Apenas sete jogadores do time olímpico de futebol valem mais do que os R$ 40 milhões pagos pelo Qatar por Palloubet D´Halong, cria do cavalo campeão olímpico.
A brecada inesperada diante do obstáculo tirou as chances de ouro em Sydney 2000 e inseriu um verbo no vocabulário popular do brasileiro: refugar. Nunca um cavalo foi tão popular no Brasil como Baloubet du Rouet. Com Rodrigo Pessoa, o animal da raça sela francês formou um dos conjuntos mais vencedores do hipismo, tricampeão do mundo e campeão olímpico em Atenas 2004. Dois anos depois, veio a aposentadoria, mas não o fim da relação com os Jogos Olímpicos. Seu filho, Palloubet D´Halong está na Rio 2016 para defender as cores do Qatar com o status de ser mais caro que 11 atletas da seleção brasileira que buscará o inédito ouro olímpico no futebol.
Por indicação do campeão olímpico holandês, Jan Top, a federação do Qatar desembolsou 11 milhões de euros (cerca de R$ 40 milhões) para tirar o herdeiro de Baloubet da suíça Janika Sprunger, que também estará no Rio. De acordo com o site Transfermarket, somente sete atletas convocados por Rogério Micale têm valor de mercado maior: Neymar, Marquinhos, Gabigol, Felipe Anderson, Gabriel Jesus, Rafinha e Luan. O prestígio, entretanto, não é proporcional ao investimento, e o animal foi inscrito na Olimpíada somente como reserva, pelo cavaleiro Bassem Hassan Mohammed. Dejavú formará o conjunto oficial.
A supervalorização de Palloubet vem muito da sua genética. Além das qualidades como saltador, Baloubet du Rouet deixou sua marca como reprodutor e chegou a ter o sêmen vendido por 5 mil euros (quase R$ 20 mil). Diretor de cavalos novos da Confederação Brasileira de Hipismo, Antônio Celson Fortino não acredita que o histórico valha tamanho investimento:
– O Baloubet foi um grande atleta e raceador, que transmitiu a qualidade para os filhos. O valor deste cavalo é realmente fora do padrão, não se tem notícia de venda de cavalos que tenha chegado perto disso. No máximo, em um leilão, um cavalo chegou a custar 9 milhões de euros, que foi o cavalo medalha de prata em Londres. Quando você começa a criar um cavalo, você vê pelo lado estatístico dos animais. Ele até foge um pouco das características do pai, e foi vendido para um cavaleiro com pouca experiência. No nosso esporte, o cavalo representa 60% da prova.
Bronze por equipes ao lado de Rodrigo Pessoa em Atlanta 1996 e Sydney 2000, Álvaro de Miranda Neto, o Doda, não recrimina os abusos financeiros do Qatar. Por outro lado, lembra que Palloubet, ao contrário do pai, não permite retorno através de reprodução:
– É difícil. Amanhã, se uma pessoa oferece muito dinheiro no meu cavalo, eu não vou vender. É uma loucura. Você vai me perguntar: vale isso? Não vale, é muito dinheiro. O cavalo pertence à Federação do Qatar. Eles são bilionários. Para eles, não faz diferença nenhuma, mas isso não é uma garantia de medalha. E também um cavalo que é castrado, que não vai poder reproduzir. É um investimento de altíssimo risco, mas, para eles, não faz diferença. Não acho errado eles terem feito isso pelo dinheiro que eles têm.
Curiosamente, Rodrigo Pessoa participará da Rio 2016 na mesma condição do filho de seu antigo companheiro: reserva. O campeão olímpico lembra com carinho de Baloubet, que deixou as competições há uma década:
– Ele vive em Portugal, na fazenda do proprietário dele, desfrutando da sua aposentadoria. Ele tem o merecido descanso pelo extraordinário cavalo que foi nas pistas. Ele foi um parceiro muito importante na minha carreira, que me ajudou em muitas conquistas.
Fonte globoesporte.globo.com