O que muda no no comércio de grãos e carne se o Brasil adotar o Yuan chinês?

Quais os riscos para o Brasil na adoção da moeda chinesa nas transações comerciais entre os dois países?

A China é um grande cliente do Brasil no setor do agronegócio. E, mesmo o fluxo comercial entre Brasil e China ser intenso, o resultado é bastante promissor para o Brasil. Apenas no ano de 2021 o saldo comercial positivo para o Brasil em vendas para a China foi de USD 40 bilhões e em 2022 de USD 29 bilhões.

E, desse montante, a participação do agronegócio nas comercializações com o país asiático se destaca. A soja, mesmo triturada, é a commodity que o Brasil mais vende para a China. Em 2022 o volume exportado de soja foi de 36% do total de todas as comercializações realizadas com o país, o produto com maior participação nas vendas. Depois com 9% da participação vêm as carnes de animais da espécie bovina congeladas, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Participação dos principais itens nas exportações brasileiras para a China em 2022
Fonte: MDIC/Agrifatto

Além de outros itens que tiveram uma variação nos últimos dez anos, porém estão na lista dos 10 mais exportados pelo Brasil para a China, como os açúcares de cana ou de beterraba, carnes e miudezas comestíveis das aves, frescas, refrigeradas ou congeladas; algodão e carnes de animais da espécie suína frescas, refrigeradas ou congeladas.

Diante dessas transações de compra e venda intensa entre os dois países, há a hipótese de melhorar ainda mais essas relações diplomáticas e comerciais entre os dois países. Atualmente existe a possibilidade de adoção do renminbi, a moeda oficial do gigante asiático como padrão nas transações entre comerciais em detrimento da utilização do dólar, como é feito atualmente.

Segundo analistas do mercado, um dos principais benefícios é a eliminação de conversões intermediárias que economizaria em taxas. Porém, vale lembrar que essa possibilidade já foi tentada no passado e não teve sucesso.

Será que o Brasil teria benefícios reais com as negociações na moeda asiática?

A China é notadamente um país com alto controle de capitais, o que torna o Yuanrenminbi, por exemplo, uma moeda não conversível em bonds, também conhecidos como títulos de dívida.

O ponto é: como pelas regras do Banco Central Chinês não seria possível lançar um título em Yuans para captação junto a investidores chineses, para posterior conversão dos recursos em dólares, isso significa que quem tem renminbis nas mãos teria que trocá-los obrigatoriamente por produtos chineses ou depender de liquidez externa para a troca.

No ano de 2021, esse impasse ficou claro em uma transação experimental ocorrida entre a siderúrgica chinesa BauWu e a Vale, em que a empresa brasileira teve que buscar o mercado offshore para converter em dólares os renminbis que recebeu na transação direta. E, como as dívidas da Vale são majoritariamente feitas em dólares, precisaram recorrer a bancos internacionais para se valer de swaps renminbi /dólar. E, vale destacar que o minério de ferro é o segundo produto mais exportado pelo Brasil para a China respondendo a 20% de toda a receita no ano de 2022, atrás apenas da soja.

Para a consultoria Agrifatto, como o mercado de swaps entre as duas moedas já é grande, mas dado o enorme volume do saldo brasileiro, seria mais difícil alcançar ambos os objetivos de neutralizar o saldo brasileiro ou encontrar liquidez para as trocas offshore. E, isso poderia levar o Brasil a acumular muitos renminbis em mãos sem conseguir utilizá-los para outros fins naturais de empresas exportadoras.

E, segundo a consultoria, é importante considerar que, apesar da enorme perda de representatividade nos últimos anos, o dólar ainda é tido como principal reserva de valor globalmente, possui ampla utilização e, por ser negociado por inúmeros agentes em enormes volumes a todo o momento. Ou seja, possui uma neutralidade maior em relação a moedas de países com controle rígido de capitais.

Por esses motivos, a consultoria acredita que as transações diretas em renminbis teriam que ser voluntárias. Assim terão maiores chances de decolar, mas isso no caso de a China liberar o câmbio e os controles de capital para facilitar a conversibilidade total de sua moeda, caso contrário a ideia do renminbi como reserva de valor ou como alternativa ao dólar continuará uma conjectura ou poderá complicar a liquidez das transações.

Por fim, outro destaque é que, como a China possui uma enorme fatia nas exportações brasileiras totais sendo 33% em 2022 contra 15% da União Europeia, por exemplo, com isso a vulnerabilidade do Brasil aumentaria ao estar exposto diretamente à moeda de um país que exerce grande controle de capitais sem possuir uma moeda intermediária neutra.

Com informações de relatório publicado pela Agrifatto

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