“Paramos completamente de entregar ao Carrefour”, revelou diretor da Minerva 

Frigoríficos interromperam entregas ao Carrefour em resposta ao boicote à carne do Mercosul. A repercussão da declaração do CEO do grupo foi o tema mais comentada da última semana, gerando um debate internacional.

A suspensão de fornecimento de carnes ao Carrefour por parte dos principais frigoríficos brasileiros, incluindo Minerva, JBS e Marfrig, expõe tensões crescentes entre o agronegócio nacional e o mercado europeu. A decisão veio após declarações do presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre a interrupção da compra de carne do Mercosul para as operações na França.

A resposta dos frigoríficos brasileiros não demorou. “Paramos completamente de entregar ao Carrefour e isso é uma coisa clara. Se não mudar a postura, não tem fornecimento”, afirmou João Sampaio, diretor institucional da Minerva, ao Agro Estadão. Segundo ele, a fala de Bompard foi “hipócrita” e motivada por interesses protecionistas, gerando uma reação unificada entre grandes indústrias de carnes no Brasil.

Contexto: tensões no mercado internacional

As declarações de Bompard foram vistas como um ataque indireto à qualidade dos produtos brasileiros e como uma tentativa de proteger os agricultores franceses da concorrência internacional. Apesar de a decisão do Carrefour se aplicar apenas à França, o impacto ressoou no Brasil, principal exportador de carne bovina do Mercosul.

Autoridades brasileiras também reagiram. Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, questionou a decisão: “Se não serve para os franceses, não vai servir para os brasileiros”, sugerindo que o Carrefour enfrentaria consequências no mercado local. Governadores, associações do setor e entidades como a FHORESP (Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo) se uniram em um movimento de boicote à rede no Brasil.

Impacto no Brasil: união do setor contra boicote do Carrefour

Cerca de 50 caminhões com produtos destinados ao Carrefour tiveram suas entregas suspensas no último sábado (23), segundo o Agro Estadão. Além disso, diversas entidades, como a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), elogiaram a decisão dos frigoríficos. “Esse é um momento de união de toda a cadeia”, declarou Guilherme Bumlai, presidente da Acrissul.

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, também se posicionou: “Como cidadão, tenho o direito de boicotar quem nos desrespeita. A não ser que eles se retratem”. Ele reforçou a importância de reciprocidade nas relações comerciais e defendeu a imagem do agronegócio brasileiro.

Protecionismo europeu: uma barreira ao livre comércio

Especialistas apontam que a postura do Carrefour reflete o protecionismo agrícola da União Europeia. Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, destacou a contradição das potências europeias: “Defendem o livre comércio, mas tornam-se avessas quando seus interesses agrícolas estão em jogo”.

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Foto: Divulgação

A tentativa de boicote também repercutiu negativamente na Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte. Antonio Salvo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), criticou a hipocrisia dos países europeus: “Deixamos um terço do Brasil preservado dentro das propriedades. Não conheço nenhuma indústria europeia que faça o mesmo”.

Prejuízo econômico e risco à imagem

Embora o impacto econômico direto da suspensão de fornecimento ao Carrefour seja limitado, especialistas apontam riscos ideológicos. Sérgio de Zen, professor da Esalq/USP, alertou: “Se essa narrativa se propaga, o impacto na percepção da carne brasileira pode ser significativo”.

O Carrefour Brasil, segundo maior mercado da empresa no mundo, tem mais de 1.200 lojas no país. Isso torna o Brasil uma peça-chave no faturamento global da marca, aumentando a pressão para que a empresa reveja sua postura.

Acordo Mercosul-UE em risco?

A tensão entre Brasil e França não é novidade. Recentemente, o CEO do grupo francês Tereos, Olivier Leducq, também criticou o acordo entre Mercosul e União Europeia, classificando-o como gerador de “concorrência desleal”. O episódio evidencia uma crescente resistência europeia ao fortalecimento das exportações agrícolas sul-americanas.

O que dizem os envolvidos?

Até o momento, o Carrefour reiterou que a medida “se aplica apenas às lojas na França” e que não questiona a qualidade dos produtos do Mercosul. No entanto, a falta de um posicionamento claro ou de retratação aprofunda as tensões.

Enquanto isso, frigoríficos como JBS, Marfrig e BRF optaram por não comentar o assunto. A Minerva, em contrapartida, reafirma seu compromisso com a qualidade e o respeito às normas sanitárias e ambientais.

Um debate além da carne

O embate entre o Carrefour e os frigoríficos brasileiros vai além do fornecimento de carnes: é uma disputa por respeito, reconhecimento e reciprocidade. O Brasil, maior exportador mundial de carne bovina, vê no episódio uma oportunidade para reafirmar a excelência de sua produção e contestar o protecionismo disfarçado de preocupação ambiental.

A suspensão do fornecimento representa não apenas um movimento de defesa, mas também um alerta ao mercado internacional: o Brasil exige ser tratado como parceiro de peso no comércio global.

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