Entrevista realizada pela Scot Consultoria com o Fábio Gonçalves de Souza, gerente executivo do grupo Vilela de Queiroz, onde ele responde questões sobre compra de alimentos para o confinamento.
Fábio Gonçalves de Souza é engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e, atualmente, é gerente executivo do grupo Vilela de Queiroz – Expresso Barretos. Ele será um dos palestrantes do bloco: “Gestão: das primeiras pinceladas à arte consagrada” do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, que acontecerá de 17 a 20 de abril em Ribeirão Preto–SP e Barretos–SP.
Confira na entrevista a seguir quais serão os temas mais importantes que ele abordará durante o evento e não perca essa oportunidade de conhecimento! Faça sua inscrição pelo site www.confinamentoerecria.com.br ou pelo telefone (17) 3343-5111.
Scot Consultoria: O senhor poderia comentar brevemente o que será abordado na sua palestra sobre gestão de compra de alimentos para confinamento?
Fábio Gonçalves de Souza: A palestra abordará estratégias para garantir preço e reduzir o custo de produção de arroba, incluindo planejamento de compras, planejamento da produção própria de insumos, ferramentas de trava de preços e compra antecipada. Nessa linha, mostraremos os meios que costumamos utilizar para diminuir o risco de oscilações de mercado, cada vez mais relevantes na atual situação política do país, com grande volatilidade cambial, o que afeta drasticamente o preço dos nossos principais insumos e, consequentemente, as margens do nosso negócio.
Scot Consultoria: O que o pecuarista deve ter em mente para realizar uma boa gestão de suas compras?
Fábio Gonçalves de Souza: Em primeiro lugar é fundamental ter planejamento e um procedimento básico para realizar o processo de compras. O dimensionamento correto das suas necessidades de compra é peça chave do processo, tanto para buscar melhores condições de prazo e preço, como para garantir a disponibilidade dos insumos, a qualidade deles e também para organizar e gerar mais eficiência na parte logística. O que temos que ter em mente é que o objetivo principal é a produção de uma arroba barata, com eficiência operacional e financeira. Para isso, o pecuarista tem que entender a logística e ter informações básicas sobre o mercado de commodities agrícolas para saber onde, quando e quais insumos buscar. Hoje, o frete tem grande impacto nas compras, então é importante saber o que e onde buscar, ao menor custo possível.
Scot Consultoria: Como é possível reduzir o risco de eventuais crises de abastecimento de insumos?
Fábio Gonçalves de Souza: O mais importante seria a compra e entrega planejada e antecipada, sempre com parceiros de confiança que não vão descumprir o combinado, além de se ter uma estrutura para estocar tais produtos. Se o pecuarista deixar para comprar em cima da hora, quando há muita gente comprando, as chances de ficar sem o insumo são maiores. Por isso, a situação ideal é a compra antecipada para sair do risco, com a entrega e estoque na fazenda. Além disso, a possibilidade de produzir os alimentos dentro da própria fazenda com a integração lavoura pecuária traz benefícios ao produtor. Com isso, é possível reduzir o custo de produção em torno de 20,0% em relação ao mercado, por não ter gastos com logística. Essa é uma das nossas estratégias, produzimos 60,0% dos nossos insumos e vamos ao mercado para a compra dos 40,0% restantes. Para farelo de soja, por exemplo, temos que ir totalmente ao mercado.
Scot Consultoria: Em relação à logística e armazenamento de alimentos, quais são as dificuldades que os pecuaristas enfrentam?
Fábio Gonçalves de Souza: A principal dificuldade é o espaço e estrutura na fazenda, ou seja, o local para realizar o armazenamento. Além disso, a forma e a situação de estocagem também são desafios para a realização de um armazenamento adequado – temos que ter segurança na disponibilidade de produtos, mas não podemos ter perdas de volume e qualidade na estocagem, para não perdermos eficiência. A logística, ou seja, a forma de trazer estes insumos para a fazenda dependendo de sua localização, principalmente nas chuvas, também é um agravante. Mas, o problema maior hoje seria o armazenamento na fazenda: como armazenar, espaço e qualidade no processo de estocagem. Não adianta comprar bem, com antecedência e planejamento e depois ter perdas e prejuízos na estocagem.
Scot Consultoria: Em termos de qualidade, quais são os procedimentos para armazenar esses alimentos sem deteriorar?
Fábio Gonçalves de Souza: Isto depende muito do tipo de produto, pois cada insumo tem uma particularidade. Para o milho, a umidade gira em torno de 14,0%. Existem locais que utilizam muito a armazenagem de grãos em silo bag, que seria o ideal. Se o pecuarista tiver um silo, que é uma estrutura muito mais cara, deveria estar monitorando e também avaliar o espaço que se tem para armazenar. Mas, a melhor forma hoje seria os silos bags, pois é um produto que pode ficar exposto ao tempo.
Scot Consultoria: Quais são os principais alimentos energéticos e proteicos que o senhor utiliza? Quanto que a alimentação pesa no custo dos confinamentos?
Fábio Gonçalves de Souza: Hoje, nós trabalhamos com milho, farelo de soja, gordura protegida e torta de algodão. Dentre o custo do confinamento, 30,0% é referente à alimentação e mão de obra e, 70,0%, à compra do animal. Para diminuir este custo, o pecuarista deve apostar em estratégias de compras para conseguir travar este insumo em certo período de baixa através de acompanhamento de mercado e garantir a produção de uma arroba mais barata.
Scot Consultoria: Qual é a melhor época para compras de alimentos à base de milho ou farelo de soja?
Fábio Gonçalves de Souza: Normalmente, a melhor época para a compra de grãos é o período da safra. Esta fase é quando existe tendência de queda nos preços. Mas, não existe muito uma regra, depende de mercado e de fatores que fogem completamente ao nosso controle (questões políticas, climáticas, sanitárias, cambiais, nacionais e internacionais). Ou seja, na realidade, nunca existe exatamente um período certo para compra. Se o pecuarista deixar para comprar em cima da hora, digamos preço spot, ele ficará a mercê do mercado. Hoje mesmo, o farelo de soja está em uma fase ruim de compra. Há 30 dias, o preço estava muito mais atrativo. O milho está com perspectivas de alta este ano. Neste contexto, é possível e necessário utilizar estratégias de diversificação da base de insumos, com produtos alternativos substitutos, como o sorgo, por exemplo, que podem entrar na dieta para a redução dos custos. Então, deve-se apostar, justamente, em compra antecipadas, no planejamento e também na garantia de margens, com os mecanismos existentes nas duas pontas, na compra de insumos e na venda do animal.
Scot Consultoria: O senhor realiza alguma trava de preços na B3? Pode explicar como funciona esta negociação?
Fábio Gonçalves de Souza: Hoje, nós realizamos trava de preços com traders e produtores das regiões que temos unidades, garantindo assim entrega futura com preços que garantam nossa margem de lucro pré-estabelecida em nosso planejamento anual. Outra opção muito utilizada é a trava na B3 (antiga BM&F), porém, tem os custos de ajustes diários que o pecuarista precisa arcar e, também, a liquidez dos contratos. O pecuarista deve estar acompanhando o mercado e seguir tendências. Somando uma estratégia de segurança de custos, com uma estratégia de segurança no preço da venda da arroba (termo, opção etc.), você pode “garantir” a sua margem teórica e focar na execução do operacional – ou seja, com o custo da arroba produzida mapeado e “garantido”, é possível tomar a decisão de compra do animal para engorda com muito mais segurança, já que o preço futuro da venda está dado no mercado futuro. Com planejamento e estratégia nas compras de insumos e garantia de preço de venda, é possível reduzir diversos riscos e focar apenas na boa execução do operacional, o que por si só já é bastante difícil.
Scot Consultoria: Para finalizarmos, o senhor pode contar um pouco sobre a sua história na pecuária?
Fábio Gonçalves de Souza: Meu pai era gerente de fazenda e trabalhou em grandes grupos de pecuária de corte. Eu realizei faculdade de Agronomia em Jaboticabal e trabalhei diretamente pós-formado como encarregado de pecuária do grupo Vilela de Queiroz. Trabalhei junto a AWB por 4,5 anos, que é uma empresa australiana, em parceria com o grupo Gontijo (Agropecuaria LASA) em Cristalina (Goiás), onde estruturei um projeto de cria, recria e engorda em confinamento. Depois, voltei para o Grupo Vilela de Queiroz como gerente das unidades de Goiás e Tocantins de produção pecuária e agrícola, tanto do sistema cria, recria e engorda em confinamento, além de agricultura na produção de soja, milho grão e milho semente, em parceria com multinacionais. Há 3 anos, assumi a gerência executiva de agronegócio do grupo, onde nós temos unidades em Pará, Mato Grosso, Rondônia, Goiás e Tocantins, com produção pecuária em sistema intensivo integrada com agricultura (ILP) em todas nossas unidades.