O rebanho bovino brasileiro melhorou a conversão alimentar nos últimos anos e a tendência é melhorar a importância da eficiência alimentar na cadeia produtiva da carne
“Os bovinos mais eficientes comeram 24% menos alimentos, produziram 20% menos fezes e emitiram 9% menos gás metano no ambiente. Economia de alimento e dinheiro para criação dos bois, menos poluição de fezes e de metano. É carne no prato e cuidado com o meio ambiente” – afirmações são da pesquisadora Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, do Instituto de Zootecnia (IZ).
A eficiência alimentar ou eficiência de ganho, é usualmente medida como a relação do alimento consumido e do ganho de peso do animal, por isso está diretamente ligada com a lucratividade da pecuária. Praticamente todas as associações de raças bovinas, com sede no Brasil, realizam provas para avaliar a eficiência alimentar de seus animais.
No Brasil as medidas de eficiência alimentar mais conhecidas pelos pecuaristas são: Eficiência alimentar bruta (EAb) que é calculada pela divisão entre o ganho médio diário (GMD) e o consumo de matéria seca (CMS); a Conversão alimentar (CA) que utiliza-se o inverso, o CMS dividido pelo GMD; e o Consumo alimentar residual (CAR) que é calculado a partir da diferença entre o consumo observado e o consumo estimado. Neste cálculo permite conhecer a diferença entre o que se esperava que o animal consumisse e o que ele realmente consumiu.
O Instituto de Zootecnia (IZ) em Sertãozinho, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, pesquisa eficiência alimentar há 17 anos. Na época em que se iniciaram os estudos no Centro de Pesquisa de Bovinos de Corte a mensuração do consumo alimentar individual era feita em baias individuais, no ano de 2012 foram adquirimos 10 cochos eletrônicos GrowSafe (vindos do Canadá), o que aumentou a capacidade de avaliar maior número de animais concomitantemente, e em 2015 foram adquiridos 12 cochos eletrônicos Intergado (fabricante brasileiro), possibilitando abrir os testes de eficiência alimentar a associações de raça, grupos de criadores e criadores individuais. O banco de dados de eficiência alimentar já conta com 1959 animais Nelore, todos genotipados.
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Segundo a pesquisadora científica e diretora do Centro de Bovinos de Corte do Instituto de Zootecnia, Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, que está no Instituto de Zootecnia desde 2007, o estudo da equipe mostrou que há evidências de benefícios (econômicos e ambientais) na utilização de animais de melhor eficiência alimentar (animais de consumo alimentar residual (CAR) negativo) na cadeia de produção de carne, pois os animais têm menor consumo alimentar, menor excreção fecal e menor emissão de metano entérico.
“Comparando os animais extremos para eficiência alimentar (baixo CAR versus alto CAR), os bovinos mais eficientes comeram 24% menos alimentos, produziram 20% menos fezes e emitiram 9% menos gás metano no ambiente. Economia de alimento e dinheiro para criação dos bois, menos poluição de fezes e de metano. É carne no prato e cuidado com o meio ambiente.
Em um dos rebanhos Nelore do Instituto de Zootecnia, no qual os animais (touros de reposição) são selecionados para maior peso a um ano de idade e menor consumo alimentar residual, já conseguimos mostrar uma mudança genética no sentido de redução do consumo de alimentos sem afetar o peso ao ano de idade. Ou seja, diminuição do valor genético dos animais para consumo alimentar residual e para consumo de matéria seca, e com aumento do valor genético para peso a um ano de idade. Ou seja, touros mais eficientes (CAR negativo) darão progênies com menor consumo de alimentos, e com boa capacidade de crescimento e peso corporal”, afirmou.
A pesquisadora contou que a grande mudança para avançar na eficiência alimentar nos últimos anos no Brasil foi o uso de cochos eletrônicos que trouxe facilidade de mensuração do consumo alimentar individual, e a fabricação, na década de 2010, de um sistema de cochos eletrônicos brasileiro fez com que associações de criadores, centrais de inseminação artificial e mesmo fazendas particulares começassem a medir os animais para estas características, possibilitando a formação de bancos de dados para pesquisa da eficiência alimentar de bovinos no Brasil.
“As pesquisas brasileiras têm mostrado que as características de eficiência alimentar em bovinos (conversão alimentar que é o consumo pelo ganho de peso; e consumo alimentar residual que é o consumo ajustado para peso e ganho de peso) tem herdabilidade baixa a média (de 0,15 a 0,25) e, portanto respondem à seleção. Estas características de eficiência alimentar não têm correlação genética com peso e ganho de peso, mas há uma tendência de animais mais eficientes terem menor valor genético para deposição de gordura de cobertura, e até o momento não foram detectadas relações fenotípicas entre consumo alimentar residual e qualidade do sêmen de touros, ou seja, touros de CAR negativo (mais eficientes) têm qualidade de sêmen igual a touros de CAR positivo (menos eficientes)”, explicou.
Para a pesquisadora, num contexto geral o rebanho brasileiro melhorou a conversão alimentar nos últimos anos. A seleção para maior ganho de peso (GMD) é indiretamente uma seleção para aumento do valor da eficiência alimentar (EA=GMD/consumo) ou para a diminuição do valor da conversão alimentar (CA=consumo/GMD), e os programas de seleção de bovinos de corte sempre tem em seus índices o aumento do ganho de peso (GMD).
“Embora o ganho genético da eficiência alimentar por meio do aumento do GMD não seja tão alto quanto a seleção direta para eficiência alimentar, claramente houve melhoria da conversão alimentar do rebanho bovino brasileiro. Este fato é evidente em confinamentos. Sob uma mesma dieta, bezerros advindos de rebanhos de alto valor genético para ganho de peso, ou de produtores de bezerros que usam touros de alto valor genético para crescimento podem ganhar 30 a 40% a mais que aqueles vindos de produtores de bezerros que usam bois comuns como touros”, explicou.
Impacto direto na lucratividade do pecuarista
“Após 10 anos de seleção para maior peso e menor consumo alimentar residual, os resultados são muito animadores. Por exemplo, o uso de um touro com diferença esperada na progênie (DEP) de CAR de -0,190 kg de matéria seca (MS)/dia. Em termos de matéria natural a DEP de CAR é -0,345 kg de alimento/dia. Parece muito pouco, mas em 1.000 progênies em confinamento de 90 dias, serão gastas 31 toneladas de alimento a menos, e se projetarmos esta economia em 1.000 progênies durante a vida produtiva (730 dias no abate), a economia chega a 250 toneladas de alimento. É tanto dinheiro que equivale ao abate de 83 animais com 18@”, explicou a pesquisadora.
- Dieta: 55% de MS
- Custo kg MN: R$1,66 no confinamento
- Custo kg MN de 1 a 640 dias de idade: R$0,83
- Valor @: R$310,00. RC: 50%
Consumidores estão atentos a produção animal mais sustentável
Para o futuro, Maria Eugênia, acredita que, fatores externos como o alto preço dos alimentos e a exigência mundial para produção animal mais sustentável, com economia de recursos e menor quantidade de dejetos, irá fomentar o número de animais testados para eficiência alimentar.
“Eu sou otimista e acredito que veremos um aumento da importância da eficiência alimentar na cadeia de produção de carne. Ou seja, ocorrerá grande aumento do número de animais testados para eficiência alimentar, inclusão da característica consumo alimentar residual (ou mesmo o consumo de matéria seca) nos índices de seleção praticados nos programas de melhoramento genético de bovinos de corte no Brasil, e a valorização de animais (touros e fêmeas doadoras de embrião) geneticamente provados para eficiência alimentar”, enfatizou a pesquisadora.
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