Pasto consorciado com feijão aumenta produtividade

Parceria da Embrapa com a Universidade Federal do Mato Grosso, experiência pioneira incrementou peso do gado e beneficiou lavouras de soja

Pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril, de Sinop (MT), e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Rondonópolis, lançaram, no mês passado, o Sistema Gravataí, que consiste em um consórcio de braquiárias com feijão-caupi destinado ao pastejo em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). Esse é o primeiro consórcio de gramíneas com leguminosas indicado para solos de textura média e argilosa na região de cerrados, informam os responsáveis.

As pesquisas começaram em 2014 na Fazenda Gravataí, em Itiquira (MT), a 347 quilômetros de Cuiabá. O plantio consorciado das braquiárias com o caupi, na sequência da colheita da soja, resultou em aumento no ganho de peso do gado e melhor produtividade na safra de verão. O ganho na produtividade da soja foi de 20 sacas por hectare no acumulado de três safras, quando comparado a uma área com cultivo tradicional. Já na pecuária, a tecnologia propiciou até 100 gramas a mais de ganho de peso por animal ao dia.

Segundo o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Flavio Jesus Wruck, a semeadura é feita simultaneamente à retirada da soja, que na região ocorre de meados de fevereiro a meados de março. Dentro de 45 a 50 dias, a altura do pastoreio permite ao gado dar entrada. “Importante lembrar que o consórcio não compete com o milho safrinha, pois as duas atividades podem ser exploradas”, diz.

A altura do pastoreio permite ao gado dar entrada entre 45 e 50 dias. Foto Divulgação

A Fazenda Gravataí é uma das Unidades de Referência Tecnológica e Econômica de ILPF acompanhadas pela Embrapa em Mato Grosso e foi parceira no desenvolvimento do consórcio de braquiária com feijão-caupi. Homenageada com o nome do sistema, a fazenda testou e aprovou a tecnologia a ponto de empregá-la atualmente em cerca de 100 hectares.

A expectativa para o próximo ano é dobrar a área, afirma o gerente de pecuária Alexandre Carlos Barazetti. “Estamos ainda trabalhando com animais de recria nesse consórcio. Mas acredito que até na parte de engorda a gente vai ter alguns lotes a partir do ano que vem para avaliar o retorno que o sistema pode dar”, diz. Outras fazendas de lá já engordam o boi em consórcio.

Os pesquisadores informam que parte da explicação pela maior eficiência nos resultados está na melhoria dos atributos químicos, físicos e microbiológicos do solo. “Observamos que, após três anos de implantação do sistema, ocorreu um incremento na qualidade do solo, com aumento de matéria orgânica, principalmente de carbono e nitrogênio, e um incremento considerável na quantidade de microrganismos”, diz o professor da UFMT Edicarlos Damacena de Souza.

Ele explica que a biomassa microbiana é cerca de três vezes maior que num pasto solteiro. Além disso, o incremento de atividade microbiana e o desenvolvimento das raízes promoveram uma descompactação do solo. Esse resultado, prossegue, condiz com o objetivo inicial do trabalho, que começou em 2011.

Foto Divulgação

CULTIVO DO ARROZ

Flavio Wruck, da Embrapa, lembra que o objetivo da pesquisa era desenvolver um consórcio com produção elevada e com alto valor nutritivo de biomassa, que aportasse nitrogênio para o sistema e que, ao mesmo tempo, descompactasse o solo para a cultura do arroz.

O Sistema Gravataí foi testado e obteve resultados positivos com três tipos de braquiárias: a B. ruziziensis, e as B. brizantha BRS Piatã e BRS Paiaguás. Em todas elas, os resultados foram satisfatórios e demonstraram melhorias no incremento de proteína bruta no pasto, aumento da quantidade de carbono orgânico e de nitrogênio no solo e aumento na produtividade da soja. A massa de forragem variou em algumas delas, assim como o índice de ganho de peso.

“Tivemos um resultado de 100 gramas de ganho médio diário por animal. O caupi entrou no sistema para aumentar o valor proteico da pastagem, assim como as melhorias que ele traz para o solo também. Atingimos 6 arrobas por hectare a mais no consórcio com o caupi”, destaca a professora da UFMT Francine Damian da Silva.

Segundo Flavio Wruck, o feijão-caupi é tradicional na região médio-norte de Mato Grosso, portanto, sai mais barato para o produtor. Nas avaliações, o feijão-caupi utilizado foi a cultivar BRS Tumucumaque. Porém, pesquisadores já trabalham com outros materiais apropriados, como a BRS Gurgueia, que é uma cultivar com características de grão menor. Então o produtor vai usar um volume menor de sementes por hectare, reduzindo os custos de implantação.

Semeadura é feita na Fazenda Gravataí, que fica em Itiquira (MT). Foto Divulgação

O Sistema Gravataí pode ser implantado de três formas distintas. Uma delas é de maneira simultânea, utilizando uma semeadeira com terceira caixa, onde são inseridas as sementes da forrageira. As outras opções são utilizando duas operações. Em uma delas, faz-se a semeadura direta em linha do feijão-caupi e na sequência semeia-se também em linha o capim. Na outra alternativa, é feita a semeadura da braquiária a lanço e, em seguida, a semeadura direta do feijão-caupi em linha. Nesse caso, o próprio revolvimento do solo da operação de plantio é suficiente para cobrir as sementes da forrageira, desde que não falte chuva.

O gado deve permanecer no pasto de consórcio entre 90 e 120 dias, sendo retirado a tempo de haver um crescimento do capim antes da dessecação para o plantio da soja na safra seguinte.

Reportagem publicada na edição 393 da Revista Globo Rural, em julho de 2018.

Fonte: Globo Rural

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