Antes de assumir que os preços do leite do segundo semestre de 2019 irão despencar como em 2017, é preciso pontuar uma diferença fundamental entre os períodos.
Os preços do leite ao produtor no primeiro semestre do ano subiram 21% na “média Brasil” líquida devido à elevada competição entre indústrias para garantir a compra de matéria-prima e à menor oferta neste primeiro semestre.
No entanto, a dificuldade dos laticínios em repassar a valorização da matéria-prima ao consumidor deve pressionar as cotações ao produtor já em julho, referente à captação de junho.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a intensidade da queda dos preços deve variar entre os estados, mas as fracas negociações de derivados no mês anterior e as margens espremidas das indústrias podem levar a recuos expressivos.
Pesquisas da entidade, ainda em andamento, indicam que a redução pode variar de 5% a 12% em relação a junho.
A queda expressiva dos preços ocorre antes do que é tipicamente observado. Segundo análises de sazonalidade, a baixa ocorre em setembro, após o pico da entressafra no Sudeste e Centro-Oeste.
Maiores patamares
As consecutivas valorizações do leite desde o início do ano levaram as cotações aos maiores patamares da série histórica do Cepea, num contexto de acirrada competição dos laticínios e estagnação econômica do consumo.
“Até agora, o comportamento dos preços deste ano lembra o verificado em 2017, com o primeiro semestre de altas, em virtude da oferta limitada, e cotações em queda antes do pico da entressafra”, comenta a entidade em boletim.
O Cepea ressalta, no entanto, que antes de assumir que os preços do segundo semestre de 2019 irão despencar como em 2017, é preciso pontuar uma diferença fundamental entre os períodos: até agora, a produção de leite ainda não reagiu como naquele ano – e isso não se deve apenas às condições sazonais (redução de chuvas no Sudeste e Centro-Oeste e diminuição da qualidade das pastagens).
Desde 2017, muitos produtores deixaram a atividade e boa parcela dos que ficaram estão endividados. Houve e ainda há grande insegurança de produtores em realizar investimentos de longo prazo devido às incertezas no curto prazo.
Mesmo com os altos preços no primeiro semestre e a relação de troca com o milho favorecida, a produção de leite neste ano pode variar pouco em relação ao volume de 2018.
“A dificuldade de prever o comportamento dos preços neste segundo semestre se dá pela encruzilhada em que as indústrias se encontram: de um lado, com vendas fragilizadas de derivados e, do outro, disputando volume com concorrentes para assegurar matéria-prima, diminuir ociosidade não planejada (que se traduz em custos) e manter seus shares (participação) de mercado”, explica o Cepea.
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De acordo com pesquisadores, o período de quedas se iniciou, mas a expectativa dos agentes quanto à intensidade dos recuos daqui para a frente é muito divergente.
Enquanto os valores do leite longa vida (UHT) e da muçarela seguem oscilando, mas com tendência à queda, o mercado à vista mostra leve alta das cotações na segunda quinzena de julho, indicando possibilidade de variação pequena para os preços do produtor em agosto.
Com informações do CEPEA e do Canal Rural.