A transformação do setor brasileiro dependerá de uma nova abordagem na gestão, com foco no manejo eficiente e na integração de práticas sociais e ambientais
O Brasil possui um potencial imenso para se tornar o líder global na produção de carne, especialmente em um momento em que a demanda mundial por esse produto continua a crescer. Com uma infraestrutura produtiva consolidada e amplas possibilidades de expansão, o país está naturalmente posicionado para se destacar no mercado. No entanto, há desafios estruturais significativos a serem superados no setor pecuário.
Atualmente, o Brasil detém cerca de 11,9% do rebanho bovino global, mas responde por 13,8% da produção mundial de carne bovina. Em comparação, os Estados Unidos, com uma parcela bem menor do rebanho global (5,2%), são responsáveis por 16% da produção mundial, enquanto a China, com 5,4% do rebanho, contribui com 10,7% dessa produção. Esse cenário revela que, embora o Brasil tenha uma posição expressiva, existe um grande espaço para melhorar sua eficiência.
Como destacou Pedro Veiga, gerente global de tecnologia de bovinos de corte da Cargill Animal, isso não significa que o Brasil seja ineficiente, mas sim que há um vasto campo de oportunidades para aprimorar sua produção.
Uma das vantagens do Brasil é sua imensa área de pastagens, que soma 161,4 milhões de hectares, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). No entanto, esse mesmo fator é uma área de vulnerabilidade para a pecuária brasileira. De acordo com a Athenagro, 17,9 milhões de hectares de pastagens necessitam de recuperação, e outros 4,9 milhões já se encontram em um estágio avançado de degradação.
Portanto, embora o Brasil tenha uma base forte, para consolidar sua liderança no mercado de carne bovina, será crucial focar em soluções que promovam a sustentabilidade e a recuperação de pastagens, garantindo a eficiência e a competitividade a longo prazo.
Segundo Pedro Veiga, para avançarmos na produção de pasto, é essencial adotar tecnologias já comprovadas, muitas das quais foram introduzidas por gerações anteriores. Isso inclui práticas como correção da acidez do solo, calagem, adubação e manejo adequado. Embora se fale sobre o uso de drones para otimizar o manejo de pastagens, Veiga destaca que é necessário primeiro focar nas ações mais básicas. Muitas pastagens, formadas há várias décadas, nunca receberam insumos essenciais, como o calcário, o que compromete a qualidade do solo e, consequentemente, da produção. Ele também salienta a importância das pastagens no processo de captura de carbono no setor pecuário.
A sustentabilidade também é um ponto forte do Brasil, especialmente com o sistema integrado de lavoura, pecuária e floresta. Durante a Feicorte 2024, Veiga revelou ao Agro Estadão que os americanos ficam surpresos ao saber que no Brasil é possível realizar a sucessão de culturas e integrar a pecuária dentro de uma mesma área no mesmo ano. “Nenhum outro país tem o potencial de integração que nós temos“, afirmou o especialista.
Contudo, Veiga aponta um desafio importante: fazer com que o conhecimento e as tecnologias cheguem aos pequenos e médios produtores. Para isso, ele sugere a necessidade de investimentos em programas de extensão rural. “Os produtores de maior escala já têm acesso a essas tecnologias, pois podem contratar consultorias privadas. Porém, para os produtores menores, seria fundamental uma política pública que oferecesse assistência técnica de qualidade“, conclui Pedro Veiga.
Gestão eficiente e sustentabilidade: O caminho para a liderança da pecuária brasileira
Para que a pecuária brasileira alcance seu verdadeiro potencial, a melhoria na gestão é um passo fundamental. De acordo com Pedro Veiga, o setor precisa urgentemente de uma gestão mais eficaz e de uma mudança na forma como os produtores encaram o negócio. Veiga enfatiza que, atualmente, muitos ainda não tratam a pecuária como uma verdadeira empresa, com foco em processos e resultados.
Uma transformação importante está ocorrendo com a entrada de sucessores mais jovens no setor, que trazem uma visão mais moderna e empresarial. Veiga acredita que essa renovação cultural será um marco para a pecuária. “A nova geração está trazendo uma mentalidade mais profissional, e isso certamente será uma revolução no setor“, afirma ele com otimismo.
A adoção de boas práticas de manejo e a incorporação de princípios sustentáveis também são vistas como essenciais para o futuro da produção de carne no Brasil. Para Veiga, a sustentabilidade vai além da preservação ambiental, envolvendo igualmente os aspectos econômicos e sociais. “Para ser sustentável a longo prazo, o negócio precisa ser rentável. Isso inclui cuidar não só das pessoas diretamente envolvidas, mas também das comunidades ao redor e do meio ambiente“, ressalta.
Ele vê o Brasil como estando “no lugar certo, na hora certa“, com enormes oportunidades para se destacar, mas o desafio é transformar esse potencial em resultados concretos.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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