Biólogo e maior protetor das onças pintadas do Brasil fala sobre a importância da parceria com o produtor rural para a preservação da natureza
Depois de acompanhar as queimadas dos últimos meses, e sofrer com elas, o biólogo que tornou-se autoridade na preservação das onças pintadas fala um pouco sobre a relação da preservação e produção de grãos no Cerrado Brasileiro. Ele disse que ficou assustado com a quantidade de comentários sobre a devastação de grandes áreas. “Vi muita gente falando “poxa, mas os fazendeiros acabaram com tudo, não deixaram nenhuma arvore”, isso me deixou bastante provocado a fazer um vídeo explicando um pouco sobre essas grandes áreas sem vegetação nativa” disse Leandro Silveira, através de vídeo publicado em suas redes sociais.
Com o seu filho, Thiago, eles foram até uma dessas grandes fazendas e mostraram um pouquinho sobre como é a produção em grande escala e mostra a vantagem que parece ser desvantagem nessas áreas, em relação à biodiversidade.
Leandro foi até uma fazenda certificada pelo Instituto Onça Pintada (IOP) e com condições ideias para garantir a preservação do maior felino das Américas. “Essa fazenda em particular é muito especial para o IOP, ela é pioneira no plantio de soja em grande escala orgânica, ou seja, zero defensivos e zero químicos nas lavouras. Mas é possível ver grandes áreas sem vegetação nativa, por quê? Porque é impossível trabalhar com máquinas agrícolas em meio as árvores, é impossível trabalhar passando entre elas.”
“Por exemplo, essa fazenda está garantindo refugio para a Natália, onça pintada que monitoramos, ela está parida aqui na Reserva Legal, então por mais que pareça dramático toda essa área devastada sem vegetação nativa, o que é importante sabermos, através de leis, uma parte correspondente desta propriedade está preservada sim. Aqui no Cerrado, 20% da propriedade deve estar na forma natural, ou seja, eu posso ter uma grande área, desde que, tenha 20% preservado garantindo a biodiversidade do bioma. É importante salientar que todos nós precisamos de alimento, todos nós precisamos comer e o desafio é produzir comida e ao mesmo tempo garantir a biodiversidade, água limpa e floresta intacta.”
Através de levantamentos Leandro afirma que a fazenda conserva toda a fauna e flora que, por exemplo, tem no Parque Nacional das Emas, logo a amostra de reserva legal da propriedade certificada é idêntica a de um parque nacional, a qualidade ambiental é suficiente para garantir a biodiversidade do Cerrado.
“É importante que as pessoas saibam que o produtor rural é o nosso maior, para não dizer o único, aliado de peso para garantir um ambiente sustentável, afinal, é na propriedade dele que está a produção da nossa comida e ao mesmo tempo a possibilidade de conservar a nossa biodiversidade, água limpa, floresta e tudo mais” finalizou Leandro.
Sobre o Instituto Onça Pintada (IOP)
O principal objetivo da instituição é entender o comportamento dos animais em áreas de agropecuária, preservar a espécie e, de quebra, dar uma força em sua multiplicação. “Mitigar os impactos que causamos ao meio ambiente não é só cuidar da flora, mas também, cuidar da fauna. Sem esse cuidado, não estaríamos cuidando da biodiversidade de forma correta”, diz Leandro. O biólogo conta que sempre foi apaixonado por felinos de grande porte, mas só teve a real dimensão de como seu projeto poderia dar certo quando percebeu que precisaria entender o funcionamento do agronegócio.
“A onça-pintada é uma espécie que vem se adaptando às mudanças que ocorrem no meio ambiente, mas ela sempre será um predador temido”, diz. “Sem monitoramento, a espécie se torna uma praga para o agronegócio, porque ela ataca rebanhos bovinos, ovinos e então, vira um alvo para os empresários rurais”.