O ônus da liderança brasileira no agro

O agro se dividiu entre defesas apaixonadas e ataques ideológicos ou interessados, sempre sob a sombra das eleições de 2022

Ser um país que emerge como líder mundial no agronegócio tem trazido pressão contra o Brasil, como era de se esperar. Ninguém gosta de ser substituído. O campo brasileiro é competitivo e desenvolveu tecnologia própria, o que o fez líder global. Como o carro-chefe da balança comercial nacional, o agro vai se distanciando dos outros países, mesmo com tanto protecionismo e políticas de suporte de muitas nações aos seus agricultores.

Desde de que se tornou um grande exportador de commodities, o Brasil tem lutado, com o esforço de pessoas incríveis, como a Ministra Tereza Cristina, com todo tipo de contestação, denúncias, ações com narrativas falsas ou, se com alguma verdade, fantasiosas e depreciativas.

Se há algo que merece reflexão, nesse mundo comercial e de potenciais pressões externas, é que “o medo pode ter alguma utilidade, mas a covardia não” (Ghandi). É o medo de atitudes imponderadas que faz o país se preparar aos potenciais ataques e é a covardia que o faz recolher-se pelo que pode vir.

Quando um Presidente da República se defende das críticas, que são feitas de forma depreciativa ao seu país, e é chamado de negacionista pelos seus cidadãos, há algo muito estranho nisso: O poder a ser buscado significa depreciar o seu país? A roupa “suja” se lava em inglês ou francês? A quem se pretende atingir?

O olhar de “popa” mostra a devastação das florestas dos países desenvolvidos, mas não se pode culpá-los, pois naquela época não se sabia que isso seria ruim ao planeta. O mundo se desenvolveu com os combustíveis fósseis, mas não se pode condenar isso, pois não se sabia que seria negativo ao clima global.

O olhar de “proa” mostra o mundo buscando redução de emissões, com foco em limitar o desmatamento e o uso dos combustíveis fósseis, o que prejudica os países mais pobres. A COP26 mostrou a reação dos países pobres em conjunto com os produtores combustíveis fósseis e um “pé atrás” dos ricos, propondo uma redução mais lenta no uso dos combustíveis fósseis. Afinal, os preços e a inflação atacam os mais pobres.

O olhar para as regiões brasileiras de baixa renda per capita, como a Amazônia, mostra neste enorme continente verde (geograficamente falando), um mundo injusto com agricultores sem posse de terras e uma lei ambiental que tem o objetivo de manter em pé uma floresta fundamental ao Brasil que produz. A culpa imputada ao país é de ser lento nas medidas de controle ao desmatamento ilegal, às queimadas e na formalização dos documentos que permitam atender o Código Florestal aprovado (CAR/PRA). O tema se tornou um caminho de pressão ao Brasil e ao agro. Sim, ao agro, pois se fala em língua estrangeira que é ele que desmata!

Como tem sido a reação do governo federal e do agro? O governo indica o desejo de realizar, mas lhe falta condições de fazê-lo. O setor privado faz críticas, mas falta atitude de suporte. O agro se dividiu entre defesas apaixonadas e ataques ideológicos ou interessados, sempre sob a sombra das eleições de 2022.

É preciso olhar para o país em na busca de soluções voltadas à geração de emprego e renda, à promoção do desenvolvimento econômico sustentável e competitivo, onde a questão ambiental esteja aliada com a produtividade e qualidade. Há 40 anos o Brasil anda de lado, precisamos buscar o interesse comum, desenvolver um trabalho que tenha sequência para a construção de um futuro melhor.

Quando nos fragilizamos em divisões ideológicas, nos tornamos frágeis. O ônus de liderar não admite essas mazelas, ao contrário, exige decisões nem sempre agradáveis e nunca populistas. A pandemia exigiu o endividamento do Brasil, com crescente déficit fiscal, câmbio desvalorizado e a volta dos juros em ascensão. O coronavírus também levou entes queridos e abalou setores da economia com perdas relevantes.

Por outro lado, a pandemia consagrou o agro como a alavanca do Brasil, mostrando os ganhos de produtividade com sustentabilidade, a agregação de valor e o potencial de atrair capital nessa fase de fluida liquidez global.

É preciso reconhecer o Brasil e conhecer o seu universo produtivo, sua luta e coordenar tudo isso para deixar um legado positivo às novas gerações de brasileiros. Estes, sim, se houver essa atuação, farão loas ao agro que nos uniu.

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