O que um boi come no confinamento? Confira!

O confinamento como estratégia de intensificação veio para ficar e deve crescer com o novo boom da pecuária. Veja o que um boi come no confinamento!

A época seca tarda mais não falha e, claro, nesse momento estamos no ponto certo para podermos projetar o nosso confinamento e, um bom planejamento estratégico, deve ter, muito esclarecido o que fornecer para esses animais, já que a sua dieta é todo fornecida no cocho. Mas afinal, o que um boi come no confinamento? Confira agora!

O custo de produção de um bovino no sistema de confinamento oscila de acordo com uma serie de variáveis, entre elas, o preço do próprio animal, o preço dos ingredientes da ração, como milho e farelo de soja, e o preço dos custos fixos do confinamento. De um modo geral, e de acordo com dados do CEPEA / ESALQ – USP, 2017, o custo operacional efetivo – COE de um boi confinado no Brasil pode ser dividido conforme a figura 1!

Dietas para bovinos em confinamento incluem alimentos volumosos, concentrados e suplementos. São alimentos volumosos aqueles que possuem teor de fibra bruta superior a 18% na matéria seca, como é o caso dos capins verdes, silagens, fenos, palhadas etc. Alimentos concentrados são aqueles com menos de 18% de fibra bruta na matéria seca e podem ser classificados como protéicos (quando têm mais de 20% de proteína na matéria seca), como é o caso das tortas de algodão, de soja etc., ou energéticos (com menos de 20% de proteína na matéria seca) como é o milho, triguilho, farelo de arroz etc. 

Os alimentos são usualmente descritos ou classificados com base na matéria seca, de forma a poderem ser comparados quanto as suas características nutricionais, custo de nutrientes etc. A matéria seca (MS) é a fração do alimento excluída a umidade natural deste. 

Assim, por exemplo, uma partida de milho em grão que tenha 13% de umidade natural tem, por diferença, 87% de matéria seca. O teor de umidade entre alimentos é muito variável (cerca de 75% para gramíneas frescas, por exemplo, até 10% para tortas ou fenos). Na matéria seca é que estão contidos os nutrientes: carboidratos, proteínas, minerais etc. 

Uma vez que a porção nutritiva de um alimento está contida na matéria seca e que a capacidade de consumo dos alimentos pelos animais está relacionada, também, à matéria seca, todo cálculo relativo à alimentação (balanceamento de rações, custo de aquisição e transporte de alimentos etc.) deve ser feito com base na matéria seca (ou seja, convertido para equivalência a 100% de matéria seca). 

Ração é a quantidade total de alimento que um animal ingere em 24 horas, e ração balanceada é aquela que contém nutrientes em quantidade e proporções adequadas para atender às exigências orgânicas dos animais. Usualmente, as rações são compostas por alimentos volumosos e concentrados. 

O balanceamento das rações determinará a relação volumoso:concentrado necessária para cada tipo de animal e taxa de ganho em peso. Maiores taxas de ganho em peso requerem maior concentração energética da ração.

Figura 1. Custo Operacional Efetivo de bovinos em sistema de confinamento:

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Elaborado pelo Compre Rural

Outro ponto é a Gestão de Alimentos, todo o planejamento estratégico deve se iniciar antes, buscando fechar as compras de insumos em épocas de maior oferta para aproveitar menores preços.

Sem muitas delongas, vamos elencar então alguns alimentos importantes para as dietas e oportunidades que tem surgido no mercado como os subprodutos.

Alimentos que podem ser utilizados no confinamento:

Os componentes utilizados na dieta de bovinos de corte em confina- mento são baseados em uma relação de volumoso e concentrado. Os principais volumosos são silagem de milho, cana-de-açúcar – in natura, silagem, bagaço, silagem de capim e outros.

Em relação aos concentrados, a escolha dos produtos a serem utilizados deve ser feita considerando a sua qualidade. É possível, ainda, usar aos alimentos alternativos (subprodutos), que apresentem viabilidade técnica e tenham custo favorável.

  • Milho

O milho é considerado um alimento concentrado energético padrão na alimentação de bovinos. É rico em amido e pobre em proteína. Pode ser usado de diversas formas, como fonte volumosa (silagem de milho) ou concentrado energético (grão inteiro e moído).

  • Soja

A forma de utilização mais comum da soja na alimentação animal, particularmente para bovinos de corte, é o farelo, podendo ser for- necida também nas formas de grãos e silagem.

O grão de soja é um alimento de alta concentração proteica e energética, apresentando em torno de 39% de proteína bruta (PB) e 19% de extrato etéreo (EE). Já o farelo de soja é o produto resultante da extração do óleo dos grãos, considerado, portanto, um alimento proteico e menos energético por apresentar em tor- no de 44% de PB e 1% de EE.

  • Sorgo

O grão apresenta composição semelhante à do milho, com pouco menos de energia e pouco mais de proteína, que varia entre 9 e 13%, a depender da variedade. Deve ser fornecido triturado ou moído de- vido à baixa digestibilidade do grão inteiro.

Conheça outros ingredientes (subprodutos) utilizados na alimentação animal:

É possível utilizar os subprodutos na alimentação bovina, desde que seja economicamente viável. Portanto, recomenda-se procurar esses ingredientes na região próxima ao confinamento ou semiconfinamento.

  • Caroço de algodão

Subproduto da indústria têxtil, trata-se de um alimento rico em óleo, energia, proteína e fibra, podendo substituir alimentos volumosos sem prejudicar a fermentação ruminal – características que tornam o caroço de algodão extremamente interessante em rações com alto nível de concentrado.

O limite máximo de inclusão na dieta dos animais do confinamento está em torno de 15% da matéria seca (MS) total. Acima desse limite, o nível de extrato etéreo (óleo) pode ultrapassar do ideal, reduzindo, assim, a digestibilidade da fibra e causando diarreia e redução no consumo.

  • Polpa cítrica

A polpa cítrica, segundo subproduto da indústria da laranja mais utilizado, é composta de cascas, sementes e bagaço. É considerada um concentrado energético (70 a 75% de nitrogênio digestível total

– NDT), com maior teor de fibra do que os tradicionais, atuando na manutenção da motilidade ruminal (funcionamento do rúmen) e no estímulo à ruminação.

É um alimento estratégico na nutrição animal, pois a safra da laranja é iniciada em maio e concluída em janeiro, período que coincide com a entressafra de grãos, como o milho e com a época de escassez de forragem.

  • Casquinha de soja

É obtida no processamento da extração do óleo do grão da soja, sen- do considerada um alimento intermediário entre volumoso e concen- trado, por apresentar alta energia e quantidade considerável de fibra. A energia fornecida pela casca de soja permite a substituição do milho na dieta, a fim de baratear o custo de produção. É utilizada na alimen- tação de ruminantes por ter custo menor do que o farelo de soja.

  • Resíduo de cervejaria

É um subproduto na forma de resíduo úmido ou seco, com alto valor de proteína bruta, – em torno de 23 a 28% –, que é absorvida no intestino.

Um fator limitante para a sua utilização é a falta de padrão no pro- cesso de fabricação entre as indústrias de cerveja, o que acaba por ocasionar variações na composição química devido à fonte de ma- téria-prima. Algumas pesquisas têm demonstrado que os resíduos de cervejaria podem substituir em até 100% o milho na dieta, sem prejuízo no ganho de peso dos animais.

  • Bagaço hidrolisado de cana-de-açúcar

O bagaço de cana-de-açúcar é utilizado na alimentação animal, em- bora apresente limitações quanto ao seu valor nutritivo (1,5% de PB, 58% de FDN e baixa digestibilidade). Para melhorar a composição química desse alimento, foram desenvolvidos tratamentos para au- mentar a qualidade nutricional e a digestibilidade.

O bagaço de cana hidrolisado é oriundo de um tratamento com pres- são e vapor (alta temperatura), o que torna esse volumoso de médio valor nutritivo (21,6% de PB e 59,5% de FDN) e com poder de estimu- lar a mastigação e o funcionamento ruminal.

Especial: DDG e WDG

São alimentos relativamente novos no Brasil, são resíduos da indústria de etanol do milho. Os principais coprodutos de grãos de destilaria são grãos secos ou úmidos de destilaria, mais conhecido no Brasil pela sigla em inglês DDGS e WDGS (dried distillers grains with solubles e wet distillers grains,respectivamente). Estes subprodutos se diferem basicamente, como diz sua nomenclatura, pelo teor de umidade.

A principal forma de utilização desses coprodutos é como fonte proteica, se justifica quando avaliamos os níveis de proteína desses materiais, sendo em média, 32% e 25 a 32% de proteína bruta no WDG e no DDG, respectivamente, sendo um substituto do farelo de soja. Materiais comerciais podem variar quanto aos teores de proteína do produto, sendo vendido DDG com 19% de PB, por exemplo. Esses parâmetros devem ser observados na hora da compra para comparar preços. 

Conclusão

O máximo aproveitamento dos recursos disponíveis dentro de um sistema, é fundamental para a diminuição dos custos de produção, essa máxima se estende por toda a cadeia produtiva do agronegócio.

Explorar todas as possibilidades da matéria prima, é uma grande virtude da cadeia produtiva da carne, tudo na produção de carne bovina é aproveitado.

Esse aproveitamento, entretanto, não deve se restringir às últimas etapas do sistema de produção. É sabido a grande eficiência de um frigorífico em aproveitar 100% do animal abatido e as etapas anteriores, que sucedem o frigorífico, também devem seguir esse caminho.

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