Touros jovens Nelore e Tabapuã provados são arrematados no LeiloShopping Embrapa/AGCZ em Goiás.
Com modelo de negócio inédito, que contempla pré-lances via internet além dos tradicionais lances presenciais, o LeiloShopping de Touros Jovens Embrapa/AGCZ “A Excelência em Eficiência Genética”, realizado último sábado (29) na Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO), promoveu a democratização da genética de reprodutores provados das raças Nelore e Tabapuã. Foram comercializados 46 animais, sendo 39 Nelore e sete Tabapuã. Os touros foram os mais bem avaliados no último Teste de Desempenho de Touros Jovens (TDTJ) realizado pela Embrapa Cerrados (DF) em Goiás.
O evento presencial contou com cerca de 300 participantes, entre criadores, consultores e parceiros e marcou o encerramento da Goiás Genética 2018, feira promovida pela Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ) em Goiânia. O valor total das vendas foi de R$ 497.900,00, montante que, descontadas as despesas, foi repassado aos criadores que disponibilizaram os animais. O valor médio dos lotes correspondeu a R$ 10.823,91. Os touros Nelore foram arrematados pelo valor médio de R$ 11.040,00, enquanto os Tabapuã foram negociados por R$9.620,00 em média.
Os chefes gerais da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, e da Embrapa Arroz e Feijão, Alcido Wander, ressaltaram a importância do LeiloShopping e da sintonia da Embrapa com os produtores rurais. Karia destacou que o evento é a finalização de uma estratégia de transferência de tecnologia. “Colocamos nesses animais todo o conhecimento sobre indicadores de desempenho animal para que o pecuarista possa fazer boas escolhas e incrementar o rebanho. Ele pode escolher o animal que mais se adapta às suas condições ou que poderá suprir as carências (de seu sistema) adquirindo um touro desses”, disse.
Para Wander, o LeiloShopping é a materialização dos resultados da avaliação de animais visando à identificação daqueles que podem oferecer maior eficiência para os criadores. “Por meio da utilização de animais com melhores indicadores de desempenho, conseguiremos melhorar a qualidade e a eficiência de nossos sistemas produtivos. Na agricultura e pecuária de hoje, e mais ainda nos próximos anos, não há espaço para a produção ineficiente. Temos que buscar, cada vez mais, trabalhar com genética e sistemas de produção que favoreçam a qualidade com eficiência”, comentou.
Coordenador do TDTJ e do LeiloShopping, o pesquisador Cláudio Magnabosco, da Embrapa Cerrados, destacou a parceria técnica entre a Embrapa, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP). “Estamos em prol da obtenção e da identificação de animais melhoradores, não importando a associação e a variação genética. Queremos oferecer o melhor animal, o mais lucrativo. A gente se esmera nisso, seja Nelore, seja Tabapuã”, afirmou.
Formato inovador
Os pré-lances do LeiloShopping puderam ser dados desde o dia 14 de setembro na página do canal Arroba TV na internet, que exibiu informações técnicas e vídeos sobre cada lote ofertado. A ferramenta digital permitiu a participação de mais interessados de outras regiões do País. Os participantes que arremataram lotes com lances virtuais tiveram desconto de 5% no valor das compras. No dia do evento presencial, os pré-lances virtuais foram consolidados e concorreram com os lances presenciais. A Arroba TV gerenciou o recebimento dos lances virtuais e presenciais e transmitiu o LeiloShopping pela internet.
O presidente da ANCP, Raysildo Lôbo, parabenizou a Embrapa e a AGCZ pelo formato inovador do LeiloShopping. “Participei da implantação da internet no Brasil nos anos 1990 e sempre disse que (com ela) diversas atividades poderiam ser feitas de qualquer lugar. O atual sistema de comercialização de animais no País é muito caro, então temos que fazer com que você possa escolher (os lotes) e dar um lance a priori. E aqui se faz isso”, afirmou.
O modelo de shopping virtual também foi elogiado por Marcelo Garcia, técnico do Escritório Técnico Regional da ABCZ em Goiânia que acompanha as avaliações do TDTJ. “Isso permite que as pessoas possam ter mais qualidade e informação. Disponibilizamos todas as informações de que o comprador precisa para adquirir um touro consciente do que ele pode fazer para o seu rebanho. É isso o que queremos”, salientou.
Animais melhoradores
Com média de idade de 24 meses, os touros leiloados são provenientes de diferentes criatórios do Brasil Central e foram classificados no TDTJ como superiores (aqueles que obtiveram índice final até 10% superior à média geral dos animais participantes da avaliação) e elite (com índice final pelo menos 10% superior à média geral).
As características avaliadas no TDTJ são peso, ganho de peso, crescimento, reprodução, rendimento de carcaça, acabamento de carcaça, avaliação visual e eficiência alimentar. Também são apurados os mérito genético total econômico (MGTe), índice do Programa Nelore Brasil; e o iABCZ, índice de seleção da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu que contempla características de importância econômica.
Marcelo Garcia, que auxiliou Cláudio Magnabosco nos comentários sobre os lotes durante o LeiloShopping presencial, frisou que os touros ofertados são melhoradores e eficientes em converter alimento em carne. “São animais economicamente viáveis, vão trazer mais lucratividade e a possibilidade de permanência no negócio da carne. Têm, no seu exterior, uma beleza racial bastante desejável, mas, principalmente, com sua genética melhoradora, trazem resultados para a propriedade”, explicou.
Eficiência alimentar
O presidente da AGCZ, Wagner Miranda, considerou o LeiloShopping um marco histórico e decisivo de mudança na pecuária brasileira por ter ofertado animais provados para eficiência alimentar. “Pela primeira vez, os touros avaliados para eficiência alimentar foram disponibilizados para o produtor de forma democrática, acessível e de baixo custo. Esses animais, ou o sêmen de alguns deles, estarão disponíveis a qualquer produtor, de forma que essa genética possa ser pulverizada nas propriedades. Se você considerar que cada descendente desses animais vai produzir uma arroba a mais, isso é uma alavanca grande demais. E não tem volta”, apostou.
- Rancho da Matinha destaca-se novamente na eficiência alimentar
- Cochos eletrônicos identificam animais com melhor eficiência alimentar
Foi com base nesse critério que Miranda, criador em Inhumas, Caturaí e Paraúna (GO), arrematou 50% de dois lotes do LeiloShopping, sendo um deles um touro Nelore pintado. O animal foi o primeiro colocado do TDTJ no critério eficiência alimentar, apresentando o menor consumo alimentar residual (CAR) da prova. O CAR compara animais diferentes em peso, taxa de ganho de peso, grau de acabamento e estado fisiológico. Para isso, estima-se um consumo ajustado para determinado animal, dado que é então comparado com o consumo real. A diferença resultante é o CAR. Assim, os animais que consomem menos que o estimado (CAR negativos) são mais eficientes.
“A eficiência alimentar é a ferramenta mais moderna e que realmente faz a diferença na produção da pecuária de corte com sustentabilidade. Fiz questão de comprar os dois lotes”, afirma Miranda, que também arrematou o touro Tabapuã terceiro colocado geral no TDTJ, que se destacou, ainda, nos critérios ganho em peso e crescimento.
Disseminação da genética
Os dois lotes adquiridos por Miranda e parceiros foram contratados pela central de genética bovina CRV Lagoa para fornecimento de sêmen. Apoiadora do LeiloShopping e parceira da Embrapa nos TDTJ desde 2002, a empresa já contava, na bateria de touros, com 15 animais Nelore, Nelore mocho e Tabapuã identificados em outras edições do teste.
O gerente de produto corte da empresa, Ricardo Abreu, conta que os novos touros se somam a outros dois touros jovens Nelore provados também contratados neste ano – eles foram identificados na prova de eficiência alimentar, realizada em abril, e o sêmen já está em comercialização. “A velocidade da identificação e da democratização dessa genética é um ponto fundamental que devemos colocar para a sociedade. A genética não tem fronteira e as raças zebuínas são a base da produção de carne brasileira”, afirmou.
Enquanto o touro Nelore pintado foi contratado por ter sido o campeão em eficiência alimentar, o reprodutor Tabapuã selecionado pela CRV Lagoa chamou a atenção dos técnicos por outros aspectos. “Ele foi o terceiro colocado na prova de ganho de peso e teve um ganho médio diário (em peso) fantástico”, disse Abreu.
Segundo o gerente, o animal também despertou interesse pelo volume de musculatura na carcaça; pelo grande comprimento de costela, característica relacionada à precocidade de acabamento; pelo padrão racial apresentado, tido como excepcional; e o pedigree. “A linhagem paterna e materna foram importantes em nossa decisão para compor a bateria de nossos touros”, completou.
O preço médio da dose de sêmen dos quatro touros jovens deverá ser de R$ 25, o que, segundo Abreu, proporcionará uma boa relação custo-benefício para o produtor que utiliza a inseminação artificial por tempo fixo (IATF) para emprenhar vacas. “E ele estará adquirindo uma genética avaliada”, acrescentou.
A previsão é de que cada reprodutor forneça, inicialmente, ao menos 5 mil doses por estação de monta (três a quatro meses). Os bezerros resultantes das IATF serão avaliados ao nascimento, na desmama e ao sobreano. “Se esses touros transmitirem aos filhos, com elevada confiabilidade, tudo aquilo que foi destaque na prova, eles se tornarão raçadores, pois haverá a recompra e todo mundo vai querer usar (o sêmen)”, explica.
Ganho de peso
Criador em Cocalinho (MT), Hugo Frota é um antigo comprador de reprodutores Nelore de elite provados pela Embrapa. O foco do criador, um produtor e vendedor de touros, sempre foi nos animais mais pesados e com maior ganho de peso para uso no repasse* das vacas PO** que não emprenharam com a IATF.
“Sempre tento comprar animais entre os três primeiros (colocados) das provas e eles têm contemplado minhas expectativas. Tanto que agora procurei o touro mais pesado e consegui comprá-lo”, disse Frota, que adquiriu o terceiro colocado geral no TDTJ, pesando 702 kg aos 25 meses de idade – o mais pesado entre todos os animais ofertados. No TDTJ, o touro se destacou em crescimento, rendimento de carcaça, acabamento de carcaça e na análise visual.
O animal arrematado atende às demandas apontadas por Frota no comércio de reprodutores. “Quem compra touros agora não quer animais com chifres, mas de batoque pequeno. Também não quer touro de umbigo grande, pois há uma perda grande em função disso. A grande procura é por peso e precocidade”, explicou. Na propriedade, ele seleciona animais sem chifres, de umbigo curto e que se destacam não apenas em ganho de peso, como também em perímetro escrotal.
Touro equilibrado
Selecionador de touros e fêmeas Nelore PO há mais de 40 anos e dono de um dos principais criatórios da raça no País, com fazendas em Guapó e Jussara (GO) e São José do Xingu (MT), Júlio Bernardes foi o criador com mais lotes ofertados (10 touros) no LeiloShopping.
Mas ele também foi às compras e adquiriu um reprodutor que se destacou principalmente em ganho de peso, crescimento, reprodução, acabamento de carcaça, MGTe e na avaliação visual. “É um animal que tem uma régua de DEP*** equilibrada. O pai dele é de uma linhagem que dá bastante marmoreio (na carne), que estamos interessados em inserir (no rebanho). E é um garrote de carcaça boa, perfil racial bom, então é um animal equilibrado”, comentou.
Bernardes aprovou a qualidade dos 46 touros comercializados no LeiloShopping. “De maneira geral, são muito bons. O importante é que eles passaram por provas de seleção, evidenciando realmente o valor genético. E só foram comercializados os animais elite e superiores (do TDTJ), o que já é uma pré-seleção. O criador compra um produto com a certeza de que ele vai transmitir tudo aquilo que mostrou”, afirmou.
O criador também salientou a importância das provas de ganho de peso e de eficiência alimentar realizadas pela Embrapa. “De agora em diante, as centrais (de genética) só vão aceitar touros certificados, que têm provas. Hoje, temos mais de 30 especificações. É como as sementes, que se não forem certificadas, não valem nada”, comparou.
Via Embrapa