenho animal pela possibilidade de aumento da seleção de forragem de melhor qualidade e maior consumo de forragem (o desempenho por animal pode ser aumentado entre 2,6 a 4,9 vezes (SARMENTO, 2003)) e (e) aumento da produtividade por área (esta pode ser aumentada em duas vezes (SARMENTO, 2003)).
Com o controle de plantas invasoras – no controle de plantas invasoras a relação de beneficio:custo pode variar entre 2,4:1 a 18,3:1, dependendo do nível de infestação, das espécies de plantas infestantes, do seu estádio de desenvolvimento, dos métodos de controle que serão adotados e do custo de cada método, do estande da planta forrageira, e do preço da arroba, o que significa que a cada R$1,00 gasto no controle de invasoras, há um retorno de R$2,40 a R$18,3. Neste particular pode ser exemplificado um dos muitos paradoxos da nossa pecuária. Cálculos feitos com base em dados de custos do Anualpec (2016), o custo de limpeza de pastagens (leia, controle de plantas invasoras) representava nas três fases da pecuária (cria, recria e engorda) uma média entre 0,61% (num rebanho com 500 UA) a 1,26% (num rebanho com 5.000 UA), proporção de custo que não justificaria a não adoção do controle.
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Com o controle de pragas – no controle da mais agressiva praga da pastagem, as cigarrinhas das pastagens e dos canaviais, a relação de beneficio:custo direto varia entre 1,4:1 a 11,8:1, o que significa que a cada R$1,00 gasto no controle daquela praga, há um retorno de R$1,40 a R$11,80 se considerarmos apenas a resposta em capacidade de suporte (cálculo feito com base nos dados de GALLO et al, 2002). Esta variação depende do nível de infestação da cigarrinha, das espécies de cigarrinhas atacando, a fase do seu ciclo na qual o controle é feito, dos danos causados por elas, dos métodos de controle adotados e do custo de cada método, e do preço da arroba. Entretanto outros ganhos são auferidos, tais como: maior desempenho por animal (ganho de peso, fertilidade, etc), e, portanto, por área (kg/ha), e menores custos com controle de plantas invasoras as quais aumentam muito em pastagens intensamente atacadas por cigarrinhas.
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Com a correção e adubação – quando se compara os índices zootécnicos alcançados em uma pastagem degradada com aqueles de uma pastagem recuperada (ajuste da taxa de lotação à capacidade de suporte; controle de plantas invasoras e pragas) e intensificada com o uso de corretivos e fertilizantes, o desempenho por animal aumenta em média duas vezes (de 0,30 para 0,60 kg/dia), a capacidade de suporte pode ser aumentada entre duas a até 10 vezes (de 0,5 UA/ha para 1,0 a 5,0 UA/ha), com consequente aumento na produtividade da terra entre três a 20 vezes (de 82 para 1.600 kg de peso corporal/ha/ano) (AGUIAR; SILVA, 2009). A relação de beneficio:custo pode variar entre 2:4 a 4,1:1, na fase de construção da fertilidade do solo, a até 4,8 a 8,2:1, na fase de manutenção da fertilidade do solo, ou seja, a cada R$1,00 investido em corretivos e fertilizantes pode se obter entre R$2,40 a R$8,20 de lucro.
Por todas aquelas vantagens citadas neste artigo, a recuperação/renovação da pastagem degradada tem sido incentivada em razão dos seus potenciais benefícios agronômicos, socioeconômicos e ambientais, como através do Programa “Agricultura de Baixo Carbono” (ABC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que entre o Plano Safra 2010:2011 e o 2016:2017 já destinou aos produtores R$21,45 bilhões para este programa. Para a safra 2016/2017 foram destinados R$2,99 bilhões, com limite de crédito por tomador de R$2,2 milhões a até R$5,0 milhões (para florestas plantadas), com taxas de juro de 8,0 (para produtor enquadrado no PRONAMP), a 8,5% ao ano, com prazo de até 15 anos para o pagamento, incluindo um a três anos de carência, dependendo da atividade (BRASIL:MAPA:SPA, 2016).
Qual parâmetro é consistente para a tomada de decisão se é viável contratar estes financiamentos naquelas taxas de juros para investir na recuperação de pastagens? Sugiro a comparação com a taxa de inflação oficial (IPCA) que em 2016 foi de 6,29% associada à taxa básica de juros, a SELIC que iniciou 2016 a 14.25% e terminou este ano em 13,79%. Observe que a taxa de juro básica foi bem mais alta (13,79 a 14,25% ao ano) que a taxa de juros para a contratação de financiamentos agropecuários (de 8 a 8,5%), além disso, descontando a taxa de inflação de 6,29%, a taxa real de juros paga seria entre 1,71 a 2,21% (8,0% – 6.29% e 8.5% – 6.29%, respectivamente). Ainda são taxas de juros muito altas, diga-se de passagem, as maiores do mundo, para os padrões internacionais, principalmente para credito agrícola:pecuário.
Fica agora a pergunta
Por que tantos paradoxos entre as altas relações benefício/custo das ações para a recuperação da pastagem degradada e a baixa adoção desta proposta pelos produtores brasileiros? É evidente que a questão é complexa, mas eu tenho apontado que um das principais explicações reside no fato de que a maioria dos produtores só sabe avaliar o impacto do custo, o qual é fácil calcular, mas não sabem avaliar as respostas (os benefícios).
Isso se deve em grande parte à distância entre o conhecimento cientifico/técnico e o produtor.
Via SCOT Consultoria por Adilson de Paula Almeida Aguiar
Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.