Passos para melhorar geneticamente seu rebanho bovino

O melhoramento genético de bovinos de corte da porteira pra dentro se torna viável quando existe um planejamento e gestão afinada.

O melhoramento genético é uma ferramenta que o pecuarista pode utilizar para atingir melhores resultados em sua fazenda, focando em características desejáveis, como peso ao desmame para fazendas de cria ou eficiência alimentar dentro do confinamento, podendo maximizar a produção e melhorar a rentabilidade da fazenda.

Pensando nisso a Scot Consultoria fez uma entrevista com o Professor Josineudson Augusto II de Vasconcelos, que concluiu o doutorado em zootecnia pela Unesp em 2001 e possui pós-doutorado pela Universidade Politécnica de Valência (2003), pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (2004) e pós-doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005).

Scot: Professor, qual a importância de fazer uma seleção genética dentro da fazenda e quais as vantagens que o produtor pode ter?

Professor Augusto: A avaliação genética dentro da fazenda permite ter programa de melhoramento customizado, ou seja, definir as características a serem mensuradas conforme a importância dada pelo proprietário e o mercado que este deseja abordar com sua mercadoria (reprodutores ou produtos). Lógico que estas características devem possuir fundamento científico, que não sejam simplesmente capricho, mas que tenham relação com o aumento da rentabilidade do sistema.

Como vantagens, posso citar: oferecer produtos diferenciados, o criador tomar conhecimento do processo de escrituração zootécnica, dar os primeiros passos nas ferramentas disponíveis, entender o porquê da formação dos grupos contemporâneos, enfim, conhecer e discutir sobre melhoramento com maior entendimento.

Falo isto, pois fazendas estruturadas podem entrar nos grupos e programas existentes, que é importante, mas os que estão iniciando, fica difícil acompanhar os que possuem maior tempo de trabalho e seleção, o que pode desestimular e fazer com que essas fazendas saiam dos programas.

Como desvantagens principais, os animais teriam menores valores de acurácia e no momento de comprar material genético de fora do rebanho, seja sêmen e/ou reprodutor, não poderia comparar as DEPs (diferenças esperadas nas progênies) destes com as obtidas dentro do rebanho. Realizar seleção dentro de rebanho tem suas dificuldades, mas pode ser o primeiro passo do criador no caminho do melhoramento genético animal, temos exemplos de sucesso, bem como temos exemplos de criadores que iniciaram em programas com várias fazendas que apresentaram resultados formidáveis.

Scot: Ultimamente tem-se falado muito sobre o consumo alimentar residual (CAR), o que é e quais características são desejadas nos animais?

Professor Augusto: O CAR é característica que visa a rentabilidade dos animais, busca identificar aqueles animais que tem acesso à mesma dieta e que consomem menos ganhando o mesmo peso ou mais que aqueles que consomem mais.

É como se você identificasse um carro que consumisse menos combustível para rodar certa quilometragem. A importância da característica CAR é pensando por exemplo em um confinamento, imagina você ter produtos filhos de touros com DEP baixa para o CAR (mais eficiente) e que comem menos 2kg MS/dia, em confinamento de 100 dias, seriam 200kg MS a menos por animal, e se pensarmos em 5 mil animais confinados, seriam quantos quilos de MS a menos? E o valor?

É uma característica economicamente importante, não é à toa que é uma das características mais estudadas nos congressos internacionais que tenho participado. Além de estar relacionado com metano, etc.

Características desejadas são aquelas que seu mercado paga melhor, se você vende bezerro desmamado, quais seriam as desejadas? Peso à desmama, habilidade materna, e as menos lembradas, as reprodutivas, pois, afinal se não nascer o bezerro, o que você vai vender?

Scot: Um obstáculo que está sendo encontrado é a correlação negativa entre o CAR e as características de carcaça. Existe como contornar esses problemas e quais ferramentas poderiam ser utilizadas?

Professor Augusto: Conforme novos estudos estão acontecendo, está sendo desmistificada esta correlação negativa. Nas análises com os touros do programa Nelore Qualitas a estimativa da correlação genética não se mostra desfavorável, são estudos iniciais que estão agora na fase de análise utilizando dados dos genótipos dos animais e que permitirão ter maior acurácia.

Aliás, tem que se tomar cuidado, se a correlação genética for negativa de duas características onde uma o melhor animal é negativo (DEP para CAR, quanto mais negativo, menos consumiu) e outra o melhor é positivo (DEP para EGS, quanto mais positivo melhor), seria o ideal, pois teríamos um animal negativo para o CAR e positivo para EGS. Portanto, seria melhor falar não favorável. Agora, se for confirmado a correlação não favorável entre CAR e EGS, uma possibilidade seria montar índice de seleção que contemplasse as duas características.

Scot: Hoje, para o produtor que não faz nenhum tipo de melhoramento genético na sua fazenda, quais são os primeiros passos para iniciar?

Professor Augusto: Pensar em treinamento de funcionário, se a equipe não estiver afinada fica difícil. A equipe deve conhecer o porquê está pesando os animais e realizando mensurações, anotando a mudança dos lotes, a importância da escrituração zootécnica, etc.

Depois, montar cronograma de eventos, pesagens (pelo menos peso à desmama), mensurações, data de parto, tipo de serviço, identificação do touro, podem parecer coisas simples, mas andando pelo Brasil, tem muitas propriedades que não possuem o básico para iniciar um programa de seleção dos reprodutores.

Estruturou? Vamos definir qual o objetivo de seleção e quais critérios serão utilizados (quais características selecionar para alcançar o objetivo). Depois, existem dois caminhos, ou inicialmente realizar programa dentro de fazenda ou entrar em um dos programas de melhoramento estabelecidos no Brasil.

O melhoramento genético é uma ferramenta que o pecuarista pode utilizar para atingir melhores resultados em sua fazenda, focando em características desejáveis, como peso ao desmame para fazendas de cria ou eficiência alimentar dentro do confinamento, podendo maximizar a produção e melhorar a rentabilidade da fazenda.

*Professor Doutor Josineudson Augusto II de Vasconcelos, médico veterinário formado na Universidade Estadual do Ceará. Possui mestrado em Genérica e Melhoramento Animal, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e doutorado em Zootecnia pela mesma universidade. Possui pós-doutorado pela Universidade Politécnica de Valência, pós-doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente trabalha na Unesp, Campus de Botucatu-FMVZ, no departamento de melhoramento e nutrição animal, como professor assistente doutor e orienta mestrandos e doutorandos na Unesp, Campus de Jaboticabal, no curso de genética e melhoramento animal.

Via Scot Consultoria

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