Os cinco passos para uma TIP de sucesso

A pecuária de corte no Brasil sofreu grandes mudanças, havendo contínua redução nas margens de lucratividade e a TIP pode ser a solução. Confira!

Neste cenário, é fundamental que se promova o incremento em produtividade para a manutenção do lucro. Pensando exclusivamente em operações de terminação não é diferente, o ganho em carcaça deve ser alto o suficiente para custear dieta, ágio do boi magro, operacional e demais custos.

Isso somente é possível mediante a oferta de dietas energeticamente adensadas, o que também pode ser realizado à pasto, desde que suplementando os animais na ordem de 1,5 a 2% do peso corporal. Esse nível de suplementação caracteriza a terminação intensiva a pasto (TIP). Porém, existem diversos aspectos que devem ser considerados para ter sucesso na operação da TIP.

A terminação compreende cerca de 16% da vida do animal somente (três a quatro meses), considerando um abate entre 22 a 24 meses de idade. Porém, cerca de 35% do peso da carcaça será formado nesta fase. Adicionalmente, o padrão de crescimento dos animais se altera nesse momento, pois quanto mais próximo da maturidade, menor será a deposição de proteína e maior a deposição proporcional de gordura na carcaça (Owens et al., 1995). Essa mudança na deposição de tecido corporal eleva a exigência dos animais, devido a maior demanda energética para depositar gordura em relação à proteína.

Assim, para produzir uma carcaça com o mínimo de acabamento, os animais precisam ingerir uma dieta adensada energeticamente. Tradicionalmente a terminação dos animais ocorre em confinamentos, onde os animais são alimentados com ração balanceada. Contudo, recentemente a TIP vem ganhando espaço e a proporção de animais terminados nesse sistema aumenta a cada ano. A TIP possui uma série de vantagens e alguns desafios. Desse modo, iremos elencar 5 passos para ter sucesso nessa operação dentro da fazenda, utilizando como base alguns estudos realizados na APTA/Colina-SP. 

Passo 1: Nível de suplementação

Como visto anteriormente, a demanda energética do animal é elevada durante a terminação, ao mesmo tempo seu trato gastrointestinal reduz em proporção ao peso corporal (PC). Por isso, o pasto isoladamente não é capaz de oferecer os nutrientes necessários para altos ganhos em carcaça.

Levando em consideração ainda que a TIP predominantemente ocorre na estação da seca, período em que o pasto possui baixa qualidade. Desse modo, é necessário que o nível de suplementação esteja entre 1,5 e 2% do PC dos animais. Isso pode ser evidenciado ao analisarmos os dados do experimento conduzido por Custódio et al. (2016), no qual animais Nelore, não castrados, com PC inicial de 480 kg, foram terminados por 89 dias à pasto no período da seca.

Foram comparados dois níveis de suplementação, sendo eles: 0,5 e 2% do PC. Foi verificado que os animais suplementados com 2% do PC apresentaram maior ganho médio diário (1,505 kg/dia) quando comparados a 0,5% do PC (0,534 kg/dia). Isso acarretou um adicional de 77 kg de carcaça e 4,9% a mais de rendimento de carcaça. Além disso, a espessura de gordura subcutânea dos animais que receberam 0,5% do PC foi de 1,8 mm, enquanto dos animais que receberam 2% do PC foi de 3,6 mm. Estes resultados evidenciam a necessidade de maiores níveis de suplementação para ganhos elevados em carcaça e um mínimo de acabamento para os animais terminados na TIP.

Passo 2: garantir pasto disponível o durante todo o período de terminação.

O consumo de pasto pelos animais na TIP compreende menos de 10% das exigências de proteína bruta (PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) diárias, variando entre 15 e 20% da ingestão total de matéria seca (Siqueira et al., 2018). No entanto, o pasto é fonte de fibra fisicamente efetiva, auxiliando na motilidade ruminal, ruminação, controle de pH e, consequentemente, diminui o risco de acidose. Por isso, sua disponibilidade durante todo o período de terminação é fundamental para que os animais possuam bom desempenho.

Em um estudo comparando baixa (2,5 kg de MS kg-1 de PC) e alta oferta (4,5 kg de MS kg-1 de PC) de pasto na TIP, Vellini (2014) observou que os animais da alta oferta de pasto tiveram maior eficiência biológica (kg de concentrado por arroba produzida).

Foram necessários 15 kg a menos de suplemento para produzir uma arroba de carcaça, em comparação aos animais mantidos na pastagem com baixa oferta de pasto. Esse estudo demonstra que a disponibilidade de pasto durante o período da TIP é determinante para os resultados financeiros obtidos. A recomendação é garantir no mínimo a massa de 1.000 kg de MS por animal na entrada da TIP.

Além da oferta, a qualidade do pasto também é importante para que os animais tenham bom desempenho. Usualmente, é recomendado o diferimento do pasto por períodos curtos (40 a 60 dias), precedidos de adubação nitrogenada (entre 50 e 100 kg ha-1 de N). Isso garante a oferta de um pasto com maior qualidade durante o período da TIP. 

Passo 3: adaptar os animais ao suplemento de forma gradual.

Assim como na terminação em confinamento convencional, na TIP os animais necessitam ser adaptados à dieta com alta inclusão de concentrado. Inicialmente ocorre uma série de mudanças comportamentais, na composição da microbiota ruminal e fisiológicas no animal (Nagaraja et al., 1997). Por isso, é necessário adotar um protocolo de adaptação gradual. Isso garante o estabelecimento de uma microbiota ruminal adequada, adaptação das papilas ruminais e preparação das vísceras e órgãos para metabolizar a dieta.

Os animais necessitam “aprender” a regular a ingestão do suplemento e a quantidade de pasto necessária para manter a saúde ruminal. Assim, são recomendados protocolos em que os níveis de suplementação sejam aumentados em escada, 0,25% do PC animal a cada 3-4 dias seguidos de cocho sem sobras (Alves Neto et al., 2018). Para animais não suplementados durante a recria a sugestão é iniciar com 0,5% do PC, subindo gradualmente até os 2% do PC.

Em animais suplementados com níveis iguais ou superiores à 0,3% do PC, a suplementação pode iniciar com 1% do PC. Uma boa adaptação no início da TIP irá evitar distúrbios metabólicos nos animais, assim como variações no consumo de suplemento e no desempenho dos animais dentro do lote.

Passo 4: dimensionar corretamente o sistema e utilizar ferramentas para controle de processos.

A TIP possui algumas vantagens quando comparada a terminação em confinamento convencional. Entre elas podemos citar: menor desembolso inicial em instalações; não necessita de estrutura e estocagem de volumoso para a seca; fornecimento de um trato diário, pois o animal regula o consumo de suplemento; manutenção de altas taxas de lotações nas pastagens diferidas (4 a 6 animais/ha); reposição de altas quantias de nutrientes ao solo via fezes e urina; e maior bem-estar aos animais (Alves Neto et al., 2018; Siqueira et al., 2018). Contudo, é necessário que o sistema seja bem dimensionado para aumentar a chance de sucesso na operação.

Em geral, a recomendação para o tamanho dos piquetes é que possuam entre 15 e 20 hectares. O número de animais no lote também é importante, devendo garantir lotes de 80 a 120 animais e variação de 30 kg de PC na apartação. Adicionalmente, o espaçamento de cocho deve estar entre 25 e 30 cm lineares. Essas dimensões reduzem o número de conflitos entre os animais, garantindo melhor desempenho e menor variação dentro do lote, evitando a formação de fundo/refugos.

Um aspecto que também merece destaque é o local de instalação dos bebedouros. Estes devem possuir boa vazão e de preferência serem instalados a 100 m de distância dos cochos para suplementação. Essa medida faz com que a formação de barro pela água de lavagem seja evitada e que os animais sujem menos a água com resíduos de suplementos carregados pela boca. Os bebedouros devem ser lavados com frequência, sempre que estiverem sujos.  

Além do dimensionamento, é fundamental ter ferramentas para controle de processos. Dentre elas podemos destacar o monitoramento do escore fecal. As fezes e como elas se apresentam (forma e consistência) podem indicar a ocorrência de alterações no trato gastrointestinal e suas implicações na saúde e desempenho dos animais. Desse modo, a avaliação do escore fecal proporciona entender a interação dieta e animal dando informações rápidas para tomada de decisão no manejo nutricional e/ou falhas no dimensionamento, como espaçamento de cocho reduzido, uso inadequado de aditivos na dieta e desvios de mistura e de trato.

Passo 5: utilizar o ganho em carcaça para avaliar o desempenho dos animais.

A avaliação do desempenho dos animais é necessária para determinar o resultado financeiro da atividade. Porém, o uso isolado do ganho médio diário (GMD) como métrica pode acarretar conclusões errôneas na TIP. Nela o rendimento do ganho (RG) dos animais é superior, quando comparada à terminação em confinamentos convencionais. Essas métricas devem ser utilizadas em conjunto para tomada de decisões e avaliação dos giros.

Um estudo realizado por Moretti (2015) comparou animais terminados na TIP e em confinamento convencional. Foi ofertado a mesma quantidade de concentrado (2% do PC), porém no convencional os animais receberam bagaço de cana como volumoso. Foram utilizados 108 animais Nelore, não castrados, com 387 kg de PC inicial e terminados por 125 dias. Ao final do estudo os animais do confinamento tiveram um maior GMD (1,130 vs. 0,960 kg/dia) e PC final (521 vs. 492 kg), quando comparados aos animais na TIP.

No entanto, os animais apresentaram o mesmo peso de carcaça (300 vs. 298 kg). Isso se deve ao maior RG dos animais terminados na TIP (684 vs. 819 g/kg), relacionado com os menores pesos de rúmen, do conteúdo no trato gastrointestinal e da gordura visceral que apresentaram.

É provável que isso ocorra pela possibilidade de os animais selecionarem pasto na TIP, garantindo uma fibra de melhor qualidade e maior taxa de passagem. Assim, com a menor retenção do alimento no rúmen ele reduz seu tamanho. O estudo evidencia que o RG é uma métrica para ser avaliada de forma conjunta ao GMD para tomar conclusões assertivas e ter sucesso na TIP.

Fonte: Nutricorp

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