Segundo as informações obtidas, atualmente, são 8 navios com fertilizante atracados que estão sendo descarregados; Outros aguardando espaço para descarregar!
O país possui agora um grande dilema que foi criado pela chamada “corrida dos fertilizantes”. Os players do mercado, envolvidos na compra e venda destes insumos, acabaram se deparando com um cenário de “falta do produto”, para o momento de falta espaço para armazenamento do produto. Brasil não passará por desabastecimento de fertilizantes, mas preços podem seguir elevados por alguns meses!
Segundo a Paraná Portos, empresa que administra o terminal, o porto está movimentando uma quantidade incomum de fertilizantes. Ainda segundo as informações obtidas pelo Compre Rural, um dos insumos com maior volume a ser movimentado neste momento é o Cloreto de Potássio, com um montante superior a 120.000 toneladas.
Principal porta de entrada de fertilizantes do país, o conhecido Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná tinha, nesta segunda-feira (30), 8 navios com insumos atracados, 16 aguardando para descarregar e 18 anunciados para os próximos 30 dias.
Ainda de acordo com dados da Camex, no primeiro quadrimestre deste ano, o terminal movimentou 3,6 milhões de toneladas de fertilizantes, o que representa um aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2021. Com isso, toda a capacidade de armazenamento de 3,5 milhões de toneladas do porto já está em uso, dificultando o trabalho de descarga.
Jogo de “quem ganha mais”
O atual cenário de congestionamento de navios com fertilizante importado que foi criada no porto de Paranagua é resultado de estratégias diferentes que foram criadas pelos elos envolvidos na cadeia mundial deste insumos.
Os compradores decidiram antecipar a importação de fertilizantes – com o receio de faltar produto no mercado brasileiro – , principalmente após as sanções que foram impostas contra a Rússia e contra Belarus por conta da guerra na Ucrânia, mesmo já sabendo da impossibilidade de não ter espaço suficiente para armazenagem no país.
Lembramos que, segundo os dados médios, juntando os principais insumos utilizados na agricultura brasileira , o Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome. Essa dependência foi criada após governos anteriores incentivarem a hibernação de importantes plantas industriais e da dificuldade da liberação de licenças para extração de reservas.
Do outro lado, os produtores ruais – visando reduzir seus custos de produção da próxima safra – estão adiando as compras dos insumos, esperando preços melhores, especialmente no segundo semestre.
Segundo Luiz Teixeira da Silva, diretor de operações da Portos do Paraná, os navios que atracam nos berços públicos do Porto de Paranaguá descarregam o fertilizante diretamente para os armazéns de retaguarda, fora da área do porto organizado.
“Estes armazéns pertencem à iniciativa privada e vendem o espaço para o importador que deposita ali a sua mercadoria. A capacidade total dos armazéns de retaguarda gira em torno de 3,5 milhões de toneladas. Em tempos normais, a mercadoria tem um giro para o interior, evitando que o sistema fique saturado. Atualmente, o fertilizante não está saindo de Paranaguá. Então temos um grande volume chegando, resultado da antecipação das compras por parte do importador, e um volume bem menor saindo, resultante da demora da venda para o produtor rural”, explicou em entrevista.
Silva acredita que o mercado está se adaptando às novas realidades, como pandemia e guerra, e que vai demorar um pouco para a comercialização começar a rodar normalmente.
“É uma combinação de fatores: antecipação de compras, aumento de frete, aumento do preço do produto. São variáveis que o mercado vai ter que conviver e se auto regular”, afirma.
Média da importação de fertilizantes em maio
As importações de fertilizantes do Brasil envolveram US$ 1,945 bilhão até a terceira semana de maio (15 dias úteis), com média diária de US$ 129,711 milhões. A quantidade total de fertilizantes importada pelo país ficou em 2,556 milhões de toneladas, com média de 170,428 mil toneladas. O preço médio da tonelada ficou em US$ 761,10.
Em relação a maio de 2021, houve alta de 232,3% no valor médio diário da importação, ganho de 38% na quantidade média diária importada e valorização de 140,8% no preço médio.
Preços de fertilizantes tem reajuste de 350%
O preço dos principais fertilizantes teve um reajuste de mais de 350%, saindo de uma média de US$ 350 por tonelada, na safra passada, para US$ 1,3 mil por toneladas na safra deste ano, um percentual de reajuste que, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), pode gerar desabastecimento de alimentos no mercado mundial.
O impacto no aumento dos preços, segundo Fernando Cadore, presidente da entidade, não será sentido apenas pelo produtor rural, mas também vai afetar o consumidor final, que terá menos alimentos nas prateleiras do supermercado.
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“Sugerimos, nesta semana, à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) que acione o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), cobrando explicações das empresas sobre o reajuste no preço considerado pelo setor produtivo como “abusivo e inexplicável” ou mesmo como “formação de cartel”, ou seja, com intuito de gerar lucro às poucas indústrias que atuam no país”, afirma Cadore.
Ainda para Cadore, “toda empresa, como atividade econômica, visa lucro, mas a geração de caixa exorbitante de uma das maiores fornecedoras de fertilizantes mundial chama a atenção para os atuais preços praticados. Essas empresas, em caso de desabastecimento alimentar, também deverão ser responsabilizadas, já que com os atuais preços desses insumos, a agricultura pode se tornar impraticável no país”.