A hora é de reflexão e um olhar crítico para a situação, comemorar agora é aceitar a política do pão e circo criada para enganar o produtor.
Falar sobre a pecuária de leite nunca é uma tarefa fácil, afinal de contas é uma cadeia de produção com muitos elos, dos quais nenhum possui afinidade um com o outro, e cheia de comodismo e tendências que ainda desafiam até os melhores economistas para tentar entender o comportamento desse mercado.
Pois bem, vamos falar um pouco do histórico desse mercado começando com um retrato do preço recebido pelo produtor. Como demonstrado pelo gráfico abaixo, temos números que são desanimadores para quem produz, ótimos para quem paga e estranhos para quem compra.
Vamos tentar explicar um pouco dessa situação: O produtor recebeu em 2016 valores que foram superiores a quaisquer já recebido em um histórico de três anos. Essa diferença da média já recebida, foi então destinada a novos investimentos dentro da porteira com avanços na genética e tecnologia de produção com um aumento de produção como resultado.
Juntamente com esse alto valor recebido, estavam os custos de produção abaixo do normal, ou pelo menos, mascarados com o alto preço recebido. Em meados de 2017, o produtor foi pego de surpresa. Como diria alguns, a avalanche tomou conta do setor.
O consumidor final reduziu o consumo drasticamente, o mercado estava abarrotado com tanto leite sendo captado, os atacadistas reduziram a margem dos laticínios, e consequentemente o produtor foi quem pagou a conta disso tudo. Acabou por ai? Não. O mercado de insumos também alterou suas taxas e o custo de produção foi inversamente proporcional ao preço recebido pelo produtor, ou seja, quanto mais o preço recebido pelo produtor caia, a classe trabalhadora via o custo cada vez mais alto.
No final do ano, com toda essa instabilidade generalizada no setor, surgiu então uma promessa do governo, juntamente com associações, de prorrogar prazo para o pagamento de dívidas, medida essa que tentava mais uma vez maquiar toda a história.
Pois bem, tal medida não foi tão boa assim como se esperava. Foram encontrados mais “porém” do que o produtor esperava na hora de renegociar essa dívida junto ao banco. Mas tudo isso é fichinha perto das barbaridades que o produtor ainda sofre quando o assunto é “política governamental” para o setor.
Mas vamos nos atentar ao presente vivido pelo campo nesse momento. Como anunciado por muitos pesquisadores e também por entidades não governamentais, o resultado desse cenário é visto hoje. O gráfico abaixo apresenta o Índice de Captação de Leite, observe que os valores antes crescentes tomaram um rumo de queda mês a mês, como reflexo dos baixos preços recebidos pelo produtor e alta constante dos insumos.
Atrelado a essas causas está a perda da genética que foi investida no passado com o grande número de vacas vendidas para abate para se pagar a conta, além do grande número de produtores que estão deixando a atividade e migrando para outras alternativas.
Com esse número absurdo de produtores deixando a atividade e um plantel de produção sendo perdido para os frigoríficos, não seria nada incomum que o produtor encontrasse agora um aumento, se assim podemos chamar, no preço recebido nos últimos dois meses. Entretanto a pergunta para reflexão é: A que custo estamos recebendo um preço melhor?
Para resumir o futuro desse jogo, anote quem duvidar, o produtor verá seu custo de produção continuar em alta com um mercado externo para os grãos aquecido, seu laticínio “pagando melhor” para poder manter alguns produtores na atividade, e no final das contas a verdadeira conta não irá fechar.
A cadeia produtiva é muito complexa e todos os seus elos tem um histórico de baixa confiança e união cada vez menor. Reflexo disso são as políticas de compra dos laticínios e produtor insatisfeito com o preço recebido. A maior parte das pessoas ainda não sabe como é feito a precificação do leite.
Ontem o produtor reclamava em grande escala pelo Brasil por uma queda que chegou a quase R$0,50 reais/litro, hoje ele comemora um aumento de R$0,05 reais/litro. O futuro será de mais uma revolta generalizada, pelos poucos que se mantém na atividade, em dois ou três meses.
Boa sorte e vamos a luta!