O uso da palha de cana-de-açúcar como matéria-prima poderia incrementar essa quantidade em cerca de 6%.
A eletricidade produzida a partir da biomassa, atualmente, é responsável por 8% da eletricidade total gerada no Brasil, que foi de 620 TWh em 2016, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisas Energéticas (EPE).
O uso da palha de cana-de-açúcar como matéria-prima poderia incrementar essa quantidade em cerca de 6%.
Segundo a pesquisadora do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e gestora executiva do Projeto Sucre, Thayse Hernandes, com o incremento da palha de cana, considerando o potencial de geração excedente com a queima do bagaço, somada ao potencial de 50% da palha disponível no Brasil, seria possível gerar aproximadamente 100 TWh de eletricidade. “Essa eletricidade supriria 70% do consumo residencial brasileiro, de acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN)”, informa.
De acordo com a pesquisadora, o potencial considera a produção de 140 kg de palha (base seca) por tonelada de cana-de-açúcar e de recolhimento de metade de toda a palha gerada na colheita da safra passada, quando foram processadas 612 milhões de toneladas de cana na região do Centro-Sul do Brasil, que responde por 93% do processamento total do País, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Os parâmetros de produção e de rendimento de energia foram baseados em informações da Divisão de Inteligência de Processos do CTBE, que são responsáveis pela ferramenta Biorrefinaria Virtual de Cana-de-Açúcar”, esclarece.
PROJETO SUCRE
O Sugarcane Renewable Electricity (Sucre) faz parte de um conjunto de projetos gerenciados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), fomentados com recursos do Global Environment Facility (GEF).
Segundo Thayse, o Sucre tem como base o Projeto “Brazilian Biomass Power Generation: Sugarcane Bagasse Extension”, também financiado pelo GEF e desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), na década de 1990. “Como output (resultado) deste projeto, começou-se a pensar na palha como possível complemento ao bagaço na geração de eletricidade, a partir da colheita mecanizada e da proibição da queima dos canaviais”, relata.
A meta do Sucre é aumentar a oferta de energia elétrica com baixa emissão de gases do efeito estufa, por meio da utilização da palha da cana, em complemento ao bagaço, para a geração de eletricidade no setor sucroenergético. “O setor se beneficiará de avaliações e soluções tecnológicas para o recolhimento, processamento e queima da palha, podendo, assim, aumentar o potencial de geração de eletricidade nas unidades”, explica a pesquisadora.
O projeto também entregará estratégias de remoção de palha para diferentes ambientes de produção de cana-de-açúcar, de modo a reduzir os impactos agroambientais. “Como a nossa matriz depende fortemente do regime de chuvas, devido à predominância hidráulica na geração, a eletricidade produzida com o uso da biomassa da cana-de-açúcar tem potencial para diminuir o despacho de termoelétricas movidas a combustíveis fósseis, como o gás natural, já que o pico da safra e, portanto, a maior disponibilidade de biomassa, ocorre na época de estiagem (entre maio a outubro, no Centro-Sul)”, detalha Thayse.
BENEFÍCIOS
“Existe o benefício claro da redução da emissão de gases do efeito estufa vinculados a nossa matriz energética. O aumento da geração de eletricidade pelas usinas por meio do uso da palha aumentaria a oferta, principalmente em época de estiagem, evitando o uso de termelétricas movidas, principalmente, a gás natural”, observa Thayse.
Ainda, de acordo com o levantamento realizado, essa eletricidade tem como benefícios o fato de ser despachável, podendo ser demandada conforme a necessidade do Operador Nacional do Sistema (ONS), e também de ser gerada próxima aos centros consumidores, evitando gastos e perdas na transmissão.
“Além disso, o uso da palha também contribui para o alcance das metas de redução de emissões firmadas nos Compromissos Nacionalmente Determinados (NDC) pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris (COP 21)”, informa.
CALCULADORA VIRTUAL
As usinas de cana-de-açúcar, empresas e agências dos setores público e privado e usuários em geral poderão estimar benefícios ambientais, assim como o custo do recolhimento da palha e as receitas obtidas com a geração de eletricidade, em uma calculadora virtual que está sendo desenvolvida pelo Projeto Sucre.
“Para fazer o cálculo, o usuário deverá inserir dados como o total de cana processada, a produtividade de palha recolhida e a distância de deslocamento da palha até a usina. A calculadora será desenvolvida a partir de resultados obtidos em análises de usinas reais que fazem parte do Projeto Sucre”, informa Thayse, acrescentando que a ferramenta servirá ainda para a divulgação das potencialidades do estudo realizado e para que interessados possam entrar em contato com a equipe do CTBE para solicitar informações ou avaliações mais específicas.
PRINCIPAIS REGIÕES
De acordo com Thayse, as regiões que mais podem contribuir para esse incremento, neste caso, são as que mais produzem cana, como o Estado de São Paulo e, em menor proporção, os Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. “De maneira geral, 93% da produção de cana-de-açúcar na última safra se deu na região Centro-Sul, que é a maior consumidora de energia elétrica no País. Ou seja, quanto mais próxima a geração de energia elétrica dos centros de carga (consumidores), menores as perdas e os gastos com transmissão”, arremata.
Fonte: Equipe SNA/SP