O que se aprende na universidade não se leva ao campo

Em evento na Ocepar, em Curitiba, especialistas internacionais e nacionais destacam a dificuldade de compartilhar conhecimentos entre universidades e produtores agrícolas

Nesta semana, Curitiba está recebendo convidados do Brasil e do mundo para o IV Encontro sobre Agricultura de Precisão, realizado na Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Entre eles, o doutor Steve Phillips, do International Plant Nutrition Institute (INPI), dos Estados Unidos, que trouxe na bagagem um alerta: muito do que é ensinado nas universidades com foco agronômico não é utilizado ou não chega ao campo.

Em palestra sobre o tema, o especialista citou um exemplo concreto de um consultor independente que ‘adotou a profissão’ depois de ser professor nos Estados Unidos: “Ele viu que as coisas não eram iguais no campo. Precisamos ter essa preocupação de ligar a sala de aula à produção agrícola”.

Essa apreensão também acontece no Brasil. “Quem está se preparando são os consultores [agronômicos] e os vendedores [de insumos]. A academia quase não tem esse diálogo com o produtor”, afirma José Paulo Molin, presidente da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP).

Levando o conhecimento

A esperança de uma melhor conexão entre teoria e prática está depositada justamente nesses consultores. “Muitos creem que basta entregar um mapa colorido, sem análise. O problema é que isso gera confusão no produtor, que só vai entender se tiver uma consultoria”, destaca o norte-americano. Outra questão citada é a geracional, que pode facilitar (ou dificultar) a compreensão das tecnologias e inovações no campo, por meio de aplicativos, ferramentas ou plataformas.

“Dependendo da região, do nível educacional e da familiaridade com a tecnologia em geral, a agricultura digital vai contribuir muito. Vemos que em algumas regiões a idade dos produtores rurais está até mesmo decrescendo, com pessoas jovens. A adoção nessas comunidades deve acontecer muito rápido”, destaca Steve Phillips em entrevista à Gazeta do Povo.

Paulo Molin é menos otimista quanto à atualização dos profissionais: “Não sei até que ponto [os produtores] estão prontos, chega a ser dramático. E ainda estamos formando profissionais do século XX. Além do nível do consultor, temos o nível do operador [de máquinas]. O operador de 15 anos atrás e o de hoje é muito diferente. Temos uma crise sinalizada, pois haverá muitas mudanças pela frente”.

O fato é que a agricultura vai depender cada vez mais da tecnologia para se tornar mais eficiente, na visão de Phillips. “Globalmente, com o crescimento da população, estamos encarando pressão na produção agrícola para produzir mais comida, nas mesmas terras e com recursos limitados. Precisamos integrar a tecnologia para sermos mais eficientes”, desta o especialista, sinalizando a necessidade do aumento da produtividade.

Novidades à vista

Para ampliar esse debate, Molin e Pedro Magalhães, engenheiro agrônomo e secretário da AsBrap, anunciaram: “Aproveitamos [o encontro em] Curitiba para lançar o convite para o Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão”, diz Magalhães. O evento também será na capital paranaense dias 2 a 4 de outubro. A expectativa é reunir 800 participantes, entre profissionais de assistência técnica e extensão rural, pesquisadores, professores, produtores, estudantes, empresas e usuários de técnicas de Agricultura de Precisão no Brasil.

Esse incentivo ao diálogo é elogiado inclusive pelo ‘gringo’ Steve Phillips: “Vejo mais similaridades do que diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos [quanto à agricultura de precisão], mas o Brasil pode ter orgulho de suas cooperativas. Elas estão muito a frente na busca por tecnologias e novas plataformas. São pessoas que não estão à serviço por grandes companhias e que colocam a ‘bota na terra’”.

As Informações são da Gazeta do Povo.

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