A iniciativa reforça a atuação da Embrapa no Maranhão, conectada com as demandas do setor produtivo e articulada com as instituições de pesquisa.
Projeto da Embrapa Cocais para estudar possibilidades da cadeia do babaçu ocupar novos nichos de mercado a partir da agregação de valor aos seus coprodutos está na fase de realização de capacitação das quebradeiras de coco sobre novos métodos e técnicas de produção. Agora foi a vez das quebradeiras de coco do assentamento Canto do Ferreira, em Chapadinha, conhecerem novos processos e coprodutos – como o biscoito, gelado e hambúrguer – a partir da amêndoa e do mesocarpo de babaçu.
O projeto tem a coordenação da Embrapa Cocais com financiamento da agência de cooperação técnica alemã – GIZ e gestão financeira da Rede ILPF em parceria com a Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Instituto Federal do Maranhão – IFMA, Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, iniciativa privada, organizações não governamentais e outros agentes das cadeias de valor. Vinculado a este projeto está a parceria da Embrapa Cocais com o The Good Food Institute – GFI e a Funarbe, para o desenvolvimento de hambúrguer à base de babaçu”.
“A expectativa é a inserção dessas mulheres no mercado de alimentos artesanais e veganos e do Maranhão, tornando o estado referência em bioeconomia e uso sustentável de produtos da biodiversidade e na valorização da identidade sociocultural de povos e comunidades tradicionais. O projeto representa também a riqueza da interação de conhecimentos técnico-científicos e das comunidades extrativistas. A iniciativa reforça a atuação da Embrapa no Maranhão, conectada com as demandas do setor produtivo e articulada com as instituições de pesquisa presentes no estado, para inclusão produtiva e geração de riqueza com baixo impacto ambiental”, destaca Marco Bomfim, chefe-geral da Embrapa Cocais.
Segundo Guilhermina Cayres, chefe-adjunta de transferência de tecnologia da Embrapa Cocais, grupos organizados de quebradeiras de coco sempre produziram e comercializaram pães, bolos, biscoitos e sorvetes feitos com babaçu, cuja produção local não atende a nichos de mercado que valorizam alimentos artesanais devido à falta de padronização, informações técnicas nos rótulos e regularidade dos produtos.
A pesquisa vem desenvolvendo alimentos considerando as condições específicas das quebradeiras de coco e suas práticas tradicionais, sem imprimir muitas modificações à forma como elas vêm praticando o processo, mas estabelecendo melhorias, padronizações – inclusive de qualidade e segurança alimentar – e novas formulações (inclusive veganas) para agregar valor às amêndoas quebradas e diversificar a produção.
“O que se quer não é só garantir a segurança alimentar, mas também criar as bases para potencial negócio socioambiental, com a oportunidade de ingressar em mercados de alimentos de base vegetal sem glúten e sem lactose. Assim como os demais grupos de quebradeiras de coco que estão passando por esse tipo de capacitação e intercâmbio de conhecimentos, as quebradeiras de Canto do Ferreira relataram que cada vez mais tem crescido a procura por alimentos veganos e com pouca ou nenhuma adição de açúcar e, até então, elas não tinham opções desse tipo de formulação. Não esperamos que elas deixem de fazer as formulações anteriores, mas sim que conheçam outras alternativas de alimentos com as partes comestíveis do coco babaçu, que podem ser consumidos por pessoas com restrições alimentares”, explica.
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Para Gracilene de Jesus, presidente da Associação das Quebradeiras de Coco do assentamento Canto do Ferreira, a oficina foi histórica e será muito importante para mudar a vida dessas mulheres, que há décadas lutam para sair da condição de pobreza. “Nesses momentos com os pesquisadores, professores e estudantes, aprendemos e ensinamos muito também. Nessa oficina em especial, aprendemos como aproveitar ainda mais o babaçu produzindo coprodutos de qualidade e que podem ser consumidos por todos, por não possuírem açúcar, glúten e leite, ou seja, alimentos saudáveis e muito gostosos. Também conhecemos mais o potencial do leite e do bagaço de babaçu e tivemos acesso às dicas nutricionais dos professores. Agora temos mais condições de aumentar nossa produção e renda. Nossa comunidade é só alegria e gratidão aos pesquisadores”.
Com a palavra, os parceiros
Westphalen Nunes, representante da Agência GIZ no Brasil, destaca que a agenda para o babaçu percorre a abordagem da cadeia de valor, gargalos, boas práticas, saúde e segurança para as quebradeiras de coco, novas parcerias e novos produtos, comercialização, entre outros temas. “Queremos colaborar para que o babaçu possa explorar suas potencialidades, gerando mais renda e qualidade de vida às quebradeiras, mais opções de produtos de qualidade para o mercado consumidor e mais riqueza com desenvolvimento sustentável para o Maranhão. Estamos muito felizes com a cooperação e as quebradeiras também, pois sabem que vão melhorar a qualidade e a diversidade dos alimentos que têm produzido, permitindo atingir novos nichos de mercado”.
Nilo Sander, representante da Rede ILPF, também se mostrou satisfeito em trabalhar com esse grupo tão único, sensível e guerreiro. “A melhoria dos processos e desenvolvimento de novos produtos vai permitir que as quebradeiras tenham mais perspectiva de venda”. Da UFMA, há professores e alunos envolvidos no projeto. Pra o professor Harvey Villa, o objetivo das oficinas é levar experiências sobre a elaboração e aproveitamento de todos os componentes do babaçu para a preparação de novos produtos para comercialização.
“Os docentes e alunos participantes do projeto vêm desenvolvendo produtos à base de babaçu, adaptando os processos às condições de elaboração das agroindústrias participantes. Assim, todo o que se faz no laboratório é replicado nas oficinas, sempre com o cuidado de atender às exigências das mulheres, uma vez que há já uma comunicação prévia para termos o melhor feedback sobre o que elas pretendem para seus produtos. Estamos conseguindo um acompanhamento contínuo, sendo que alguns produtos já estão sendo comercializados na ferinhas das cidades”.
Glória Bandeira, também professora da UFMA, ressaltou que a contribuição da universidade é também a formação dos alunos que participaram do projeto, para que tenham capacitação profissional. Além disso, segundo ela, a UFMA, por meio das pesquisas científicas nas análises de determinações nutricionais desses alimentos, contribui na formulação de novos produtos respeitando e fortalecendo o conhecimento tradicional e a cultura desses povos.
“Apresentamos quatro receitas saudáveis e funcionais (sem lactose, sem glúten e sem açúcar de adição) com produtos de babaçu, diferentes das receitas convencionais que levam como ingredientes alimentos processados como margarina, leite condensado, creme de leite e outros, demonstrando que há inúmeras possibilidades de criação de receitas com babaçu mais nutritivas e saudáveis. Estamos realizando o aproveitamento integral do coco – desde palha, casca, amêndoa e mesocarpo – e as quebradeiras têm tido mais amor e orgulho ao que fazem, por propiciar rentabilidade financeira e reconhecimento da sociedade”.
A professora Yuko Ono, da UFMA, completa destacando o papel de toda a equipe – pesquisadores, professores, estudantes e bolsistas. “Cada um transmitindo informações importantes para as mulheres da agroindústria, a fim de que possam produzir alimentos seguros do ponto de vista higiênico-sanitário e apresentando mais alternativas aos seus clientes”.
Samara Bomtempo, bolsista do projeto, acredita que participar das pesquisas com alimentos à base de babaçu em diferentes comunidades agroextrativistas tem sido fundamental para sua formação de uma nova geração de jovens cientistas que valorizam o conhecimento tradicional e o potencial da sociobiodiversidade. “Pra mim, enquanto profissional em formação, estar na equipe de pesquisa proporciona uma visão mais ampla do ponto de vista sociohistórico, geográfico e ambiental. Temos o objetivo de tornar essas organizações autossuficientes, atores dos seus processos de decisão, inovação, sustentabilidade e mercado, mostrando uma nova perspectiva do babaçu como elemento âncora de um sistema alimentar com a identidade cultural do Maranhão”.
Fonte: Embrapa
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