ONG ambientalista é acusada de grilagem de terras no Pantanal

A Ecotrópica teria ocupado aproximadamente 5 mil hectares de propriedades da União e de um fazendeiro, com o intuito de gerar títulos ambientais, os quais foram comercializados a R$ 2 mil por hectare

Em dezembro de 2024, uma denúncia formal foi protocolada no Ministério Público Federal (MPF) e no Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul (MPE-MS), levantando suspeitas sobre um esquema de grilagem de terras públicas e privadas no Pantanal. A acusação envolve a ONG ambientalista Ecotrópica, que, segundo as investigações, estaria utilizando documentos de georreferenciamento e títulos ambientais para gerar lucros ilícitos, com a venda de Cotas de Reserva Ambiental.

O empresário e fazendeiro Bruno Teixeira Canabrava, proprietário da Fazenda São Gonçalo do Amolar, localizada a mais de 150 km de Corumbá, foi o responsável pela denúncia. Canabrava também é sócio da empresa paulista Miller Foods Distribuição e Importação de Alimentos.

A denúncia alega que a Ecotrópica, ONG com sede em Mato Grosso e comandada por Angelo Rabelo, ex-policial militar, estaria se apropriando de cerca de 5 mil hectares de terras privadas e áreas públicas da União, anexando-as às propriedades Penha e Acurizal, também sob o controle da organização. Nelson Araújo Filho, advogado e co-denunciante, explicou que, ao contrário dos métodos tradicionais de grilagem, que envolvem a ocupação física da terra, a ONG estaria utilizando documentos de georreferenciamento do INCRA e emitindo títulos ambientais pelo IMASUL para comercializar essas terras virtualmente, possibilitando a compra dessas áreas por produtores de outras regiões do Brasil. Esse processo permitiria que os produtores, que excederam o limite de desmatamento em suas próprias terras, pudessem “compensar” a área desmatada, comprando as cotas de reserva ambiental no Pantanal e se livrando da necessidade de reflorestar.

O advogado, embora reconheça que a iniciativa poderia ser vantajosa para a preservação do bioma, denuncia que o esquema tem sido manipulado para gerar lucros elevados. Ele alega que a Ecotrópica estaria vendendo esses títulos ambientais por cerca de R$ 2 mil por hectare, o que, segundo ele, poderia resultar em até R$ 10 milhões com a comercialização das 5 mil hectares, valor este que não seria repassado ao real proprietário da terra, mas à ONG, que apenas controla as áreas.

Apesar de a Ecotrópica ser proprietária de aproximadamente 27 mil hectares no Pantanal, grande parte desses terrenos é de áreas alagáveis, que, de acordo com a legislação, não poderiam ser usadas para a emissão de títulos ambientais. Araújo questiona a credibilidade do INCRA e do IMASUL, órgãos que são responsáveis pela emissão desses documentos. Ele sugere que pode haver conivência dentro dessas instituições, já que ambas possuem um registro detalhado das terras no Pantanal e não cometem erros grosseiros.

A Ecotrópica, uma das principais gestoras de um corredor ecológico de 530 mil hectares no Pantanal, possui apoio de investidores influentes, como Teresa Bracher, André Esteves e Elizer Batista. Este último fez uma doação de 13 mil hectares ao Instituto do Homem Pantaneiro (IHP), uma organização de destaque na preservação do Pantanal.

Após a denúncia, tanto a Ecotrópica quanto o IHP se manifestaram publicamente, negando qualquer envolvimento em práticas ilícitas. O IHP divulgou uma nota oficial em que afirma que as acusações contra a Ecotrópica são falsas e que a ONG tem uma sólida reputação no campo da conservação ambiental. A Ecotrópica também rechaçou as acusações, classificando-as como difamação e reafirmando seu compromisso com a preservação do Pantanal, destacando que suas atividades são legítimas e transparentes.

Curiosamente, a denúncia foi feita logo após Angelo Rabelo ser reconhecido no programa “Melhores do Ano”, da TV Globo, por seu trabalho em prol da conservação do Pantanal. Rabelo, ao receber o prêmio, enfatizou a importância de proteger a natureza e destacou a colaboração entre a Ecotrópica e o IHP no combate aos incêndios no bioma. Esse reconhecimento também foi comentado por William Bonner, apresentador do programa, que destacou a relevância das ações contra as mudanças climáticas e a preservação do Pantanal.

Rabelo também foi homenageado internacionalmente, sendo reconhecido no The Explorers Club, em Nova York, como um dos 50 líderes globais dedicados à promoção de transformações ambientais positivas.

A investigação sobre a grilagem de terras no Pantanal continua em andamento, e as autoridades competentes devem avaliar as evidências para esclarecer os fatos. Enquanto isso, a Ecotrópica e o IHP reafirmam seu compromisso com a proteção do bioma, enquanto os denunciantes aguardam que a justiça seja feita.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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