Pecuária busca mais produtividade

Tecnologia, produtividade, manejo e consumo racional. A associação dessas práticas deve definir o futuro do mercado de carne no país, segundo especialistas.

E é a melhor resposta a quem olha para a atividade com reservas diante do avanço do desmatamento ilegal na Amazônia, que abre espaço para mais pastos, e de alertas como o do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para a necessidade de redução drástica do consumo de carne vermelha.

A pecuária estimula a emissão de gases de efeito estufa (GEE), demanda terra, energia e água, incluindo o que é gasto na produção de grãos para ração – características que levam mais consumidores a buscar alternativas à proteína animal, como os hambúrgueres de carne vegetal.

O Brasil é o maior exportador e o segundo maior produtor de carne bovina do mundo.

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), no ano passado, 20,12% das 10,96 milhões de toneladas equivalentes de carcaça (TEC) produzidas no país foram destinados ao mercado externo – quase metade a Hong Kong e China.

O fato de quase 80% da produção serem destinados ao consumo doméstico indica que, para crescer, o país depende do mercado externo, cujas exigências quanto à qualidade e sustentabilidade dos processos produtivos vêm aumentando.

“Demanda haverá e virá dos países em desenvolvimento”, diz Sergio De Zen, coordenador do grupo de economia e gestão de proteína animal do CepeaEsalq-USP. Mantidos os atuais padrões de consumo, porém, no longo prazo a situação poderá ficar insustentável.

A previsão de aumento de 2 bilhões de pessoas na população global do planeta, até 2050, projeta para aquele ano o dobro da produção atual de carne, com mais pressão sobre o meio ambiente.

Práticas sustentáveis têm sido a resposta de produtores e indústrias ao desafio de produzir com impacto ambiental mínimo. Na fazenda da família Sokoloski, em Nioaque (MS), por exemplo, soluções como a suplementação nutricional do rebanho durante a seca assegura bom lucro por hectare.

“Com essa e outras tecnologias conseguimos aumentar de 30% para 70% a eficiência da pastagem”, diz Igor Sokoloski, representante da geração de jovens que vem ajudando a mudar o perfil da pecuária no país.

“Os estudos mostram que tivemos um ganho enorme da produtividade”, afirma De Zen. Em 2002, cem vacas de corte ocupavam 240 hectares e produziam 45 bezerros de 170 kg. Hoje a mesma quantidade de animais ocupa 150 hectares para produzir 65 bezerros de 200 quilos.

Segundo um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste, as emissões da agropecuária do Brasil correspondem a 0,83% das 49 gigatoneladas de GEE emitidas pelo mundo.

De acordo com o pesquisador Sérgio Raposo Medeiros, o setor conta com um arsenal de soluções que vão de pesquisas para melhoramento genético a vacinas e produtos como o 3NOP (3-nitroxipropanol), que pode mitigar até 60% da emissão de metano.

A pesquisadora e zootecnista Fabiana Villa Alves, também da Embrapa, destaca soluções como a integração lavoura-pecuária-floresta, uma técnica com diferentes sistemas produtivos em uma mesma área.

Na Marfrig, só é fornecedor quem segue a cartilha da sustentabilidade, que destaca o compromisso assumido em 2009 de desmatamento zero no bioma da Amazônia.

“Asseguramos a origem da matéria prima que compramos, mitigando riscos de serem provenientes de zonas associadas a desmatamento e condições de trabalho degradantes”, diz Pianez.

O grupo, que criou uma plataforma para monitorar via satélite os processos produtivos e práticas socioambientais de seus fornecedores, vai lançar este ano a primeira Carne Carbono Zero, produzida em pastos integrados a florestas de eucaliptos, que têm grande capacidade de captura de carbono.

Fonte: Valor Econômico.

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