Aakash Doshi, chefe de commodities do Citi na América do Norte, compartilhou suas análises fornecendo projeções que antecipam um retorno aos patamares pré-Covid, caracterizados por preços mais baixos e baixa volatilidade, até o final deste ano; entenda
À medida que adentramos o ano de 2024, os mercados globais de soja e milho se deparam com perspectivas desafiadoras, delineadas por Aakash Doshi, chefe de commodities do Citi na América do Norte. O especialista compartilhou suas análises em uma recente conferência em São Paulo, fornecendo projeções que antecipam um retorno aos patamares pré-Covid, caracterizados por preços mais baixos e baixa volatilidade, até o final deste ano.
Neste artigo da Compre Rural, exploraremos as principais razões apontadas por Doshi para esse panorama baixista, examinando os impactos previstos nos mercados de soja e milho, especialmente para os produtores brasileiros, que desempenham um papel vital nesse cenário global. Discutimos as tendências de mercado, impactos para os produtores e estratégias essenciais que podem ser adotadas para mitigar os desafios e preservar a rentabilidade em um contexto de incertezas econômicas, condições climáticas variáveis e mudanças nas dinâmicas de oferta e demanda.
Principais razões de Doshi para o panorama de baixa
Doshi apresenta uma série de razões fundamentais que sustentam o panorama baixista nos mercados globais de soja e milho, trazendo desafios importantes para os produtores e investidores nos próximos meses.
Recuperação de estoques nos EUA: A previsão de uma produção excedente de soja e milho nos Estados Unidos em 2024/25 é um fator crucial. Isso implica um aumento substancial nos estoques nos próximos 12 a 18 meses. Com uma perspectiva de clima favorável e uma área plantada em expansão, a produção norte-americana é projetada para crescer, contribuindo para a elevação dos estoques e exercendo pressão baixista nos preços.
Argentina vai retornar ao mercado: A recuperação esperada na produção argentina na safra 2024-25 é uma segunda influência importante. Evitando compensar a queda na produção brasileira, a Argentina poderia voltar com força ao mercado exportador, impulsionando ainda mais a oferta global e contribuindo para a pressão de baixa.
Comércio forte no Mar Negro: Apesar da falta de um acordo para a manutenção do corredor de exportação no Mar Negro, a Rússia continua a aumentar suas exportações de grãos. Mesmo com desafios logísticos, a oferta abundante na região do Mar Negro mantém os preços competitivos, adicionando um componente baixista ao cenário global de soja e milho.
Demanda global fraca: A estabilidade projetada na demanda global é contrabalançada pelo risco de enfraquecimento, especialmente em meio às perspectivas de recessão na Europa e nos EUA em 2024. A China, principal importadora de soja, mostra um crescimento moderado nas, mas esse aumento pode não compensar o aumento previsto na produção global, resultando em uma demanda relativamente estável.
Posição dos fundos: Uma mudança na posição dos fundos, que transitaram de compradores para vendidos nos mercados de soja e milho, sinalizando uma perspectiva pessimista. A expectativa é de que essa posição neutra a vendida seja mantida, diminuindo a falta de preocupação dos traders com uma possível escassez de oferta.
Esses fatores combinados delinearam um panorama desafiador para os mercados de soja e milho, destacando a complexidade das variáveis que influenciarão os preços e a dinâmica dessas commodities nos próximos meses.
Tendências que moldarão o comportamento desses mercados nos próximos meses
À medida que nos aproximamos dos próximos meses, diversas tendências emergem como forças moldadoras do comportamento dos mercados globais de soja e milho. Essas tendências, influenciadas pelas dinâmicas econômicas, climáticas e geopolíticas, determinarão um papel crucial na determinação dos preços e na direção desses mercados fundamentais.
Produção nos EUA e na América do Sul: O desempenho da produção nos Estados Unidos e na América do Sul continuará a ser um fator central. O crescimento projetado da produção norte-americana, aliado às condições climáticas climáticas, poderá aumentar os estoques e exercer pressão baixista nos preços. Ao mesmo tempo, o impacto das safras na Argentina e no Brasil será monitorado de perto, pois influenciará a oferta global.
Evolução do clima: O comportamento das condições climáticas será um elemento-chave. A previsão de um clima favorável nos principais centros de produção pode gerar produtividade, contribuindo para o aumento da oferta. No entanto, os eventos climáticos extremos, embora considerados improváveis no curto prazo, representam ainda uma fonte de incerteza que pode alterar significativamente a dinâmica dos mercados.
Política e economia Argentina: A evolução da política macroeconômica na Argentina, após a eleição de Javier Milei, e seu impacto na produção e nas exportações de grãos terão um papel significativo. A possível desvalorização da moeda argentina e as decisões políticas podem influenciar a competitividade do país nos mercados internacionais.
Negociações comerciais globais: As negociações comerciais e os acordos bilaterais terão um impacto direto nos mercados de soja e milho. A continuação do comércio forte no Mar Negro, apesar da ausência de um acordo formal, e das decisões comerciais entre grandes players, como os Estados Unidos e a China, influenciarão os volumes de exportações e os preços globais.
Economia global e demanda: A saúde da economia global e a demanda por commodities abrangerão um papel decisivo. O possível cenário de recessão na Europa e nos EUA, conforme previsto pelo Citi, pode impactar a demanda da soja, especialmente. Além disso, o crescimento moderado nas importações chinesas, apesar do esperado, será um fator chave a ser distribuído.
Posicionamento dos fundos: A continuidade da posição vendida dos fundos indica a percepção predominante de uma oferta mais confortável. O monitoramento dessas posições ao longo dos próximos meses será crucial para entender a confiança dos investidores em relação às perspectivas de oferta e demanda.
Impactos para os produtores brasileiros
Os impactos nos mercados globais de soja e milho têm implicações significativas para os produtores brasileiros, que desempenham um papel crucial na oferta mundial dessas commodities. Diante do cenário delineado por Aakash Doshi e suas projeções baixistas, os agricultores no Brasil podem enfrentar vários desafios nos próximos meses.
Pressão nos preços e margens de lucro: A expectativa de preços mais baixos para a soja e o milho representa uma ameaça direta às margens de lucro dos produtores brasileiros. Com a possibilidade de os valores ficarem abaixo dos níveis observados em 2019, os agricultores podem se deparar com uma pressão financeira significativa, especialmente se os custos de produção permanecerem elevados.
Competição com a Argentina: A recuperação prevista na produção argentina e a sua possível volta ao mercado exportador podem intensificar a concorrência entre Brasil e Argentina. Isso pode impactar a participação brasileira nos mercados internacionais e, consequentemente, afetar a renda dos agricultores, especialmente se a Argentina puder oferecer preços mais competitivos.
Variações cambiais e macroecômicas: As variações cambiais, associadas à possível desvalorização da moeda argentina, têm implicações diretas para os produtores brasileiros. Flutuações nas taxas de câmbio podem influenciar a competitividade das exportações brasileiras e, por conseguinte, afetar os ganhos dos agricultores que dependem fortemente do comércio internacional.
Escolhas de cultivo e estratégias de plantio: Diante das perspectivas de preços mais baixos para a soja e o milho, os produtores podem reavaliar suas escolhas de cultivo e estratégias de plantio. Pode haver um redirecionamento para culturas alternativas ou uma busca por eficiência operacional para compensar as margens mais estreitas.
Negociações de contratos e financiamentos: A volatilidade nos preços das commodities pode afetar as negociações de contratos futuros e acordos de financiamento para os produtores. A incerteza nos mercados pode influenciar as decisões de investimento e as condições de empréstimos, adicionando um elemento de complexidade para os agricultores brasileiros.
Adaptação à demanda e às tendências do consumidor: Considerando a demanda global e as tendências de consumo, os produtores brasileiros podem precisar se adaptar a mudanças nas preferências dos consumidores e na demanda por produtos agrícolas específicos. Isso pode envolver ajustes na produção para atender a demandas específicas de mercado.
Estratégias para mitigar os impactos
Diante do cenário desafiador projetado para os mercados globais de soja e milho, os produtores brasileiros podem adotar várias estratégias para mitigar os impactos negativos em suas operações e preservar a rentabilidade. Aqui estão algumas estratégias-chave:
Diversificação de culturas: Considerando a volatilidade dos preços de soja e milho, os produtores podem explorar a diversificação de culturas. Investir em cultivos alternativos ou rotação de culturas pode proporcionar uma fonte adicional de renda e reduzir a dependência de um único produto.
Otimização de insumos: A gestão eficiente de insumos, como fertilizantes e pesticidas, é crucial. Utilizar tecnologias de agricultura de precisão para monitorar e ajustar o uso desses insumos pode resultar em redução de custos e aumento da eficiência agrícola.
Adoção de práticas sustentáveis: A implementação de práticas agrícolas sustentáveis não apenas atende às demandas do mercado, mas também pode ser uma estratégia para otimizar custos. Práticas como plantio direto, rotação de culturas e manejo integrado de pragas podem melhorar a saúde do solo e reduzir despesas com insumos.
Gestão eficiente de custos: Focar na gestão eficiente de custos é essencial. Os produtores devem revisar seus orçamentos, identificar áreas de economia e buscar maneiras de reduzir despesas sem comprometer a produtividade.
Investimento em tecnologia: A incorporação de tecnologias modernas, como maquinário agrícola avançado e sistemas de monitoramento, pode aumentar a eficiência operacional. Essas inovações não só melhoram a produtividade, mas também auxiliam na tomada de decisões baseada em dados.
Hedging e gestão de riscos: A utilização de estratégias de hedging, como contratos futuros ou opções, pode ajudar a proteger os produtores contra a volatilidade dos preços. Além disso, implementar planos de gestão de riscos, considerando fatores climáticos e geopolíticos, é fundamental para mitigar incertezas.
Buscar novos mercados e parcerias: Explorar oportunidades em novos mercados ou estabelecer parcerias estratégicas pode diversificar as fontes de receita. A abertura para mercados regionais ou a busca por contratos de longo prazo com compradores confiáveis podem reduzir a exposição aos movimentos de preços globais.
Ao implementar essas estratégias, os produtores brasileiros estarão mais preparados para enfrentar os desafios apresentados pelas projeções baixistas nos mercados de soja e milho, contribuindo para a sustentabilidade e resiliência de suas operações.
Escrito por Compre Rural.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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