O preço do leite é importante para a lucratividade de uma fazenda leiteira, entretanto, a lucratividade está mais associada ao custo e a escala de produção.
O produtor sempre se preocupou com o quanto ele recebe, mas será que o preço pago pelo leite é o único responsável pela lucratividade da fazenda?
O aumento no valor pago pelo leite alguns meses atrás fez com que muitos produtores comemorassem, devido ao aumento expressivo nos insumos da cadeia produtiva do leite. No entanto, muitos produtores focam apenas no preço do leite, e muitas das vezes, acabam negligenciando os custos de produção.
O preço do leite é importante para a lucratividade de uma fazenda leiteira, entretanto, a lucratividade está mais associada ao custo e a escala de produção do que propriamente ao preço do leite.
De acordo com os dados apresentados pela Labor Rural e Educampo/Sebrae a correlação entre o preço do leite e o lucro unitário é baixa (Tabela 1), ou seja, fazendas recebendo o mesmo preço de leite podem apresentar lucratividades diferentes.
Entretanto, foi encontrada uma alta correlação entre o custo de produção e lucro (Tabela 1), onde fazendas com menor custo de produção apresentaram maior lucratividade.
Tabela 1. Correlação entre Preço do leite e a Lucratividade.
O aumento de produtividade com ganho em eficiência é o principal fator para reduzir o custo e aumentar a lucratividade.
A fim de evidenciar esse fato, o Educampo realizou uma análise com 205 fazendas, onde essas foram divididas em dois grupos, um em que as 80 propriedades reduziram o volume de leite, e outro no qual 125 propriedades aumentaram a produção de leite, de modo que, os dois grupos receberam aumento de 10% no preço do leite.
Como resultado, fazendas que aumentaram o volume de leite tiveram aumento menos intenso no custo de produção, refletindo no aumento da margem unitária (Figura 1). Dessa forma, as propriedades que aumentaram o volume de leite ganharam mais por cada litro de leite vendido (Educampo, 2022). No entanto, o ganho de produtividade com eficiência é possível apenas pela adoção de estratégias de planejamento e gerenciamento.
- Vacas têm “melhores amigas” e sofrem com separações, revela pesquisa
- Pesquisa aponta como melhorar o solo com calcário
- Chuva a caminho? Previsão aponta bons índices; descubra onde deve chover
- STF prorroga audiências de conciliação sobre marco temporal para 2025
- Gigante do confinamento acelera engorda e parceiros economizam, em média, R$ 132,80/boi
Figura 1. Análise do aumento da produção sobre a lucratividade.
O gerenciamento adequado da propriedade é fundamental para a redução dos custos, já que pela análise dos custos de produção é possível identificar falhas que estejam comprometendo o desempenho da propriedade, garantindo assim a viabilidade do sistema ao passo que estratégias são tomadas para correção dessas falhas.
Portanto, é de suma importância que todos os custos sejam registrados em um banco de dados, de modo a evitar distorção na geração dos indicadores, comprometendo a interpretação da análise.
Os custos de produção referem-se a todos os dispêndios ligados ao processo produtivo, ou seja, todos os recursos necessários utilizados para a produção do leite, sendo eles divididos em custos fixos e variáveis.
Diferente dos custos variáveis, os custos fixos não variam durante o ciclo de produção (produtos de limpeza de ordenha, reparo e consertos de máquinas, medicamentos, mão de obra), são independentes da escala de produção, portanto, traçar estratégias para diluição desses custos se faz necessário para aumentar a lucratividade, sendo a principal forma, o aumento da produção. Já para os custos variáveis, aqueles que são dependentes da produção (alimento, fertilizante, energia, combustível), o planejamento é a melhor forma de controle de gastos, ou seja, compra estratégica de insumos para o plantio e concentrado, garantem melhor preço, logo redução dos custos.
Apenas conhecer os custos não é o suficiente, é preciso saber interpretá-los, sendo assim, os indicadores são cruciais para mensuração e avaliação do desempenho da uma propriedade. Esses são subdivididos em Indicadores Zootécnicos, Reprodutivos e Econômico-financeiros. Dentre eles, podemos citar exemplos que tem grande influência na eficiência de produção, de tal forma a possibilitar a diluição dos custos:
- Receita menos o custo alimentar (RMCA)
Monitorar o indicador RMCA é uma forma simples e objetiva de avaliar o quanto as vacas e o produtor estão sendo eficientes nas suas funções. Do ponto de vista da vaca, podemos inferir sobre a eficiência alimentar, ou seja, sobre a sua capacidade de converter dieta em leite. Assim, espera-se que no início da lactação, as vacas apresentem altos valores de RMCA, ao passo que, o RMCA reduz à medida que a lactação se estende. Isto porque vacas do início ao pico de lactação apresentam maior eficiência de utilização de energia comparado a vacas no terço final de lactação.
Pelo lado do produtor, este indicador nos sugere a eficiência na compra e a produção de alimentos. Assim, a compra estratégica de insumos favorece a obtenção de altos valores de RMCA, à medida que, a compra de insumos nas “altas” de preços favorece a redução dos valores de RMCA, mesmo que se tenha boa genética. Em outras palavras, ter boas vacas não é o suficiente para obter lucro, mas sim, o equilíbrio entre o custo alimentar e o potencial produtivo do rebanho.
- Relação entre número de vacas em lactação e o total de vacas (VL/VT), e entre o rebanho total (VL/RT)
Devemos sempre maximizar o número de animais em lactação, já que estes são responsáveis por gerar a receita da propriedade, de modo que, a relação entre VL/VT seja maior que 83% (10 meses em lactação/12 meses de intervalo entre partos) × 100%, e a de VL/RT entre 45-55%, sendo este último de grande importância, pois a redução na porcentagem resulta em maiores despesas, já que animais que não produzem, apenas geram gastos. Estes indicadores estão associados a boas taxas reprodutivas e de criação de novilhas, os quais propiciam maior número de vacas em lactação, próximas ao pico de lactação (maior eficiência de produção).
- Produtividade da mão-de-obra
Um dos maiores gargalos da atividade é a falta de mão de obra, além do seu alto custo, fazer com que o funcionário permaneça na propriedade diante da rotina intensa se tornou um grande desafio, por isso, é imprescindível que seu uso seja otimizado na propriedade. De acordo com EducaPoint (2018), a produtividade ideal por colaborador deve ser pelo menos entre 400 e 500 L/dh.
Bons resultados não chegam sem planejamento, para atingir bons indicadores é necessário o investimento na nutrição, qualidade do leite, sanidade e bem-estar dos animais, visto que esses corroboram em ganhos na produção.
É importante entender o sistema leiteiro como um quebra-cabeça, no qual, a falta de uma peça impede que tenhamos o máximo potencial.
Além disso, é valido ressaltar que investimento não é “custo”, mas sim uma maneira de aumentar a eficiência produtiva por meio da inserção de novas tecnologias e/ou instalações que proporcionem melhor conforto para os animais, de modo a resultar em um maior retorno, desde que, seja bem delineado e executado. Sendo assim, o controle e gestão dos custos, associados a um rebanho saudável e com genética, são a principal forma para não se tornar refém do preço do leite.
Fonte: MilkPoint
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.