O risco dos agrotóxicos nos alimentos

Articulista afirma que evidências científicas garantem a segurança dos alimentos quanto ao risco dos agrotóxicos nos alimentos produzidos no agro brasileiro; “Quem garante é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, escreve *Xico Graziano.

Se o assunto é agrotóxico, pode almoçar tranquilo: os alimentos produzidos no Brasil são seguros para a saúde humana. Quem garante é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Seu mais recente relatório (PDF – 4MB) sobre resíduos químicos, intitulado Para (Programa de Análise de Resíduos em Alimentos), referente a análises realizadas de 2018 a 2022, comprova baixíssimo risco agudo e zero risco crônico à saúde humana. Os dados abarcam 25 alimentos, no total de 5.068 amostras coletadas nos supermercados do país.

Entenda os conceitos de risco:

  • Risco agudo indica danos à saúde pelo consumo de uma grande porção do alimento contendo resíduo de um determinado agrotóxico, em curto espaço de tempo, como uma refeição ou um dia de consumo;
  • Risco crônico avalia a possibilidade de danos à saúde decorrentes do consumo constante de diversos alimentos com resíduos de um certo pesticida.

Nessa última avaliação do Para, referente aos dados de 2022, só 3 amostras de alimentos, equivalente a 0,17% do total, foram classificadas como de risco agudo. No relatório anterior, o risco agudo havia sido de 0,55% (base 2018/2019).

Com relação ao risco crônico, diz a própria Anvisa: “nenhum dos agrotóxicos pesquisados apresentou exposição pelo consumo de alimentos maior que a ingestão diária aceitável (IDA)”. A IDA representa o nível de segurança do consumo diário de um alimento contendo resíduos de agrotóxico sem danos à saúde.

Nas últimas 4 versões do Para, o alimento mais problemático foi a laranja, por conta dos resíduos do ingrediente químico carbofurano. O inseticida acabou proibido para uso no Brasil em várias lavouras, desde 2017. Sim, o Brasil também proíbe uso de pesticidas. Em consequência, o risco agudo nesse alimento decresceu de 12,1% (2013/2015), para 0,6% em 2022. Excelente notícia.

Os resíduos permanecem, majoritariamente, na parte externa dos alimentos. Assim, por ser uma fruta que se descasca para consumir, ou se espreme para tirar o suco, a laranja nunca representou perigo à saúde da população. A Anvisa, aliás, comprova a importância de se lavar com água corrente os alimentos consumidos in natura, principalmente verduras, frutas e legumes. Evidências científicas citadas no Para mostram redução de 80% e 45% para pesticidas de contato, e de 67% a 35% para pesticidas sistêmicos.

Sabe-se que resíduos de elementos químicos, não só de agrotóxicos, mas de qualquer natureza, são encontrados em praticamente todos os alimentos e na água. Pode conferir, por exemplo, no rótulo de sua garrafa: sulfatos, nitratos, sódio, metais pesados estão ali presentes no líquido. Tais resíduos químicos, porém, dado seu baixíssimo nível, não afetam sua saúde.

Com pesticidas, ocorre o mesmo. Detectar resíduos não significa, necessariamente, malefício à saúde humana, pois a concentração deles é muito pequena, medida em partes por milhão (ppm). E o eventual malefício depende, ainda, da lavagem, do descascamento e do cozimento no preparo alimentar.

Mas, e o efeito acumulativo?

Sobre essa questão, a Anvisa apresenta 2 estudos (aqui e aqui) para concluir que, face ao conhecimento científico existente, não se comprova haver “acumulação” no organismo humano. Ocorre que o metabolismo, ou seja, o funcionamento do corpo excreta as substâncias indesejáveis, nas fezes ou na urina, mantendo a homeostase.

Por que, então, certos críticos atacam a moderna agricultura dizendo que agrônomos e produtores rurais estão matando todo mundo envenenado?

Juro que não sei a resposta. Problemas técnicos existem, pois nem sempre a aplicação de pesticidas, feita lá na lavoura, ocorre seguindo a recomendação da receita agronômica. Muitas vezes o agricultor não respeita o prazo de carência e faz a colheita antes da hora. Noutras vezes, utiliza em excesso o defensivo.

Agora, se os problemas, como esses, fossem generalizados, seriam facilmente detectados pela Anvisa/Para e pelo Ministério da Agricultura. Só que não. Diferentemente disso, os órgãos reguladores, em análises de rotina, seguindo padrão internacional, comprovam que as “exceções não são a regra”.

Por fim, um desabafo. Todas as vezes que escrevo sobre esse assunto, termino pensando: por que os críticos dos modernos complexos agroindustriais, que defendem a antiga produção camponesa, não se rebelam também contra o sistema bancário, ou contra as grandes redes de supermercados?

Por que não atacam a Zara, o Cinemark, a Ambev, a Bauducco, todas essas grandes companhias que, ao concentrar atividades, prejudicam os pequenos comerciantes, asfixiando a produção local e artesanal?

Combatem o uso de pesticidas, querendo ver imperar o controle natural no campo, mas se entopem de remédios, antibióticos, pílulas, antidepressivos, tarjas-preta, e ao 1º sinal de uma simples doença, correm para o melhor laboratório, atrás da última ressonância magnética, do exame mais sofisticado e da nova fórmula de medicamento.

Não seria mais coerente tomar um chá de camomila, ou de carqueja, para curar doenças?

Será que esses críticos catam pulgas de seu cachorrinho na unha, ou protegem os bichinhos com talcos e pastilhas à base dos mesmos agrotóxicos utilizados pelos agricultores para controlar pragas nas lavouras? E quando vem uma onda de pernilongos e moscas, os matam no tapa, ou pulverizam inseticidas na residência?

Ora, vamos levar o assunto à sério. Suplico que jornalistas, influenciadores e políticos leiam o relatório do Para/Anvisa. Nele estão expressas as evidências científicas, que garantem a segurança dos alimentos produzidos no agro brasileiro.

Fora disso, é ilusão, negacionismo ou pura ideologia.

*Xico Graziano, 70 anos, é engenheiro agrônomo e doutor em administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV. O articulista escreve para o Poder360 semanalmente, às terças-feiras.

Artigo originalmente publicado na coluna do autor no Portal Poder360

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