Raça, antes carregadora de pedras na Índia, torna-se máquina de produzir carne no Brasil tropical; conheça também a origem do nome “Nelore”
Quando Pedro Álvares Cabral partiu com destino ao caminho para as Índias, em 1500, dando nome a expressão “Rota das especiarias”, ele acabou atingindo o litoral de um novo continente, a América, quando avistou terra na costa do que mais tarde seria o Brasil. Séculos mais tarde, exploradores brasileiros também partiram com destino ao país indiano em busca, não de especiarias, mas do zebu. Que mais tarde se tornaria um verdadeiro espetáculo de produtividade em terras tupiniquins.
O Nelore é, disparado, a melhor raça de corte que o Brasil possui na sua pecuária. Maior prova disso é que ao longo das últimas décadas os animais da raça foram testados e usados em cruzamentos, raças sintéticas foram desenvolvidas, todos eles sempre usaram o Nelore como base genética para o melhoramento da pecuária de corte, logo, podemos concluir que a raça possui inúmeras qualidades, tanto que mais de 80% do rebanho nacional é Nelore, tanto sucesso assim até parece que a raça é brasileira, mas, de fato não é, ela foi importada da Índia.
Quando os portugueses aportaram em nosso esplendido litoral não encontraram nenhuma raça bovina. A espécie bovina só foi introduzida ao continente Sul Americano no ciclo das Grandes Navegações. O gado chegou com os colonizadores portugueses e holandeses, a maioria era gado europeu (Bos taurus), embora também houvesse mestiços de gado zebu (Bos indicus).
Resumindo os acontecimentos históricos de uma forma simples, podemos dizer que os portugueses transportaram animais para o Brasil após a sua descoberta. Os primeiros bovinos chegaram ao nosso país, juntamente com outros animais domésticos, apenas em 1533, na Expedição de Martin Alfonso de Souza. No final do século XVI havia uma grande abundância de bovinos no litoral brasileiro e em todas as Capitânias Portuguesas.
Considerando os aspectos evolutivos, sabe-se que os bovinos que deram origem às primeiras raças brasileiras vieram de Espanha e Portugal e que os seus deslocamentos, pelas diferentes regiões do país, determinaram processos de seleção natural de distintas populações, adaptadas às condições locais. No Brasil do século XXI restaram somente cinco raças locais; destas, quatro em risco de extinção, são elas: a Curraleiro Pé-Duro, a Pantaneira, o Crioulo Lageano e a Mocho Nacional. A quinta raça, que tornou-se mais prolifera era o Caracu, raça mais expressiva no início do século XX.
No século passado houveram várias importações de bovinos e três grandes fases, mas aqui vamos nos ater somente à terceira fase, também conhecida como “a grande importação de 1962”. Essa importação foi feita por José da Silva (Dico), enviado de Torres Homen, Francisco José de Carvalho, enviado de Rubens de Andrade Carvalho e Veríssimo Costa Junior. Essa, foi de longe, a melhor importação de Nelore já ocorrida, foi nessa época que notou-se uma grande qualidade nos animais trazidos e que nos trouxe até o Nelore atual.
A raça trazida da Índia na verdade é o Ongole indiano. O Ongole é uma raça de gado nativa originária do distrito de Prakasam, no estado de Andhra Pradesh, na Índia. A raça deriva seu nome do lugar de origem da raça, a cidade de Ongole, o nome vem de Omgole, que significaria “submisso a Shiva“. Shiva é um dos deuses supremos do hinduísmo, uma das religiões mais antigas do mundo. Essa tradição religiosa teve início com a antiga cultura védica por volta de 3.000 a.C. Atualmente a religião é a terceira maior do mundo, ficando atrás apenas do Cristianismo e do Islamismo.
Segundo dados site Census, a população estimada do local é de 200 mil habitantes. O Ongole é muito semelhante à raça Gaolao de Madhya Pradesh e a raça Bhagnari do Norte. Dentre dezenas de raças zebuínas exportadas, o Ongole se destaca como uma das principais.
Os bovinos da raça Ongole são muito importantes na Índia, eles desempenharam um papel muito importante na produção de muitas outras raças famosas. Por exemplo, a raça Brahman, que tem origem norte-americana, é um composto com sangue Ongole, o gado Santa Gertrudis também tem sangue Ongole, desenvolvido no Texas, Estados Unidos.
Na Índia, o Nelore também é utilizado como animal de tração
Os indianos consideram o bovino um animal sagrado. A exploração dos animais é concentrada na produção de leite e no transporte. O rebanho indiano é constituído, na sua grande maioria, de animais mestiços, de tipos variáveis. Alguns poucos núcleos de animais foram selecionados pelos criadores locais e constituíam tipos ou raças com características próximas do gado puro milenar. Os mais conhecidos e puros que deram supostamente origem ao zebu brasileiro são:
- Gado Branco do Norte ou Brahmane;
- O tipo Misore do Sul Hallikar, Kangavam, Khillari, Nimari;
- Gado Gir, das regiões de Kathiawar;
- Gado Pardo ou Vermelho Sahiwal, Sindhi;
- Gado Cinza de Madras:
- Norte ou escuro: Hissarr, kankrej (nosso Guzerá), Malvi, Tharparkar;
- Sul ou Claro: Bhagnari, Hariana, Krishna, Nagori, Ongole, Gado de Dhanni do Punjab.
Por quê Ongole tornou-se Nelore?
Consultado, o Engenheiro Agrônomo e Jurado de Raças Zebuínas, Carlos Marino, nos contou que existem algumas teorias sobre o assunto. “Não se sabia exatamente o que era Ongole, várias raças zebuínas foram trazidas ao Brasil, muitos cruzamentos se deram nessa época, um composto de raças. Entretanto houve um momento em que os técnicos, criadores e profissionais perceberam a qualidade da raça, `a partir daí começaram as fases de importação da raça pura no século passado por grandes exploradores brasileiros, mencionados no texto acima.”
Marino salienta que até hoje existem criadores que optaram por um composto zebuíno, união de várias raças, já outros buscaram a raça pura na Índia, os dois são classificados como Nelore.
Quando chegou ao Brasil, a raça Ongole teve seu nome alterado para Nelore. Isso porque durante as primeiras importações da raça, realizadas por brasileiros, foram embarcadas na cidade portuária chamada Nelore, ainda no Estado de Andhra Pradesh. De lá, os navios carregados de Ongole partiram com destino ao Brasil, originando assim o nome NELORE.
